Argélia: manifestação celebra 1 ano do movimento que derrubou ex-presidente
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Há um ano, os argelinos decidiram sair massivamente às ruas, com uma primeira manifestação sem precedentes, que deu origem ao movimento Hirak. Um ano depois, os manifestantes ainda estão lá, mesmo que o Hirak não tenha sido formalmente estruturado e não tenha definido um porta-voz reconhecido pelas autoridades. O desafio argelino falhou em implodir o sistema, mas algumas conquistas são inegáveis.
A primeira exigência dos manifestantes foi a saída do agora ex-presidente Abdelaziz Bouteflika, forçado a renunciar dada a amplitude do movimento social. Naquele momento, talvez, eles obtiveram a sua maior vitória. O ex-presidente renunciou, levando consigo o conceito de presidência vitalícia, implementado desde a independência do país.
Desde então, os manifestantes se tornaram verdadeiros ativistas. O país vive em um turbilhão permanente. O poder foi forçado a uma transição mais longa do que desejava, mas ainda não passou por uma reforma de longo alcance.
O status quo continua a favor de alguns caciques, enquanto outros, anteriormente considerados intocáveis, foram banidos ou presos, rendendo louros ao movimento popular. Cabeças caíram simbolicamente, um fato não menos importante, já que o próprio irmão de Abdelaziz Bouteflika hoje em dia se encontra preso.
O novo presidente eleito, Abdelmadjid Tebboune, também é um produto do sistema que as ruas não querem mais. Embora tenha feito gestos de abertura, como dar entrevistas à imprensa várias vezes, ele reluta em deixar o passado de lado. O confronto está longe de terminar. Os próximos meses serão decisivos para determinar quem entre o movimento Hirak, ou o sistema em vigor, mostrará sinais de desânimo.
A conquista do espaço público
Mas há outra vitória da qual o Hirak pode se vangloriar um ano após o seu nascimento: a de ter permitido que os argelinos retomassem a posse parcial do espaço público, observa a correspondente da RFI em Argel, Leïla Beratto.
Reunir-se aos milhares, dezenas de milhares, centenas de milhares nas ruas de todo o país, parecia impensável para os argelinos um ano atrás. Sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019, assim como as sextas-feiras seguintes, foram marcadas pelos maiores protestos desde a independência da Argélia.
Ao protestar durante todas as semanas por doze meses, os argelinos de todo o país permitiram o que parecia impensável um ano antes: estarem juntos nas ruas para um protesto político contínuo.
Mesmo que o estado de emergência tenha sido extinto, as restrições impostas pelos serviços de segurança eram muito fortes para permitir qualquer assembleia.
Agora, a tolerância das autoridades aos protestos é expressa principalmente nas sexta-feiras. As prisões ainda são frequentes e as forças de segurança tentam toda semana limitar o acesso à capital. Nas províncias, o que os argelinos observam em várias regiões do país é que autoridades e administrações não querem ser apontadas pelos manifestantes, não querem "barulho negativo".
A escala da mobilização e o fato de ela continuar durante um ano fizeram dos argelinos uma espécie de contra-poder, ou, pelo menos, de um elemento que pesa no equilíbrio das escolhas políticas. Marchando pelas ruas, os argelinos foram ouvidos.
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