Contra violência, rappers senegaleses criam hinos para as manifestações no país

"O rap sempre esteve lá para falar sobre os males da sociedade", afirma o rapper Hakill. Dacar, 5 de março de 2021.
"O rap sempre esteve lá para falar sobre os males da sociedade", afirma o rapper Hakill. Dacar, 5 de março de 2021. REUTERS - ZOHRA BENSEMRA

Em um cenário de protestos e violência que já dura dias no Senegal e deixou pelo menos cinco mortos oficiais – 11 de acordo com a oposição –, um grupo de artistas se mobilizou e criou canções e clipes engajados sobre o contexto de conflito social.

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O novo videoclipe do famoso rapper Dip Doundou Guiss, conhecido por ter milhões de visualizações, começa com imagens impressionantes da polícia disparando bombas de gás lacrimogêneo contra os manifestantes e o grito de uma mulher. “A parte mais difícil é ver nossos jovens morrerem”, começa o rapper em wolof, língua falada na África Ocidental, principalmente no Senegal.

“É uma mensagem dirigida diretamente às autoridades e aos jovens”, explica. Tentei denunciar tudo o que está acontecendo atualmente no país. Como artista seguido por jovens, achei necessário levantar minha voz diante dessa situação”, acrescenta Dip Doundou Guiss.

Outro rapper, Hakill, antecipou o lançamento de uma das faixas de seu próximo álbum, para estar presente e conectado ao momento de contestação popular: uma música sobre juventude ociosa, falta de justiça e má governança.

Depois de ter se manifestado recentemente na capital Dacar, ele filmou seu mais recente videoclipe nas ruas cobertas de pedras e bloqueadas por pneus queimados: “os acontecimentos atuais têm uma ligação com a política, mas o verdadeiro significado desta revolta é um descontentamento generalizado! O rap sempre esteve lá para falar sobre os males da sociedade”, destaca.

Outros artistas, como Didier Awadi, do grupo Positive Black Soul, também lançaram recentemente músicas que denunciam as dificuldades da juventude senegalesa.

Estratégia política

Os protestos começaram há dias no país após a prisão do líder da oposição, o deputado Ousmane Sonko, em 3 de março, acusado de estupro. Sonko ficou em terceiro lugar nas eleições presidenciais do Senegal em 2019 e é considerado um dos principais rivais do presidente, Macky Sall, para o pleito de 2024. Ele alega que a acusação seria uma estratégia do governo para afastá-lo da cena política, e apela a seus apoiadores que continuem e intensifiquem as mobilizações.

Sonko foi detido oficialmente por distúrbio à ordem pública quando caminhava, durante uma manifestação, em direção ao tribunal em que havia sido convocado a responder pela acusação de estupro.

“A revolução já está em andamento. Nada e ninguém será capaz de pará-la”, declarou o deputado, logo após obter liberdade condicional. “Esta mobilização tem que ser mantida, tem que ser ainda muito ainda, mas acima de tudo tem que ser pacífica”, enfatizou Sonko.

O presidente senegalês, Macky Sall, pediu “calma e serenidade” a seus compatriotas na noite de segunda-feira (8),  em sua primeira intervenção pública desde o início dos protestos. Em um discurso televisionado, Sall pediu que a justiça “siga seu curso independentemente” no caso de Sonko.

Depois de dias de confrontos e saques desde a detenção do opositor, as autoridades posicionaram veículos blindados em Dacar, capital do Senegal, de u16 milhões de habitantesAs manifestações foram convocadas pelo coletivo Movimento de Defesa da Democracia (M2D), que inclui o partido de Sonko, além de outras formações e organizações.

(Com informações da AFP)

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