Para especialista, a campanha virou uma “guerra de marqueteiros”. Assista ao vídeo
Alfredo Valladão, professor de Universidade Sciences Po (Paris), analisa a campanha eleitoral brasileira. Segundo ele, a eleição é feita hoje por marqueteiros. Tudo é tão formatado e enquadrado, para atender à pluralidade da mídia, que não há espaço para o debate político ou para a expressão da verdadeira personalidade dos candidatos.
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Antigamente o Brasil era a terra do voto de cabresto, do político populista. Imperava o personalismo nas figuras clássicas do deputado baiano, falador e demagogo, do político mineiro, matreiro e manipulador, do malandro federal, carioca ou do paulista do rouba, mas faz. Mas agora o país se modernizou. Ao menos em parte. Nos municípios, nas eleições para vereador ou prefeito de cidades médias ou pequenas, nos grotões, continua tudo como dantes: eleição é feita pelas clientelas locais, as famílias poderosas e, agora, até pelas congregações evangélicas. É o velho populismo personalista de sempre. Quem manda são os caciques, antigos e modernos. Boa parte do Congresso ainda depende destas reminiscências modernas do coronelismo.
Mas quando se trata dos grandes cargos executivos, presidência e governadores, os candidatos precisam de votos de um eleitorado cada vez mais fragmentado, urbano, individualista. No Brasil de hoje, o poder da mídia aumentou e se diversificou. Nas grandes cidades, todo mundo tem acesso não a várias televisões, mas a uma quantidade quase infinita de programas de rádio, internet, blogs, TV a cabo. O pluralismo da mídia é a grande novidade política do país. Só que o velho personalismo em vez de morrer conseguiu dar a volta por cima. Hoje, a eleição é feita pelos marqueteiros. A mídia é plural, mas os candidatos dizem a mesma coisa, da mesma maneira para todo mundo. Tudo é tão formatado e enquadrado, que não deixa nenhum espaço para o debate político ou até para a expressão da personalidade dos pretendentes. E como não existem mais programas políticos dignos deste nome, o debate eleitoral é um jogo de cartas marcadas entre as imagens pessoais de cada candidato montadas pelos marqueteiros. O personalismo à antiga está morrendo (bem devagar é verdade). Viva o personalismo eletrônico, onde o eleitor escolhe não uma pessoa, mas um avatar virtual, que só revela a própria personalidade quando chega ao poder. Às vezes surpreendendo todo mundo, inclusive quem votou nele.
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