Dilma critica desvio do comércio argentino do Brasil para a China
Durante sua participação na 18ª Conferência Industrial Argentina nessa quarta-feira em Los Cardales, na província de Buenos Aires, a presidente brasileira Dilma Rousseff alertou para os riscos do desvio do comércio argentino para a China em detrimento do Brasil. A líder disse que diminuir a integração bilateral entre os países latino-americanos "seria um erro imperdoável".
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Márcio Resende, em Los Cardales, na província de Buenos Aires
No seu discurso diante os principais empresários argentinos e brasileiros presentes no evento em Los Cardales, Dilma Rousseff disse que "não é possível negar o impacto adverso das restrições argentinas ao comércio bilateral". A presidente se referia à postura de Buenos Aires, que tem barrado as exportações brasileiras, abrindo espaço para países de fora do Mercosul, mais especificamente a China. "Não pode haver uma situação de desvio do comércio recíproco em benefício de parceiros extra-regionais. Podemos e devemos ter parceiros extra-regionais, mas não em detrimento do avanço da nossa relação de integração regional", advertiu Dilma sob intensos aplausos dos empresários durante a cerimônia de encerramento da 18ª Conferência Industrial Argentina, cujo tema foi a integração: "Argentina e Brasil: Integração e Desenvolvimento". O evento contou também com a participação da presidente argentina, Cristina Kirchner.
Dilma Rousseff, presidente brasileira
O remédio proposto pela presidente Dilma Rousseff também foi recebido com entusiasmo pelos participantes. “Jamais podemos considerar a possibilidade de menos integração, porque esse seria um erro histórico imperdoável", advertiu. "O equilíbrio nas relações comerciais entre Brasil e Argentina não pode ser obtido com redução das relações e sim com a ampliação do comércio", defendeu a presidente diatne dos empresários.
Só a integração pode fortalecer
A presidente brasileira traçou um balanço do panorama internacional para concluir que só a integração entre Brasil e Argentina pode fortalecer a resistência dos dois países diante de um contexto mundial adverso. "O quadro internacional é o seguinte : recessão na Europa, recuperação lenta nos Estados Unidos, redução do crescimento nos mercados emergentes, redução da demanda internacional convivendo com imenso volume de manufaturas produzidas nos países desenvolvidos e penalização severa das nossas indústrias por conta de uma competição baseada em moedas artificialmente desvalorizadas", relatou Dilma. "Diante desse quadro internacional, se mais razão não existisse a nossa – eu diria única – opção, além de ser a melhor, é buscar mais integração e mais solidariedade entre os dois maiores países deste lado do hemisfério", concluiu a líder brasileira.
Sobre o impacto adverso das restrições argentinas no comércio bilateral somado a uma diminuição da atividade produtiva e de consumo no mundo em geral, a presidente brasileira prevê uma queda do intercâmbio comercial bilateral do recorde de 40 bilhões de dólares em 2011 a 34 bilhões neste ano. A queda de 15% está em sintonia com os efeitos das barreiras argentinas sobre as exportações brasileiras. Embora o estoque acumulado dos investimentos do Brasil na Argentina somem 20 bilhões de dólares, a queda foi de 61% no último ano.
Para superar esse quadro restritivo, a presidente brasileira propôs a integração das cadeias produtivas para fortalecer a indústria, a incorporação de conteúdo local de um país nos produtos do outro, o aumento do crédito e do financiamento do BNDES, a participação argentina nos investimentos para superar gargalos de infra-estrutura no Brasil (ferrovias, rodovias, portos e aeroportos) e a participação argentina com investimentos nas oportunidades geradas tanto pelo Mundial de futebol quanto pelos Jogos Olímpicos e pelo pré-sal.
Segundo o Banco Central do Brasil, as empresas brasileiras investiram quase 1 bilhão de dólares na Argentina em 2011. Nos primeiros oito meses deste ano, o investimento foi de apenas a 300 milhões de dólares.
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