"Brasil não vai afundar", diz cientista político francês
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O processo de impeachment da presidente Dilma Roussef continua sendo destaque na imprensa francesa nesta quarta-feira (20).
O jornal Aujourd'hui en France entrevistou o cientista político Frédéric Louault, especialista no Brasil, da Universidade Livre de Bruxelas. Ele falou sobre a mistura explosiva das crises econômica e política no país.
Segundo ele, a recessão da economia, que levou a uma queda de 3,5% do Produto Interno Bruto no ano passado, é um dos argumentos da oposição para desestabilizar a presidente. Mas, ao mesmo tempo, a ingovernabilidade, que resulta da crise política, contribui para agravar a crise econômica.
O cientista político mostra otimismo quanto ao futuro a curto prazo do Brasil. Para ele, o país é suficientemente estável e poderoso para resistir. Na suas palavras, o Brasil não vai afundar.
Ele afirma ainda que quem suceder Dilma no poder terá, paradoxalmente, uma situação bastante farorável. Vai se beneficiar de uma retomada quase automática do crescimento e poderá contar com o apoio de grandes federações da indústria, que têm interesse total em que o país saia da crise.
PSDB vai tentar tirar proveito da situação
O professor da Universidade Livre de Bruxelas lembra que são os resultados econômicos que levam ao sucesso nas urnas. E é o PSDB, derrotado em várias ocasiões, que vai tentar tirar proveito da situação.
Ele finaliza dizendo que esse é o maior medo da esquerda porque, se a direita assumir o poder no momento de uma retomada econômica, a ela terá muito dificuldade de reconquistá-lo na década seguinte.
Já o jornal Libération entrevistou o cientista político Gaspard Estrada, do Instituto Sciences Po, de Paris, que considera o processo de impeachment uma situação paradoxal.
Segundo ele, o motivo para a destituição da presidente é a acusação de maquiagem das contas públicas, as chamadas pedaladas fiscais, porém na votação da Câmara poucos deputados fizeram alusão ao tema. A maioria invocou Deus e a família no momento do voto.
Sólidas inimizades
Perguntado como Dilma chegou a essa situação, Gaspard Estrada diz que a presidente foi louvada pela opinião pública na metade do primeiro mandato por sua imagem de incorruptível, traduzida na demissão de onze ministros do seu governo. Mas isso lhe valeu sólidas inimizades no seio dos partidos com os quais ela governava. No sistema político brasileiro, diz o especialista, as coalizões são obrigatórias.
Sobre a votação do processo de impeachment no Senado, o cientista político, que é diretor executivo do Observatório Político da América Latina e do Caribe, afirma que, se ela acontecesse hoje, os senadores votariam como os deputados.
Porém, lembra ele, a sessão acontecerá em duas semanas, e as posições são muito voláteis. O presidente do Senado se opõe à destituição. Gaspard Estrada finaliza dizendo que, caso Dilma permaneça no poder, seus enfretamentos com a Câmara dos Deputados se trannsformarão em uma guerra aberta.
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