Catalunha comemora 150 anos do arquiteto Puig i Cadafalch, contemporâneo de Gaudí
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Quando se fala em arquitetura e modernismo catalães, o primeiro nome que vem à mente é Antoni Gaudí, o gênio que criou obras-primas como a Sagrada Família e a La Pedrera. Mas um outro expoente do movimento artístico e arquitetônico, também conhecido como "art nouveau", deixou edifícios importantes na Catalunha, principalmente em Barcelona.
Trata-se de Josep Puig i Cadafalch (1867-1956), cujos 150 anos de nascimento se celebram este ano com uma série de atividades na Catalunha e também em Nova York e Paris, onde deu aulas na Universidade Sorbonne, durante seu exílio da Guerra Civil Espanhola (1936-1939).
O governo catalão destinou € 300 mil para as comemorações, com a realização de exposições, seminários, itinerários e conferências, entre outros. Veja a programação completa no site oficial.
Entre suas obras emblemáticas, que seduzem turistas de todo o mundo que visitam a capital catalã, está a Casa Amatller (1900), que projetou para o empresário Antoni Amatller Costa, dono de uma marca de chocolate que leva seu sobrenome - e que conta com uma loja no térreo. O edifício combina o estilo neogótico com um telhado escalonado, inspirado nas casas holandesas.
Ela fica na mesma quadra de outras obras importantes do modernismo catalão, a Casa Batlló, de Gaudí, e a Casa Lleó Morera, de Lluís Domènech i Montaner, na charmosa avenida Passeig de Gràcia. O local ficou conhecido como “quarteirão da discórdia”, em referência à polêmica sobre qual das três casas, todas do início do século 20, seria a mais bela e inovadora.
É possível realizar uma visita guiada a um dos apartamentos da Casa Amatller, com decoração e mobiliários preservados, para se ter uma ideia de como vivia a alta burguesia catalã do início do século 20. Além disso, o Centro Cultural do Brasil fica situado no edifício.
Outro monumento majestoso de Puig i Cadafalch é a Casa Terradas (1905), mais conhecida como Casa de les Punxes (casa das pontas), que foi transformada em 2016 em um museu dedicado à vida e obra do catalão – e também à lenda de São Jorge, padroeiro da Catalunha.
O edifício, com suas seis torres cônicas neogóticas, ocupa toda uma quadra na avenida Diagonal e foi declarado patrimônio nacional em 1976. A inspiração do arquiteto foram os castelos medievais alemães e a obra do compositor Richard Wagner.
Já no famoso bairro de Montjuïc fica a fábrica Casaramona (1913), atual sede do espaço de exposições CaixaForum, toda em tijolo aparente. O edifício da antiga indústria têxtil é composto por um conjunto de naves, de apenas um andar, o que facilitava o transporte das mercadorias por um sistema de vias internas. O sistema é parecido ao do Hospital Sant Pau, obra de outro grande arquiteto modernista, Lluís Domènech i Montaner.
Nas proximidades, em frente ao Palácio de Montjuïc (Museu Nacional de Arte da Catalunha), as quatro imponentes colunas jônicas são reproduções daquelas construídas por Puig i Cadafalch em 1919 e que foram demolidas durante a ditadura de Primo de Rivera, por seu “simbolismo catalão”. Ele também projetou os palácios Baró de Quadras (1904) e Macaya (1902).
O arquiteto ainda participou de importantes obras de urbanismo em Barcelona, como a abertura da Via Laietana, a urbanização de Montjuïc e a Exposição Universal de 1929.
Como parte da comemoração, foi criado o passaporte Josep Puig i Cadafalch, que pode ser descarregado e impresso gratuitamente no site dos 150 anos. Ele dá direito a descontos durante todo o ano nas visitas aos monumentos em Barcelona, Mataró e Sant Sadurní d’Anoia.
Atividades dos 150 anos
A tradicional Feira Modernista de Barcelona, que acontece de 26 a 28 de maio, é dedicada ao arquiteto. O evento, no bairro do Eixample, contará com diversas atividades culturais e de lazer, como stands de museus e de municípios com patrimônio modernista, palestras, parada de carros da época, itinerários modernistas e e espetáculos.
O ciclo de conferências, batizado de “Um Personagem Multifacetado”, acontece nesta sexta-feira, a partir das 18h, no Palau Macaya, que é obra do arquiteto.
O historiador Jordi Casassas falará sobre o político Puig i Cadalfalch, que foi vereador de Barcelona (1901-1903), deputado (1913-1924) e presidente da Catalunha (1917–1924).
O escritor Santiago Alcolea Blanch tratará dos "artesãos e industriais na oficina do arquiteto", e o historiador Eduard Riu-Barrera analisaeá o lado de arqueólogo e historiador da arte românica de Cadalfach.
Em Paris está programada a jornada “J. Puig i Cadafalch e a Cultura Francesa”, organizada pelo Centro de Estudos Catalães da Universidade Sorbonne e pelo Instituto Ramon Llull, Em Nova York, a Universidade de Harvard promove a conferência “O Curso de Arte Românica de Puig i Cadafalch em Harvard (1924-1925)”.
Em Barcelona, haverá ainda duas mostras dedicadas ao arquiteto no Museu de História da Catalunha e no Arquivo Nacional e a gravação de um documentário para a TV catalã. Em Mataró, sua cidade natal, será realizado um congresso em novembro.
De Mataró para o mundo
Puig i Cadalfahc nasceu em Mataró, no litoral catalão, em 1867. Estudou arquitetura e ciências exatas. Entre 1892 i 1896 foi arquiteto municipal, com destaques para obras como a casa Coll i Regàs ou a sua residência de veraneio em Argentona.
Depois contruiu numerosos casas para a alta burguesia de Barcelona, como as já citatadas Amatller e Terradas.
Foi nomeado doctor honoris causa pelas universidades de Barcelona, Sorbonne, Friburgo, Toulouse e Harvard, onde deu aulas de arquitetura e de história da arte, especialmente românica e gótica.
Foi presidente da Catalunha entre 1917 e 1923, quando impulsionou a educação, criando o Instituto de Educação Geral, a agricultuda, a rede ferroviária e projetos culturais, como a recuperação das excavações arqueológicas de Empúrias. Ele foi destituído pelo o golpe de estado de Primo de Rivera, que revogou ea instituição catalã. Durante a Guerra Civil, entre 1937 e 1942, se exilou na França.
O arquiteto morreu no dia 23 de dezembro de 1956.
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