Nova equipe econômica terá de cortar gastos sem mexer em políticas sociais
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A nova equipe econômica que vai tomar posse no segundo mandato da presidente Dilma Rousseff terá o desafio de cortar gastos públicos sem impactar nas políticas sociais do governo. Joaquim Levy, ex-secretário do Tesouro, deve ser confirmado nos próximos dias para o Ministério da Fazenda, enquanto Nelson Barbosa, ex-secretário-executivo da pasta, deve migrar para o Ministério do Planejamento.
Os nomes indicam o reforço de uma economia mais ortodoxa, portanto mais austera, sem perder de vista o caráter desenvolvimentista da gestão petista. Levy teve passagens pelo Fundo Monetário Internacional, Banco Central Europeu e Banco Interamericano de Desenvolvimento. O provável sucessor de Guido Mantega deu os primeiros passos em Brasília no governo de Fernando Henrique Cardoso, antes de chefiar a Secretaria do Tesouro até 2006, no governo Lula. Atualmente, é o diretor-superintendente do Bradesco Asset Management.
“O Levy tem um perfil técnico muito consolidado. Ele tem uma imagem associada ao controle de gastos, e com isso o governo quer sinalizar que vai dar uma maior ênfase à política fiscal, e particularmente à geração do superávit. Ele é muito focado em controlar gastos, e acredito que ele fará isso”, afirma David Kupfer, coordenador do Grupo de Indústria e Competitividade da UFRJ. “E o deslocamento do Nelson da Fazenda para o Planejamento abre a perspectiva de colocar um economista de excelente formação para potencializar uma atuação mais específica da pasta do Planejamento.”
O professor avalia que, até o momento, a presidente Dilma Rousseff não sinalizou uma mudança na política econômica – apenas demonstrou que está atenta às correções necessárias para que o país retome o crescimento.
“Eu acho que a questão agora é verificar os espaços que existem para que se acomode um gasto público menor sem prejudicar as prioridades do governo. E eu acho que há espaço”, destaca. “Não sei se ele vai ser ocupado adequadamente, afinal não tenho bola de cristal. Mas há algum tipo de ineficácia e de baixa efetividade em certos gastos. Dá para aumentar a produtividade do gasto social.”
Mercados animados
A notícia de que Levy e Barbosa seriam nomeados animou os mercados financeiros, que pressionavam pelo fortalecimento do chamado tripé econômico – inflação dentro da meta, câmbio flexível e gastos sob controle. Marcel Caparoz, economista da RC Consultores, observa que a nova equipe deverá adotar medidas impopulares, mas necessárias para o país não comprometer os avanços sociais conquistados nos últimos anos.
“É muito importante que a economia continue crescendo para o governo poder continuar fazendo redistribuição de renda. A mensagem que o governo está dando é a de que entendeu que existem algumas medidas que precisam ser tomadas, inclusive estruturais”, ressalta Caparoz. “A indicação destes nomes para a equipe econômica sinaliza que ele quer corrigir os problemas.”
João Ricardo Costa Filho, associado da Pezco Microanalysis, também viu com bons olhos os prováveis futuros ministros, inclusive o da senadora Kátia Abreu, árdua defensora do agronegócio, que deve ser nomeada para a Agricultura. Para o analista, os nomes sugerem que a presidente pode dar mais liberdade de ação para a sua equipe, ao contrário do que demonstrou no primeiro mandato.
“Eu acho que essas composições mostram um intervencionismo menor da presidente no segundo mandato. Acho que se ela deixar a equipe monetária mais livre para perseguir os seus objetivos, interferir menos nas decisões da Fazenda e deixar que o novo ministro seja mais autônomo e faça o que tem que fazer, mesmo que essas medidas não sejam tão favoráveis do ponto de vista político, a gente vai ter bons benefícios para colher mais à frente”, diz o consultor de investimentos.
O governo prometeu anunciar oficialmente a nova equipe econômica até quinta-feira (27).
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