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Europeus ainda estão distantes de enfraquecer terrorismo, dizem especialistas

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As revistas semanais francesas analisam os recentes atentados jihadistas na Espanha e na Finlândia para questionar por que os europeus, apesar de todas as medidas de segurança tomadas nos últimos anos, não conseguem enfraquecer o terrorismo.

Muçulmanos se reuniram na praça da Catalunha, em Barcelona, para protestar contra o terrorismo após os atentados que deixaram 15 mortos na região.
Muçulmanos se reuniram na praça da Catalunha, em Barcelona, para protestar contra o terrorismo após os atentados que deixaram 15 mortos na região. Reuters/Sergio Perez
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Em entrevista à revista Le Point, o professor de história medieval do mundo muçulmano Gabriel Martinez-Gros, da Universidade Paris 10 Nanterre, autor do livro "A Fascinação da Jihad" (editora PUF, 2016), vê uma fragilidade política dos governos europeus em definir o fenômeno do jihadismo e o que seriam boas estratégias para combatê-lo. Na avaliação do especialista, o fundamentalismo sunita não se resume ao grupo Estado Islâmico (EI). A derrota dos jihadistas do EI no Iraque e na Síria não será suficiente para erradicar o mal pela raíz. "Claro que é melhor ver o grupo Estado Islâmico derrotado do que vitorioso", diz o professor, mas sua derrota não é decisiva para o jihadismo, acrescenta.

O especialista critica o fato de o Ocidente e a Rússia, "no fundo aliados", terem se apoiado em minorias étnicas e religiosas, como os curdos e xiitas, "abandonando para a propaganda jihadista a definição do sunismo majoritário, que hoje representa 85% dos muçulmanos no mundo". Segundo o autor, o jihadismo continua progredindo porque no coração do mundo sunita – que abrange países como Marrocos, Argélia, Egito, Arábia Saudita, Turquia, Paquistão e Indonésia –, seus adversários têm dificuldades de impor uma outra versão do islamismo, ou até renunciaram, lamenta Martinez-Gros. À exceção dos xiitas, o apoio dos ocidentais às minorias é algo frágil.

Erro de análise e falta de cooperação

O autor cita o caso dos bérberes marroquinos. "No imaginário francês, as pessoas que moram na região montanhosa do Atlas, no Marrocos, seriam menos sensíveis ao radicalismo do que o restante dos marroquinos, mas na realidade engrossaram as fileiras jihadistas", relata.

Outra especialista do mundo árabe, Anne Giudicelli, ouvida pela revista Le Point, afirma que combater o terrorismo inspirado no fundamentalismo islâmico apenas pela ação militar é uma abordagem "caduca e contraprodutiva". Ela defende uma nova relação política dos europeus com os países muçulmanos, independente dos Estados Unidos, "baseada num diálogo responsável, sem cair no paternalismo ou no clientelismo". Recentemente, ela já havia criticado a campanha militar da França no exterior.

A revista L'Obs entrevista o coordenador europeu da luta contra o terrorismo, o belga Gilles de Kerchove. Ele prega uma maior cooperação dos serviços de inteligência e a Europol, mas admite que a tarefa é árdua. "A cultura do segredo da contraespionagem se estendeu ao antiterrorismo. Outro problema é que hoje a luta não é contra o KSB [serviço secreto] russo, mas contra delinquentes de Molenbeek [bairro de Bruxelas onde foram planejados os atentados de Paris]." A ameaça difusa é mais difícil de ser combatida.

O alto funcionário europeu afirma que a Europa não verá tão cedo um serviço de inteligência no modelo do FBI americano. "A comunidade da inteligência ainda resiste a trabalhar com a Europol", conclui.

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