UE vai financiar vacina contra coronavírus: saiba como cada país inova no combate à doença
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Um carro se aproxima de um drive-thru, entra na fila e, quando chega a sua vez, o motorista abre o vidro e a boca. Não para comer um hambúrguer, mas para que recolham uma amostra de muco da garganta para o teste do novo coronavírus. Esta não é uma cena de ficção, é vida real em ação em países da União Europeia.
Correspondente da RFI em Bruxelas
É assim que o Hospital de Gross-Gerau, pequena cidade alemã, próxima a Frankfurt, lida com pessoas que suspeitam ter contraído o vírus, minimizando o risco de exposição da equipe médica e pacientes. O resultado deste teste realizado no carro do paciente chega através de um telefonema em menos de 24 horas.
Enquanto na China os casos de Covid-19 diminuem, a disseminação da doença cresce na Europa. Na terça-feira (10), os líderes europeus concordaram em financiar pesquisadores para desenvolver uma vacina contra o novo coronavírus e adotar ações coordenadas para a aquisição de medicamentos, aparelhos médicos e equipamento de proteção hospitalar. Além disso, os estoques serão inventariados e a capacidade de produção de remédios avaliados a fim de ajudar a preparar os sistemas de saúde do bloco.
Após a videoconferência entre os chefes de Estado e governo da UE, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, anunciou um fundo de investimento de € 25 bilhões para apoiar os sistemas de saúde, empregos e pequenas empresas do bloco. “Iremos usar todos os fundos disponíveis para que a economia na União Europeia resista, seja resiliente e enfrente a tempestade”, ressaltou.
60 milhões de italianos em quarentena
A Itália continua na triste liderança com o maior número de mortes e infectados pelo Covid-19 no bloco europeu. O país inteiro está em quarentena para tentar conter o novo coronavírus que tem sido veloz e feroz em solo italiano. Em menos de 20 dias, mais de 10 mil casos diagnosticados e 631 mortes.
Em uma tentativa para conter estes números dramáticos, o governo italiano impôs restrições rígidas. Toda a Itália, 60 milhões de pessoas, deve ficar em casa. Escolas e universidades estão fechadas, os eventos públicos – museus, cinemas, teatros, shows, jogos esportivos – foram cancelados.
Apesar do caos, há quem acredite que a crise trouxe o melhor das pessoas. “Tem gente fazendo serviço de entrega para os idosos evitando assim que eles saiam de casa, há também crowdfunding – financiamento coletivo – para hospitais em dificuldades”, contou uma estudante italiana.
Governos europeus tentam acalmar população
No resto da Europa, a palavra de ordem é não entrar em pânico mas seguir as instruções básicas de lavar as mãos regularmente e evitar aglomerações. Mesmo assim, não há mais máscaras disponíveis nas farmácias; muitas delas tem listas de espera e nem sabem quando irão receber o produto.
Em Bruxelas, sede da União Europeia, 300 eventos foram cancelados no Parlamento Europeu. A entrada de centenas de visitantes diários nos prédios das instituições europeias foi proibida e permitida apenas para funcionários, que provavelmente devem aderir ao home-office, caso a crise aumente no país. O próprio presidente do legislativo do bloco, David Sassoli se auto impôs um isolamento em casa durante duas semanas após voltar da Itália.
A Espanha registrou mais de 1.600 casos do Covid-19 e 35 mortes. As autoridades das regiões mais afetadas – Madri, País Basco e La Rioja – anunciaram o fechamento de escolas, universidades e creches até o final do mês. Os vôos entre a Espanha e Itália foram suspensos e os jogos de futebol do Campeonato La Liga serão realizados em estádios vazios durante as próximas duas semanas.
Já a França – com 1.784 casos e 33 mortes – proibiu as reuniões com mais de mil pessoas em todo o território nacional. A Maratona de Paris e a partida de rugby Six Nations contra a Irlanda foram adiadas para outubro. Até o momento, há quatro regiões de risco no país: Morbihan, na Bretanha, Haute-Savoie, no leste francês, perto da fronteira suíça, e os departamentos de Oise e Haute-Rhin, no nordeste da França.
O presidente francês, Emmanuel Macron, pediu que a população restrinja visitas a idosos para protegê-los. O governo também divulgou um valor-limite para o preço do álcool em gel. "Estamos apenas no início desta epidemia", afirmou o chefe de Estado, em visita à sede do Samu de Paris na terça-feira (10).
Seguindo os passos dos países vizinhos, a Alemanha que tem mais de 1.200 casos confirmados do novo coronavírus e duas mortes, desincentivou a concentração de mais de mil pessoas colocando a segurança em primeiro lugar. Berlim anulou os espetáculos em todas as óperas, teatros e salas de concerto.
Pela primeira vez na história da Bundesliga, a principal competição de futebol do país, os jogos acontecerão sem a presença de torcedores. O ministro da Saúde alemão, Jens Spahn, afirmou que “restringir a vida pública não é uma decisão fácil. O público faz parte da democracia e deve permanecer desta maneira. Portanto, é preciso ser atento e prudente”.
Coronavírus afeta economia
Além do impacto na vida cotidiana, do medo que leva muitos europeus a estocarem comida, a crise do novo coronavírus começa a afetar economias de alguns países do bloco.
A Itália estima que perderá 32 milhões de turistas nos próximos três meses, equivalente a um rombo de € 5 bilhões. De acordo com a Confesercenti Nazionale, associação que representa as empresas de comércio, turismo e serviços do país, o produto interno bruto (PIB) italiano terá um perda de € 8 bilhões. O governo italiano pediu à Bruxelas um socorro de € 10 bilhões, com moratória para o pagamento de dívidas e hipotecas.
Nesta semana, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) alertou que a epidemia do novo coronavírus está afundando a economia mundial em sua pior recessão desde a crise econômica global, e pediu a governos e bancos centrais que lutem para evitar uma queda mais profunda. Com a ameaça de recessão na zona do euro, o Banco Central Europeu (BCE) deve anunciar medidas importantes na reunião desta quinta-feira (12). Será um batismo de fogo para a presidente do BCE, Christine Lagarde.
Enquanto isso, os governos dos países mais afetados pela crise do coronavírus na Europa tem anunciado pacotes de ajuda, redução de impostos e créditos tributários para evitar falências e desemprego. Além da criação do fundo para mitigar os impactos da epidemia, a União Europeia vai relaxar regras fiscais e regulação sobre ajuda do Estado para facitar os gastos públicos. O que resta saber é quanto tempo vai durar esta epidemia.
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