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Brasileiros buscam superar crise da Covid-19 com novos serviços em Portugal

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Nessa fase de retomada lenta da economia portuguesa, abalada pelo impacto da pandemia do novo coronavírus, empreendedores brasileiros têm lançado novos serviços para dar fôlego às suas empresas.

Assim como os chineses, os brasileiros se destacam no empreendedorismo imigrante em Portugal
Assim como os chineses, os brasileiros se destacam no empreendedorismo imigrante em Portugal © Fotomontagem RFI
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Da correspondente em Lisboa

Fellipe Santiago, que é natural de Barra do Piraí, cidade do estado do Rio de Janeiro, tem uma barbearia em Lisboa há três anos. Antes da crise sanitária, o negócio tinha uma média de 12 clientes por barbeiro, já que a proposta dele nunca foi criar um estabelecimento de alto fluxo. Um corte de cabelo na barbearia de Fellipe dura em torno de 40 minutos.

Fellipe Santiago
Fellipe Santiago © Mariana Neubra

Em março, a pandemia impôs o fechamento temporário do negócio do microempresário. Dois meses depois, com o reinício das atividades autorizado pelo governo português, ele reabriu as portas.

“Quando nós reabrimos, as duas primeiras semanas foram excelentes”, lembra.

O susto

Fellipe e mais dois barbeiros seguiram trabalhando muito. Com rigor, seguiram as regras de limpeza, higienização e funcionamento do espaço estabelecidas pela Direção Geral de Saúde. No entanto, a partir da terceira semana de maio, o número de clientes foi caindo, até que, em junho, aconteceu o que o brasileiro não esperava.

“Eu cheguei a não ter cliente em um dia. Então, foi assim um susto, sabe? Do nada as pessoas sumiram.”

Na avaliação do barbeiro, uma conjugação de fatores pode ter contribuído para a queda do número de clientes. Segundo ele, alguns já haviam cortado o cabelo e cuidado da barba nas duas primeiras semanas de reabertura do estabelecimento. Outros, em razão do aperto financeiro, podem ter decidido “cuidar do que é realmente essencial, que são as nossas necessidades básicas, que é casa, aluguel, comida”. Fellipe aponta, por fim, o medo de contágio, que deve ter afugentado parte da clientela.

Fellipe Santiago, que é natural de Barra do Piraí, cidade do estado do Rio de Janeiro, tem uma barbearia na cidade de Lisboa há três anos.
Fellipe Santiago, que é natural de Barra do Piraí, cidade do estado do Rio de Janeiro, tem uma barbearia na cidade de Lisboa há três anos. © Mariana Neubra

“Apesar das medidas todas que nós tomamos, muita gente ainda tinha um receio de ir ao local.”

Estratégias

No final de maio, o microempresário reagiu: intensificou a estratégia de comunicação com os clientes por meio das redes sociais e mensagens de e-mail. A ideia foi reforçar o compromisso da barbearia para com o cumprimento das orientações das autoridades de saúde portuguesas. “Isso realmente funcionou. Funcionou muito porque a pessoa ganhou confiança”, sublinha.

Fellipe Santiago também lançou novos serviços com preços mais acessíveis, inclusive para atrair clientes mais novos, e deu certo.  

“Nós criamos um serviço para jovens estudantes. Ao invés de pagarem 16 ou 18 euros pelo corte de cabelo, pagam 14 euros. Então, eles estão indo mais vezes, e a gente tem mais clientes mensais", afirma.

Hora da reinvenção

Patrícia Storni tem, há cinco anos, um bistrô vegano em Cascais, uma estância balneária, distante cerca de 30 quilômetros do centro de Lisboa. Por causa da pandemia, ela fechou temporariamente o estabelecimento aos clientes e não demitiu os quatro funcionários graças às medidas de apoio do governo português.

Para começar uma reforma que durou mais tempo do que o previsto, a brasiliense parou os serviços de entrega e take away que havia implementado, mas logo encontrou uma saída para manter o trabalho do bistrô vivo de alguma forma. 

Patrícia Storni
Patrícia Storni © Maitê Storni

“A gente teve que se reinventar, fazer o que nós chamamos de ‘Chef em casa’. As pessoas nos contratam, nós vamos até a cozinha da pessoa e fazemos toda a refeição; acompanhamos ou não o serviço”, conta.

A disposição de continuar a manter o bistrô ativo e conquistar novos clientes nesses tempos de pandemia fez Patrícia pensar em novas estratégias. Há cerca de dois meses, ela criou um projeto focado em experiências – muitas ao ar livre, e todas associadas à comida vegana que ela mesma prepara.

“O passeio de barco, por exemplo, são três profissionais envolvidos: somos nós, por parte da alimentação, o dono do barco e a professora de yoga no stand up paddle. Todas as três partes envolvidas ganham pelo seu serviço”, explica.

Yoga no stand up paddle
Yoga no stand up paddle © Maitê Storni

Para que as atividades do projeto aconteçam, Patrícia tem estabelecido parcerias com pequenos empreendedores e profissionais de outras áreas que se alinham com o conceito de alimentação saudável e bem-estar do bistrô vegano.

“Esse tempo tem sido muito importante para poder pensar novas alternativas de negócio, organizar ideias e lançar novos produtos. E esses produtos vão continuar mesmo depois das portas [do bistrô] abertas”, pontua Patrícia com muito otimismo.

Yoga no stand up paddle
Yoga no stand up paddle © Maitê Storni

Empreendedorismo imigrante

Assim como os chineses, os brasileiros se destacam no empreendedorismo imigrante em Portugal, segundo o Observatório das Migrações. No último censo, realizado em 2011, os brasileiros apareciam como a nacionalidade estrangeira com o maior número de empregadores – pouco mais de sete mil (7.258). 

 

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