Ministro do Interior francês quer "tolerância zero contra o racismo"

Manifestante na Praça da Concórdia, em Paris, em 6 de junho de 2020.
Manifestante na Praça da Concórdia, em Paris, em 6 de junho de 2020. AFP - ANNE-CHRISTINE POUJOULAT

Foi uma resposta da polícia francesa à crescente cobrança da sociedade por um comportamento mais igualitário e sem discriminação pelas forças de ordem. “O racismo não tem lugar na nossa sociedade e menos ainda na polícia republicana”, disse o ministro do Interior francês, Christophe Castaner, em coletiva de imprensa nesta segunda-feira (8).

Publicidade

“Eu ouço esse grito contra o racismo, contra a raiva e todas as discriminações”, disse Castaner. “Porém, nas manifestações, houve casos de degradação, de violência, fruto da ação de uma minoria e que eu condeno”, acrescentou. “Fazer cessar a degradação não é uma violência. Responder a tiros não é violência, é a missão da polícia e isso não pode ser feito apenas com a força das palavras”, completou.

Tolerância zero contra o racismo

Diante do crescente número de manifestações contra o racismo e a violência policial, o ministro do Interior francês disse que “é uma preocupação melhorar a ética da polícia” e exigiu “tolerância zero” contra o racismo nas forças de ordem. “Não há instituição racista ou violência direcionada”, afirmou Christophe Castaner.

“Nossa polícia é a imagem da França, nem mais e nem menos”, comparou. “Reúne todas as origens e todos os percursos”, acrescentou o ministro. “Quando portamos o uniforme azul da lei, não estamos jamais acima dela. Mais do que outros, devemos ser exemplares”, afirmou Castaner.

Com o slogan "justiça para todos", os comícios antirracistas organizados em várias cidades francesas prestaram homenagem aos afro-americanos mortos nas mãos da polícia nos Estados Unidos. Eles também criticaram o "racismo" e a "impunidade" que reinam nas corporações policiais na França.

Na terça-feira (2), milhares de pessoas se reuniram em frente ao Tribunal de Paris contra a violência policial. Os manifestantes foram convocados pelo comitê de apoio à família de Adama Traoré, um negro de 24 anos que morreu após ser preso, em 2016. Os protestos atuais, nos Estados Unidos, relançaram o debate sobre a violência policial e racista também na França.

Fim do método de interpelação por “estrangulamento”.

O ministro do Interior francês também decidiu "enviar uma instrução a todos os serviços policiais a fim de reforçar as regras dos controles de identidade”. O método de interpelação controverso dito “estrangulamento” foi abandonado. Conforme explicou o ministro, a técnica pode trazer algum perigo. Também será proibido o policial se apoiar sobre a nuca de uma pessoa detida. “Peço, também, que o uso de câmeras seja reforçado durante essas verificações”, completou Castaner.

O Ministro do Interior ainda pediu que uma suspensão seja sistematicamente avaliada "a cada suspeita comprovada de atos ou discursos racistas”. Christophe Castaner destacou, também, a necessidade de realização de processos disciplinares administrativos em paralelo aos processos penais.

Sindicatos de policiais da França reagiram ao pronunciamento do ministro do Interior. Frédéric Lagache, delegado nacional do sindicato Guardiões da Paz (Alliance), alertou que em certas situações, o "estrangulamento" é "a única técnica que permite aos agentes imobilizar um indivíduo com peso superior".   

"Há os anúncios políticos e a realidade do terreno", reagiu Yves Lefebvre, secretário-geral do Sindicato Unidade - SGP -Polícia. "Parece que vivemos num mundo de fantasia, onde todo mundo é gentil e os policiais são os maus", comparou Philippe Capon, secretário-geral da Unsa Polícia. 

法国内政部长宣布废除攻击脖颈部位的警察执法方式
法国内政部长宣布废除攻击脖颈部位的警察执法方式 © AP - Isa Harsin摄影

Protestos pela França

Os anúncios acontecem poucos dias depois que uma grande manifestação, desafiando ordens das autoridades sanitárias, reuniu mais de 23.000 pessoas na França, no sábado (6). Novas revelações sobre palavras racistas proferidas por policiais franceses no Facebook ou WhatsApp inflamaram as redes sociais nos últimos dias.

“Afirmações racistas foram feitas, a discriminação foi revelada e isso é inaceitável”, disse Castaner, lembrando que a luta contra o racismo faz parte da formação dos policiais franceses. “Profissionais racistas não podem portar a farda francesa”, disse.

“A polícia francesa não é a polícia americana”, frisou Castaner. “Nós não vamos parar de defender a honra das forças de ordem. Não aceitaremos acusações permanentes de uma minoria, porém barulhenta, da população”. O ministro ainda respondeu às críticas de que as forças de ordem não são sancionadas. “Não é verdade que policiais não são punidos”, disse Christophe Castaner.

Novos comícios e tributos para saudar a memória de George Floyd estão planejados em várias cidades da França nesta terça-feira (9), na hora do seu funeral em Houston, no Texas, Estados Unidos.

Em Paris, a Praça da República deve acolher aqueles que desejam prestar homenagem ao afro-americano, de 46 anos, morto em 25 de maio em Minneapolis por um policial branco. Outros atos estão previstos em cidades como Lille, Grenoble, Dijon, Amiens e Angers.

 

NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.

Acompanhe todas as notícias internacionais baixando o aplicativo da RFI