"A França é responsável por muitas injustiças, mas não é um Estado racista", diz o jornal Libération
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Os jornais franceses desta terça-feira (9) analisam as medidas anunciadas ontem pelo ministro do Interior, Chistophe Castaner. Ele prometeu tolerância zero em relação ao racismo na polícia francesa e proibiu a técnica de estrangulamento nas detenções.
Para o Le Monde, o tom do governo mudou devido à pressão popular vista nos últimos dias. "O movimento internacional contra o racismo Black Lives Matter (Vidas Negras Importam, em português) provocou uma guinada no discurso oficial", avalia. Apesar de considerar as medidas positivas, o Le Monde viu uma certa precipitação nos anúncios do governo e reafirma que o contexto de discriminações na França é diferente do americano.
A indignação gerada pelo assassinato de George Floyd nos Estados Unidos tem grande repercussão na França. Negros e árabes denunciam há vários anos discriminações, insultos racistas frequentes da parte de alguns policiais e, sobretudo, a impunidade em vários casos em que membros dessas minorias morreram em decorrência da brutalidade de agentes, em banais controles de identidade.
Em seu editorial, o jornal Libération critica a ausência de questionamento na fala do ministro sobre os controles de identidade que são feitos de acordo com a aparência física dos suspeitos. O jornal considera positiva a proibição da técnica do estrangulamento, anunciada por Castaner, mas lembra que os policiais franceses continuam autorizados a recorrer à técnica do decúbito ventral, que provocou em janeiro passado a morte de um pai de família, Cédric Chouviat, de 42 anos, em uma blitz de trânsito em frente à Torre Eiffel.
"Ouvimos boas promessas, mas agora faltam os atos", resume o jornal. No texto, o Libération questiona se haveria um "racismo de Estado" na França, como algumas pessoas assinalaram nos últimos dias. Mas considera essa fórmula "sumária, confusa e ofensiva para milhares de funcionários públicos, incluindo policiais, que lutam contra o preconceito racial, os abusos de poder e as discriminações".
Na avaliação do diário, a França é responsável por muitas injustiças, "mas não é os Estados Unidos", o que não impede uma profunda reflexão sobre o mal-estar presente na sociedade. Os protestos dos últimos dias reuniram milhares de pessoas nas ruas porque foram constatados excessos tanto na repressão ao movimento dos coletes amarelos quanto em manifestações sindicais contra reformas que reduziram os direitos trabalhistas.
O fato de o presidente Emmanuel Macron não ter se manifestado publicamente sobre os protestos e a morte de Floyd, como fizeram a chanceler alemã, Angela Merkel, e o premiê canadense, Justin Trudeau, vem sendo criticado há vários dias. O jornal Le Parisien acredita que Macron irá falar sobre o assunto e estaria apenas evitando criar um novo atrito com Donald Trump.
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