Polêmico jornalista de extrema direita oficializa candidatura a presidente para “salvar” a França

É o fim de um falso suspense. Depois de meses de uma pré-campanha polêmica baseada em temas sobre imigração e identidade nacional, Éric Zemmour finalmente oficializou nesta terça-feira (30) sua candidatura à eleição presidencial francesa de 2022. O ex-jornalista televisivo de extrema direita lançou sua campanha em um vídeo divulgado nas redes sociais, dizendo que quer “salvar a França”.

O ex-jornalista de extrema direita, Éric Zemmour, oficializou sua candidatura em um vídeo publicado em seu canal Youtube nesta terça-feira, 30 de novembro de 2021.
O ex-jornalista de extrema direita, Éric Zemmour, oficializou sua candidatura em um vídeo publicado em seu canal Youtube nesta terça-feira, 30 de novembro de 2021. © Capture d'écran / Chaîne Youtube d'Éric Zemmour
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Com informações de Julien Chavanne da RFI

Éric Zemmour, que é um defensor incansável do Marechal Pétain, líder do regime de Vichy que colaborou com os nazistas, se inspirou no General de Gaulle para fazer o vídeo de lançamento de sua candidatura. Sentado em uma biblioteca e ao som da Sinfonia N°7 de Beethoven, o jornalista de extrema direita, de 63 anos, descreve um país que ele não reconhece mais, em decadência, vítima da delinquência e da imigração, da tirania da mídia e dos sociólogos… Ele quer resgatar a França do TGV (trem bala) e do Concorde, dos cavalheiros e de Brigitte Bardot.

O vídeo, de uma duração de dez minutos, navega entre catastrofismo e nostalgia, e é ilustrado com imagens alternadas de violência urbana e clichês da época de grande crescimento da França no pós-guerra, conhecida como os "30 anos gloriosos". Zemmour martela que ele é o único capaz de salvar o país. “Compreendi que nenhum político pode salvar a França do destino trágico que a espera. Compreendi que todos os ditos competentes são sobretudo impotentes”, afirma o polemista.

“Não é mais hora de reformar o país e sim de salvá-lo, por isso resolvi ser candidato”, ressalta.

Primeiro teste

O verdadeiro primeiro teste do agora oficialmente candidato Zemmour acontece na noite desta segunda-feira. O ex-jornalista será entrevistado no jornal nacional das 20h do canal francês TF1, que é uma passagem tradicional e incontornável para todos os pretendentes ao Palácio do Eliseu. Esta será a primeira vez que ele irá se dirigir a todos os franceses e não somente a seus partidários.

Seu primeiro comício eleitoral acontecerá no domingo (5) na sala de espetáculos Zénith de Paris. Grupos antifascistas e de esquerda já convocaram um protesto para "calar Zemmour".

Com base em provocações, com suas críticas virulentas ao Islã, à imigração e ao que considera politicamente correto, Zemmour se tornou um rosto conhecido no panorama midiático desde os anos 2000, impulsionado pelo canal CNews do milionário francês Vincent Bolloré.

Suas propostas mais radicais provocaram indignação da classe política, mas isso não impediu que os temas que aborda influenciassem o debate político, alterando o discurso de candidatos da direita e extrema-direita. Ele avançou nas pesquisas, que chegaram a indicar sua presença no segundo turno no lugar da tradicional candidata da extrema direita, Marine Le Pen.

Nova etapa

Mas a popularidade de Zemmour parece ter atingido um limite e depois dele ter se envolvido em várias polêmicas, começou a cair nas intenções de voto. Com a oficialização de sua candidatura, a equipe do polemista espera abrir uma nova etapa da campanha.

A pesquisa mais recente o mostra em terceiro lugar, atrás do presidente Emmanuel Macron e de Le Pen, mas em boa posição para ainda ameaçar os adversários.

Novato em política, Zemmour, que vem de uma modesta família judaica de origem argelina, precisa agora buscar apoios políticos e econômicos. Condenado duas vezes por discursos de ódio contra árabes, negros e muçulmanos, depoimentos de mulheres compilados pelo site Mediapart também o acusam de agressão sexual, embora nenhuma denúncia formal contra ele tenha sido apresentada. Ele já foi diversas vezes comparado ao presidente brasileiro Jair Bolsonaro e ao ex-presidente norte-americano Donald Trump.

No início da noite desta terça-feira, vários veículos de comunicação franceses protestaram contra a utilização, sem autorização, de seus conteúdos no vídeo de lançamento de campanha de Éric Zemmour, entre eles o canal de televisão France 24.

Em um comunicado, o FMM (France Média Monde), grupo do qual faz parte a emissora e também a RFI, escreveu que “descobriu com estupefação a utilização sem autorização de imagens difundidas pelo canal no clip de Zemmour. France 24 se opõe, por princípio, à utilização de suas imagens e de sua logomarca em vídeos de qualquer campanha política.” O FMM informa que vai pedir “a retirada imediata das imagens do clip”. Se o pedido não for acatado, o grupo “irá estudar os recursos legais possíveis”.

Esta matéria foi atualizada às 20h, pelo horário de Paris (16h, em Brasília).

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