França/Escândalo

Uso de serviço secreto para fins políticos não é novidade, diz 'Le Monde'

Polícia francesa admite que fez uma "verificação técnica" para identificar a fonte do jornal que passou informações sobre o caso Woerth-Bettencourt. Le Monde afirma que, pela primeira vez, o uso do serviço secreto é feito de forma escancarada.

O jornalista do 'Le Monde' Gérard Davet, autor da reportagem que provocou a investigação da polícia francesa.
O jornalista do 'Le Monde' Gérard Davet, autor da reportagem que provocou a investigação da polícia francesa. AFP / PIERRE VERDY
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A França já tem o seu escândalo "Watergate", só que aqui a variante é "Woerthgate", em referência ao nome do ministro do Trabalho, Eric Woerth. O jornal Le Monde acusa a presidência francesa de mandar o serviço secreto espionar o jornal. O objetivo era identificar o informante que passou dados confidenciais que comprometem o ministro do Trabalho no escândalo de fraude fiscal da milionária Liliane Bettencourt, herdeira do grupo L'Oréal.

A direção da Polícia Nacional da França afirma que o serviço de contra-espionagem, conhecido como "FBI à francesa", agiu de acordo com sua missão de proteger a segurança das instituições do país.

No mesmo comunicado, o diretor da polícia, Frédéric Péchenard, explicou que o alto funcionário do Ministério da Justiça foi identificado como a fonte de informação do jornal após uma "verificação técnica".

O governo garante que não foi feita escuta telefônica. Já o Le Monde, citando fontes próximas ao dossiê, diz que a tal "verificação técnica", na verdade, é um grampo no celular do funcionário do ministério que fez diversas chamadas para a imprensa.

O jornal francês entrou na Justiça para investigar uma suposta violação do segredo das fontes dos jornalistas, prática garantida por lei. Le Monde pergunta: "Um chefe de Estado pode usar os serviços secretos para investigar um tema que diz mais respeito ao seu partido político do que aos interesses do país?".

"O uso de serviço secreto para fins políticos não é novidade na França", afirma Le Monde, lembrando o uso abusivo pelo ex-presidente socialista François Mitterand. "Mas, pela primeira vez, é feito de maneira escancarada, ou quase", escreve o jornal.

Segundo Le Monde, Nicolas Sarkozy promove uma ruptura ao assumir o uso destes serviços por razões mais políticas do que em defesa do Estado. "O caso Woerth-Bettencourt, um escândalo de fraude fiscal e tráfico de influência que envolve o ministro do Trabalho e a herdeira do grupo L'Oréal, não é considerado uma ameaça para a segurança da França nem uma ingerência externa contra o país", afirma o jornal.
 

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