Morre Michel Rocard, ícone da esquerda reformista francesa
Publicado em: Modificado em:
A esquerda francesa perde um dos seus nomes mais respeitados. O ex-primeiro-ministro socialista Michel Rocard, de 85 anos, morreu neste sábado (2) em Paris, em decorrência de um câncer. Rocard é teórico da linha que ficou conhecida como segunda esquerda, que assume as mudanças provocadas pela globalização mas não renuncia aos avanços sociais e à redistribuição de renda.
De 1988 a 1991, Rocard chefiou o governo do ex-presidente François Mitterrand, com quem sempre teve uma relação conflituosa. Uma das figuras da modernização da esquerda, ele entrou para a história pelas reformas e medidas marcantes que promoveu, como a instauração de uma renda mínima para os franceses de baixa renda, o RMI. Rocard também foi secretário-geral do Partido Socialista francês, de 1993 a 1994. Sem papas na língua, foi por muito tempo o político mais popular da França.
Homenagens
Logo após o anúncio da morte, feito pelo filho astrofísico, Francis Rocard, o presidente francês, François Hollande, homenageou aquele que representa uma fonte de inspiração para o atual governo francês. “Foi uma grande figura da República e da esquerda”, declarou Hollande. "Ele encarnava um socialismo que conciliava a utopia e a modernidade."
O primeiro-ministro, Manuel Valls, era um admirador ainda maior de Rocard, de quem foi discípulo. “Ele encarnava a modernização da esquerda e a exigência de dizermos certas verdades”, comentou o premiê.
Esquerda “retrógrada”
Em uma entrevista recente, publicada na revista semanal Le Point, Rocard dizia que “a esquerda francesa é a mais retrógrada da Europa”. Ele argumentava que “os direitos dos cidadãos não se resumem a conquistas sociais” e que “o verdadeiro socialismo é providenciar acesso das atividades para todos”.
Filho de uma mãe protestante e um pai católico – um dos cientistas que inventaram a bomba atômica francesa -, o ex-premiê vem de uma família de classe média alta de Courbevoie, na periferia de Paris. Rocard formou-se em Letras, depois passou pelo Centro de Estudos Econômicos da Sciences Po, de Paris, e finalizou os estudos na prestigiosa Escola Nacional de Administração (ENA), uma instituição quase obrigatória para os políticos franceses, onde foi colega do futuro presidente Jacques Chirac.
Uma frustração: nunca ter sido presidente
O palácio do Eliseu foi um sonho jamais concretizado por Rocard. A candidatura só ocorreu uma vez, no início da carreira, em 1969. Nos anos seguintes, suas diversas tentativas de representar o PS nas eleições fracassaram.
Por outro lado, ele teve sucessivos mandatos de deputado, na França e no Parlamento Europeu, foi senador e várias vezes ministro. Rocard pode não ter ocupado o cargo máximo da política francesa, mas deixa uma herança garantida aos socialistas que brigam para levar a esquerda francesa rumo a uma linha social-democrata.
Micgel Rocard estava internado no hospital parisiense de Pitié-Salpetrière e deixa quatro filhos, de três casamentos.
Com informações da AFP
NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.
Me registro