“A Europa em crise balança entre mais integração ou mais fragmentação. A tentação de renacionalizar uma série de políticas comuns da União Europeia são sinais alarmantes de desagregação. Só que todo mundo está perfeitamente consciente de que o preço de uma implosão do bloco regional seria exorbitante para todos. Daí essa corrida contra o relógio para dar um salto em direção de mais federalismo e de uma forma de política financeira e econômica comum. O paradoxo é que essa tentativa para salvar a União Europeia também está alimentando os nacionalismos locais e a fragmentação dos próprios Estados membros.Na Catalunha, uma maioria de eleitores acaba de votar nos partidos locais que clamam pela soberania da região, poucas semanas depois de uma imensa manifestação popular a favor da independência. O perigo para a unidade espanhola é que o exemplo catalão seja seguido pelo País Basco, onde a reivindicação nacionalista esteve sempre muito presente – sem falar no aparecimento de novos nacionalismos, ainda pequenos mas crescendo, em Valência ou na Galícia.Essa nova crise espanhola vem atrás da decisão do governo local da Escócia de lançar um referendo sobre a independência da região, transformando o Reino da Rainha Elisabeth em ex-Reino Unido. Na Bélgica, foi o líder independentista flamengo que ganhou as últimas eleições em Antuérpia com um apelo à soberania dos Flandres. Hoje, ninguém sabe quanto tempo o reino do rei Alberto II ainda vai poder evitar a divisão entre flamengos e valões. Na Itália, a Liga do Norte conseguiu se transformar em partido de governo durante anos pedindo a independência do norte rico do país contra o sul pobre. E até inventou um nome para o futuro Estado: a Padânia. Ninguém esquece também os horrores das guerras nacionalistas que destruíram a Iugoslávia e o “divórcio de veludo” entre a República Tcheca e a Eslováquia antes da entrada das duas regiões na União Europeia como Estados soberanos.Estes nacionalismos regionais têm uma coisa em comum: eles nascem nas regiões mais ricas – ou mais bem dotadas em recursos naturais como é o caso da Escócia. A violência da crise vem exacerbando o sentimento de que são elas que trabalham e que mais contribuem para a riqueza nacional enquanto as outras regiões só querem viver de assistencialismo à custa dos contribuintes mais ricos.” Ouça a crônica de política internacional de Alfredo Valladão.
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