Espetáculos em Avignon abordam o excesso de imagens digitais no nosso cotidiano
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O teatro e a dança contemporânea ganharam uma nova energia com as novas tecnologias, mas algumas criações assinalam o excesso de informações visuais no nosso cotidiano. Dois espetáculos no Festival de Avignon esse ano fazem uma crítica à “overdose” de internet e de imagens digitais em nossas vidas.
No espetáculo No World, o grupo nova-iorquino Winter Family, formado por três performers - uma israelense, um francês e uma inglesa - mergulha os espectadores num delírio virtual, com Steve Jobs no papel de Deus, com seus novos aplicativos propondo beleza, amor, democracia e alegria. Uma maneira lúdica de mostrar como nossas mentes estão saturadas pelo virtual.
Concebido pela coreógrafa israelense Ruth Rosenthal, o espetáculo é interpretado por ela, pelo breakdancer francês Mamadou Gassama e pela bailarina inglesa Johanna Allitt. No World é chamado pelo grupo de “Teatro Documentário” e, através de movimentos, imagens e sons alucinantes, traça um panorama crítico do mundo permanentemente conectado e pretensamente multicultural.
Banalização da intimidade nas redes
Pela primeira vez em Avignon, um grupo de teatro vindo da Estônia participa do festival e é uma das revelações do evento, trazendo uma peça cujo titulo é bem sugestivo: em tradução livre, “Minha mulher teve um ataque e apagou todas as fotos de nossas férias”.
A peça é tragicômica: o protagonista tenta reconstituir, com desconhecidos numa ilha paradisíaca, suas fotos de férias apagadas pela mulher que o abandonou.
O grupo Teater Numero 99 se inspirou no excesso de informações visuais em nosso cotidiano e na “banalização de nossa intimidade” nas fotos postadas nas redes sociais.
Ene-Liis Semper e Tiit Ojasoo, dois jovens estonianos com menos de 35 anos, já bem conhecidos no seu país, se inspiraram no acúmulo de imagens digitais em nossos computadores, smartphones, tablets e máquinas fotográficas. E, na essência, as fotos digitais de férias, festas ou eventos se parecem muito entre elas.
A proposta do grupo foi abordar o medo da perda do “cartão de memória” de nossas vidas, com consequências irremediáveis. A peça fala das imagens que nós colecionamos sem arquivar, das imagens que nossa própria memória acumula e da imagem de nós mesmos que nós procuramos transmitir aos outros nas redes sociais.
O espetáculo é uma das boas surpresas do festival.
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