Pelo menos 164 ativistas ambientais foram assassinados em 2018, afirma Global Witness
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Pelo menos 164 ativistas que lutam contra atividades mineradoras, agroindustriais e de exploração ambiental foram mortos em 2018, afirma o relatório anual da ONG Global Witness, divulgado nesta terça-feira (30). De acordo com o documento, inúmeros outros ativistas foram silenciados em todo o mundo pela violência, intimidação ou uso indevido de leis antiprotesto.
As Filipinas foram o país mais perigoso do mundo no ano passado para ativistas e líderes indígenas que defenderam suas terras, registrando 30 assassinatos. A Colômbia e a Índia contaram 24 e 23 mortos no mesmo período. Com 16 assassinatos confirmados, a Guatemala é o país com mais mortes em comparação ao número de habitantes.
Brasil
No Brasil, pelo menos oito militantes envolvidos em disputas de terra com representantes da indústria da soja foram mortos em 2018 no Pará, de acordo com o relatório. Ao todo, o Brasil registrou ao menos 20 assassinatos de ativistas ambientais e dos direitos humanos em 2018. São casos como a recente morte do cacique Emyra Waiãpi, no Amapá, que são registrados nas estatísticas da ONG.
O país, no entanto, apresentou redução de casos em comparação a 2017, quando registrou 57 assassinatos. E é a primeira vez, desde o início da elaboração do relatório, em 2002, que o Brasil não figura no topo do ranking dos países mais mortíferos.
"Este é um fenômeno que pode ser observado em todo o mundo: ambientalistas e defensores da terra, muitos deles representantes dos povos indígenas, são considerados terroristas, bandidos ou criminosos por defenderem seus direitos", denunciou no relatório a relatora especial da ONU para os Direitos dos Povos Indígenas, Vicky Tauli-Corpuz.
"Essa violência representa uma crise para os direitos humanos, mas também uma ameaça para todos aqueles que dependem de um clima estável", acrescentou.
2018 menos violento
Os dados apontam que o número de mortes caiu em relação a 2017, o ano mais mortífero registrado pelo relatório, com 207 assassinatos. Mas a Global Witness observa que esse resultado pode ser subestimado, visto que muitos casos ocorrem em lugares remotos, de controle mais difícil.
O episódio mais mortal relatado pela ONG em 2018 ocorreu no estado de Tamil Nadu, no sul da Índia, em que 13 pessoas foram mortas após uma manifestação contra a instalação de uma mina de cobre na região.
Nas Filipinas, que assumiram o lugar do Brasil como o país mais mortífero do mundo, nove produtores de cana-de-açúcar, incluindo mulheres e crianças, foram mortos a tiros por homens armados na ilha de Negros, diz a Global Witness. Uma testemunha acrescentou que o advogado que representava as famílias das vítimas foi morto alguns dias depois.
Enquanto o Painel do Clima da ONU deve publicar, na próxima semana, um relatório sobre o uso da terra, o que deve destacar a importância dos povos indígenas na proteção da natureza, a ONG também denuncia uma "tendência preocupante" à intimidação e ao aprisionamento de ambientalistas.
Investidores são denunciados
O relatório ainda denuncia o papel dos investidores, incluindo bancos de desenvolvimento, em projetos polêmicos, além dos nomes de algumas empresas acusadas de facilitarem violações de direitos.
"Não é suficiente para as multinacionais vinculadas a confiscos de terras alegarem ignorância", ela enfatiza. "Estas empresas têm a responsabilidade de garantir preventivamente que a terra da qual são beneficiadas tenha sido legalmente alugada, com o consentimento das comunidades que vivem lá há gerações".
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