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Professor brasileiro de futebol na China conta volta à rotina depois da quarentena em Hubei

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Depois de pouco mais de dois meses que se arrastaram para quem estava isolado em quarentena, a China começou a suspender as restrições que mantiveram fechadas regiões inteiras do país para conter o avanço da contaminação pelo novo coronavírus.

Marcelo Alves vive na China há três anos e é professor de educação física e treinador de futebol
Marcelo Alves vive na China há três anos e é professor de educação física e treinador de futebol © Arquivo Pessoal
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No último dia 25 de março, assim que Qianjiang foi reaberta, o brasileiro Marcelo Alves Vasconcelos aproveitou para correr pela cidade, agora sem as barreiras de alumínio que impediam o acesso a ruas e bairros inteiros.

Ele é professor de educação física e treinador de futebol em uma escola na cidade que está a apenas 200 quilômetros — ou uma hora de trem rápido — de Wuhan, o epicentro da pandemia global, onde tudo começou, que só foi reaberta dias depois de Qianjiang.

As idas aos supermercados ganharam outra dimensão para Marcelo, que agora compra pelo tempo que quiser, na hora que quiser, sem complicação de filas ou checkpoints.

"Aqui só ficaram abertos os mercados e as quitandas de frutas. E o horário era de dez da manhã às três da tarde", diz.

Os restaurantes também estão começando a reabrir as portas. Mas o brasileiro ainda não se aventurou, pois os seus preferidos ainda estão fechados.

Durante a quarentena, Marcelo dedicou seu tempo a si próprio, coisa que já não fazia há muito. Usou o que costuma ensinar aos outros para investir no seu condicionamento e na sua saúde.

"Do dia 23 de Janeiro até agora, lá se foram 12 quilos. Eu consegui mais tempo para cuidar de mim nesse período.Eu tive histórico de atleta. Eu fui corredor. Mas eu corria um volume debaixo nos últimos tempos. Eu sou professor de educação física e trabalho com futebol", lembra.

Contato com alunos à distância

Agora Marcelo consegue correr todos os dias da semana, inclusive aos sábados e domingos, quando se lança em trajetos de até 15 quilômetros. Foi a maneira de manter a sanidade durante o confinamento.

A escola suspendeu as aulas. E o contato com seus alunos de futebol, meninas e meninos, restringiu-se ao grupo de Wechat.

Sem poder usar transporte público, caminhava ou ia de bicicleta até o supermercado. Mas as distâncias eram curtas em função das inúmeras barreiras de controle de temperatura corporal.

Como mora em um condomínio, onde está a escola em que trabalha, Marcelo conseguia sair mais do que as três vezes por semana permitidas pelas autoridades. Corria na pista da escola. Marcelo passou também a viver mais no fuso brasileiro, concentrando-se na assessoria online que oferece para corredores no Brasil.

 

Filho do ex-boxeador Deosdete Alves de Vasconcelos, que representou o Brasil nas Olimpíadas de Munique, em 1972, Marcelo sempre se dedicou ao esporte. Ele vive na China há três anos e meio e deve se mudar para outra cidade chinesa em breve. Está em negociações, mas teme o preconceito.

Nesse momento, na China, os novos casos de coronavírus vêm de fora, trazidos por estrangeiros ou chineses que estavam em viagem. E ele sabe que, quem sai da província de Hubei, onde mora, vizinha de Wuhan, hoje também é visto com certa má vontade após a pandemia.

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