A Semana na Imprensa

Giorgia Meloni: a cara da extrema direita da Itália que amedronta a Europa

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"Sinto muito, me deixei levar", desabafa Giorgia Meloni, 45, em um discurso na Sicília, no Sul da península italiana, depois de alguns minutos de virulentos ataques contra a esquerda. "Eu tento ser mais composta e calma, mas de vez em quando, vocês sabem, eu sou de Garbatella [bairro pobre de Roma] e isso acaba acontecendo”, justifica a política, que de pura e recatada não parece ter nada, segundo contam as edições deste fim de semana das revistas francesas L’Express e L’Obs.

Giorgia Meloni, líder do partido Fratelli, de extrema-direita da Itália, faz uma selfie durante um comício na praça Duomo, antes das eleições de 25 de setembro, em Milão, Itália, em 11 de setembro de 2022.
Giorgia Meloni, líder do partido Fratelli, de extrema-direita da Itália, faz uma selfie durante um comício na praça Duomo, antes das eleições de 25 de setembro, em Milão, Itália, em 11 de setembro de 2022. REUTERS - FLAVIO LO SCALZO
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Ela encarna a nova extrema direita italiana, orgulhosa de admirar Mussolini e de sua herança neofascista com o aliado de Hitler nos anos 1940, o que não parece incomodar em nada o seu público, como escreve a revista L’Express nas bancas desta semana na França: “Marco Celano e Giuliana Vergata estão na casa dos 20 anos, acabam de voltar de sua lua-de-mel e vão votar em Meloni (‘Ela não muda suas ideias, quando muitos ainda vacilam’). Nino Scarantino, 66 anos, renuncia pela primeira vez à centro-direita de Silvio Berlusconi (‘Giorgia também é a direita moderada’)”.

Com a manchete de capa "A italiana que amedronta a Europa", L'Express apresenta um perfil da mulher - "mãe, católica e antiaborto" - que poderá governar a famosa "Bota". A revista ressalta que "se as pesquisas de opinião estiverem corretas, Giorgia Meloni deve receber a tarefa de formar um governo no final de setembro e, conseqüentemente, a possibilidade de assumir a chefia de governo. Ela seria a primeira mulher a ocupar esta posição central na Itália, mas também a primeira da extrema direita".

Entre a centro-direita "bunga-bunga" de Berlusconi e os arautos anti-imigrantes e ultraconservadores, Meloni arrebata, em meio a selfies e discursos, boa parte dos votos dos italianos nesta temporada. Em 25 de setembro, a presidente do partido Fratelli d'Italia (FDI) pode chegar em primeiro lugar nas eleições e ser chamada para governar a península.

Para chegar ao poder, vale tudo, como reporta o L'Obs, até usar um vídeo de um estupro em suas redes sociais a fim de evocar seu tema favorito - a segurança. A cena foi filmada no domingo 21 de agosto, no centro de Piacenza, em Emilia-Romagna (Norte). O vídeo foi compartilhado por vários jornais italianos e também foi retomado pela candidata, que postou uma mensagem no Twitter: "Não podemos permanecer em silêncio diante deste terrível episódio de violência sexual contra uma mulher ucraniana, em plena luz do dia, em Piacenza, por um requerente de asilo."

De geek a ultrarradical, a transformação

Resultado: desde então, "o vídeo foi apagado pelo Facebook, Instagram e Twitter por violar suas regras de uso", relata a revista francesa, que dedica cinco páginas à "irresistível ascensão" de Giorgia Meloni. 

“É difícil situar para um leitor francês o Fratelli d’Italia”, continua L’Express. “Esse partido político nasce em 2013 das cinzas do Aliança Nacional, ele mesmo vindo do Movimento Social Italiano, partido pós-fascista criado no pós-guerra a partir da ideologia de Benito Mussolini. Criada por uma dona-de-casa de direita, abandonada pelo marido, Giorgia Meloni entra no Fratelli pela primeira vez acompanhando a mãe aos 15 anos, em 1992, onde ela “se engaja plenamente neste partido repleto de nostálgicos do Estado fascista criado por Mussolini entre 1943 e 1945”.

Na época “uma adolescente geek apaixonada pelos Senhor dos Anéis, Meloni militava noite e dia no Fratelli e se mistura a perfis ultrarradicais, como os futuros chefes da [neofacista] Casa Pound ou da extrema direita de Milão como o Fare Fronte”. A revista francesa L’Express conta que ela ficou famosa nos anos 2000, quando “assume, aos 27 anos, a presidência do Aliança Nacional; aos 29 é eleita ao Parlamento e designada vice-presidente da Câmara dos Deputados”. “Aos 31 anos ela se torna ministra de Silvio Berlusconi e ganha uma pasta com pouco orçamento, mas de grande visibilidade, a Juventude”, lembra a revista. Em 2013, Meloni funda o Fratelli d’Italia, com apenas 1,96% de votos. Hoje, ela tem 25% e pode levar o comando de seu país.

Entre suas amizades de predileção, estão Viktor Orban, primeiro-ministro e líder da extrema direita da Hungria, país de onde ela deseja “importar algumas medidas” do autoproclamado "Grupo de Visegrado", como “muros contra a imigração clandestina, a defesa da identidade cristã e da família tradicional, branca e católica”, segundo o discurso proclamado em Roma em 2019. “Eu sou Giorgia, eu sou uma mãe e eu sou uma cristã”, bradava a loira aos quatro ventos na capital italiana, remixada por um DJ – o vídeo viralizou nas redes italianas, recorda L’Express.

“Ninguém viu algo parecido”, afirma L’Express, “ela conseguiu roubar os holofotes de ninguém menos que Matteo Salvini em Catânia, com seu discurso anti-imigrantes”, destaca. O mesmo Salvini que hoje “adoraria um cargo de Ministro do Interior num possível futuro governo Meloni. Já a jovem estrela da política italiana, desconversa”, finaliza a revista francesa.

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