Giorgia Meloni: a cara da extrema direita da Itália que amedronta a Europa
Publicado em:
"Sinto muito, me deixei levar", desabafa Giorgia Meloni, 45, em um discurso na Sicília, no Sul da península italiana, depois de alguns minutos de virulentos ataques contra a esquerda. "Eu tento ser mais composta e calma, mas de vez em quando, vocês sabem, eu sou de Garbatella [bairro pobre de Roma] e isso acaba acontecendo”, justifica a política, que de pura e recatada não parece ter nada, segundo contam as edições deste fim de semana das revistas francesas L’Express e L’Obs.
Ela encarna a nova extrema direita italiana, orgulhosa de admirar Mussolini e de sua herança neofascista com o aliado de Hitler nos anos 1940, o que não parece incomodar em nada o seu público, como escreve a revista L’Express nas bancas desta semana na França: “Marco Celano e Giuliana Vergata estão na casa dos 20 anos, acabam de voltar de sua lua-de-mel e vão votar em Meloni (‘Ela não muda suas ideias, quando muitos ainda vacilam’). Nino Scarantino, 66 anos, renuncia pela primeira vez à centro-direita de Silvio Berlusconi (‘Giorgia também é a direita moderada’)”.
Com a manchete de capa "A italiana que amedronta a Europa", L'Express apresenta um perfil da mulher - "mãe, católica e antiaborto" - que poderá governar a famosa "Bota". A revista ressalta que "se as pesquisas de opinião estiverem corretas, Giorgia Meloni deve receber a tarefa de formar um governo no final de setembro e, conseqüentemente, a possibilidade de assumir a chefia de governo. Ela seria a primeira mulher a ocupar esta posição central na Itália, mas também a primeira da extrema direita".
Entre a centro-direita "bunga-bunga" de Berlusconi e os arautos anti-imigrantes e ultraconservadores, Meloni arrebata, em meio a selfies e discursos, boa parte dos votos dos italianos nesta temporada. Em 25 de setembro, a presidente do partido Fratelli d'Italia (FDI) pode chegar em primeiro lugar nas eleições e ser chamada para governar a península.
Para chegar ao poder, vale tudo, como reporta o L'Obs, até usar um vídeo de um estupro em suas redes sociais a fim de evocar seu tema favorito - a segurança. A cena foi filmada no domingo 21 de agosto, no centro de Piacenza, em Emilia-Romagna (Norte). O vídeo foi compartilhado por vários jornais italianos e também foi retomado pela candidata, que postou uma mensagem no Twitter: "Não podemos permanecer em silêncio diante deste terrível episódio de violência sexual contra uma mulher ucraniana, em plena luz do dia, em Piacenza, por um requerente de asilo."
De geek a ultrarradical, a transformação
Resultado: desde então, "o vídeo foi apagado pelo Facebook, Instagram e Twitter por violar suas regras de uso", relata a revista francesa, que dedica cinco páginas à "irresistível ascensão" de Giorgia Meloni.
“É difícil situar para um leitor francês o Fratelli d’Italia”, continua L’Express. “Esse partido político nasce em 2013 das cinzas do Aliança Nacional, ele mesmo vindo do Movimento Social Italiano, partido pós-fascista criado no pós-guerra a partir da ideologia de Benito Mussolini. Criada por uma dona-de-casa de direita, abandonada pelo marido, Giorgia Meloni entra no Fratelli pela primeira vez acompanhando a mãe aos 15 anos, em 1992, onde ela “se engaja plenamente neste partido repleto de nostálgicos do Estado fascista criado por Mussolini entre 1943 e 1945”.
Na época “uma adolescente geek apaixonada pelos Senhor dos Anéis, Meloni militava noite e dia no Fratelli e se mistura a perfis ultrarradicais, como os futuros chefes da [neofacista] Casa Pound ou da extrema direita de Milão como o Fare Fronte”. A revista francesa L’Express conta que ela ficou famosa nos anos 2000, quando “assume, aos 27 anos, a presidência do Aliança Nacional; aos 29 é eleita ao Parlamento e designada vice-presidente da Câmara dos Deputados”. “Aos 31 anos ela se torna ministra de Silvio Berlusconi e ganha uma pasta com pouco orçamento, mas de grande visibilidade, a Juventude”, lembra a revista. Em 2013, Meloni funda o Fratelli d’Italia, com apenas 1,96% de votos. Hoje, ela tem 25% e pode levar o comando de seu país.
Entre suas amizades de predileção, estão Viktor Orban, primeiro-ministro e líder da extrema direita da Hungria, país de onde ela deseja “importar algumas medidas” do autoproclamado "Grupo de Visegrado", como “muros contra a imigração clandestina, a defesa da identidade cristã e da família tradicional, branca e católica”, segundo o discurso proclamado em Roma em 2019. “Eu sou Giorgia, eu sou uma mãe e eu sou uma cristã”, bradava a loira aos quatro ventos na capital italiana, remixada por um DJ – o vídeo viralizou nas redes italianas, recorda L’Express.
“Ninguém viu algo parecido”, afirma L’Express, “ela conseguiu roubar os holofotes de ninguém menos que Matteo Salvini em Catânia, com seu discurso anti-imigrantes”, destaca. O mesmo Salvini que hoje “adoraria um cargo de Ministro do Interior num possível futuro governo Meloni. Já a jovem estrela da política italiana, desconversa”, finaliza a revista francesa.
NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.
Me registro