Contagem Regressiva Paris 2024

Jogos Olímpicos Paris 2024: um projeto compartilhado com o subúrbio da capital francesa

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Os Jogos Olímpicos e Paralímpicos Paris 2024 não acontecem só na capital. Lyon, Saint-Etienne, Nice, Bordeaux, Nantes e Marseille também terão competições, além do Tahiti, uma ilha da Polinésia Francesa. Desde o início, a prefeitura de Paris, a cidade-sede, prometeu Jogos “inclusivos, abertos e compartilhados”.

Obras da futura Vila dos Atletas, em Saint-Denis, subúrbio norte de Paris.
Obras da futura Vila dos Atletas, em Saint-Denis, subúrbio norte de Paris. © AFP/Anne-Christine Poujoulat
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Se na primeira olimpíada realizada na França, há cem anos, quase tudo aconteceu em Paris, agora a cidade não tem espaço e nem estrutura sozinha para o maior evento esportivo do mundo. E os Jogos vão se espalhar por suas cidades-satélites.

Versalhes, no sudoeste, mas principalmente municípios do subúrbio norte. É o caso de Saint-Denis, onde fica a Vila Olímpica, o Stade de France e o Parque Aquático; de Saint-Ouen Sur Seine, que vai receber a delegação do Brasil ou La Courneuve, uma das cidades mais pobres da França. 

A RFI conversou com o prefeito de La Courneuve, Gilles Poux, sobre a organização dos Jogos, que embora se chamem Paris 2024 são um projeto da Grande Paris. "Nós nos preparamos com uma preocupação essencial, fazer com que este grande evento que faz sonhar todo mundo e provoca o imaginário não seja vivido como algo exterior, que se instala no território, mas do qual a população não pode participar. Mas é um evento que acontece no nosso território", afirma. 

A RFI perguntou ao prefeito o que é previsto para La Courneve em 2024? "Vai ter um evento em particular, a paramaratona que vai partir de La Courneuve e a chama olímpica fará um itinerário de 2,5 quilômetros pela cidade de La Courneuve antes de ir para Paris, para depois acender a pira olímpica. E teremos iniciativas na piscina criada para o polo aquático, no terreno de rugby de 7 e nos locais instalados no Parque Georges Valbon", cita. "Ao mesmo tempo, estamos próximos do Stade de France e teremos interações fortes com tudo o que se passará lá e na piscina olímpica", explica Poux. 

A candidatura de Paris para sediar os Jogos foi baseada numa ideia de controle de gastos, utilização de locais esportivos existentes, instalações temporárias e o desenvolvimento da chamada Grande Paris. Uma oportunidade para promover melhorias nos subúrbios, com novos projetos de transporte, moradia, infraestrutura e incentivo à prática esportiva, logística urbana e eventos culturais. "Eu acho que temos a vantagem de que nossas cidades são um pouco mais estruturadas, e que houve da parte da prefeitura de Paris uma atenção grande com o subúrbio, o que permitiu fazer com que os Jogos não se aproveitassem só do subúrbio", explica o prefeito de La Courneuve. "Não é só Paris. Esse evento se realiza porque há, além de Paris, a região de Seine Saint-Denis, os habitantes dessas cidades populares que vão colaborar para que seja um grande evento", completa. 

Diversidade e Inclusão

Para tratar sobre diversidade e inclusão, La Corneuve recebeu o terceiro Diálogo das Cidades, organizado pela Aliança de Civilizações das Nações Unidas (UNAOC), da qual faz parte desde 2019. Essa rede internacional de territórios sensíveis tem como objetivo promover a multiculturalidade, como explica a RFI Miguel Ángel Moratinos, secretário-geral Adjunto das Nações Unidas e Alto Representante (UNAOC). "O esporte tem todos os valores e os princípios que eu defendo na minha organização, a Aliança de civilizações das Nações Unidas, como o respeito, a solidariedade, trabalhar em conjunto, viver juntos. E isso mostra a força que o esporte tem para fazer a sociedade avançar. Nas situações duras da sociedade, onde há desigualdade social, econômica e cultural, os esportistas são ícones. E as pessoas se sentem atraídas pelo esporte. É um fenômeno que pode ser usado para mudar mentalidades que poderiam ser direcionadas para a violência, o ódio, a incompreensão e a exclusão", observa. 

O diretor-executivo da Associação Brasileira de Municípios (ABM), Eduardo Tadeu Pereira, participou de uma mesa redonda sobre o esporte como ferramenta de diálogo e inclusão. "Em Paris, uma cidade milenar que vem se construindo há tanto tempo, com uma infraestrutura tão preparada já para o turismo, talvez uma das cidades mais visitadas do mundo, você tem uma infraestrutura pré-existente que pode ser utilizada. Muitas vezes, nos países em desenvolvimento, que não tiveram esse momento de desenvolvimento no século 19 e começo do século 20 tão pesado como teve a cidade de Paris, os investimentos são mais necessários", destaca.

Também presente na delegação brasileira, Estela Beatriz Farias Lopes, deputada estadual do Rio Grande do Sul e ex-prefeita de Alvorada, fala sobre o papel das cidades no desenvolvimento da sociedade. "São as cidades que vivem os conflitos, tanto as coisas boas quanto ruins acontecem no âmbito das cidades, das municipalidades, das localidades e mais do que nunca é ali que você tem a possibilidade da transformação, de contribuição para que a gente tenha um ambiente melhor, um ambiente de paz, um ambiente de convívio e do exercício dos direitos plenos de cidadania", destaca. "Esse grande evento esportivo, os Jogos Olímpicos, já são desde a sua essência, da sua criação, um espaço de promoção dessa diversidade e, ao mesmo tempo, de construção de um ambiente de paz. Para além de ser um espaço de disputa esportiva, é um espaço de congraçamento mundial", conclui. 

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