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Influenciado pelo Brasil no início, futebol do Japão se desenvolve mesmo sem estrelas do passado

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A primeira vitória do Japão contra o Brasil na história do futebol masculino é simbólica. Se atualmente o país do sol nascente é uma potência na Ásia e vai disputar a sua oitava Copa do Mundo consecutiva em 2026, essa evolução se deve muito à influência brasileira no início. 

Torcedor brasileiro vibra na arquibancada do estádio de Tóquio durante o amistoso entre Brasil e Japão, em 14 de outubro de 2025.
Torcedor brasileiro vibra na arquibancada do estádio de Tóquio durante o amistoso entre Brasil e Japão, em 14 de outubro de 2025. REUTERS - Kim Kyung-Hoon
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Tiago Leme, de Tóquio, para a RFI

Há mais de 30 anos, Zico cruzou o mundo e teve papel fundamental para a popularização e a profissionalização do futebol no Japão. Depois, chegaram vários outros jogadores. E até hoje o Campeonato Japonês e a seleção nacional mostram organização e força, mesmo sem o investimento e as estrelas estrangeiras do passado jogando no país.

Na última terça-feira, em amistoso em Tóquio, o Japão venceu o Brasil do técnico Carlo Ancelotti de virada, por 3 a 2. Com o estádio lotado e a paixão da torcida japonesa pelo futebol e também pela seleção brasileira, a festa com o resultado foi enorme.

Essa boa relação entre os dois países começou especialmente em 1991, quando Zico foi contratado pelo Kashima Antlers, um clube até então amador ligado a uma fábrica. Em 1993, começou a primeira temporada da J-League, a nova liga profissional japonesa. O ex-flamenguista jogou no Kashima até 1994, mas depois sempre esteve ligado e ajudando no desenvolvimento do futebol, e inclusive foi treinador da seleção do Japão entre 2002 e 2006. Muitos jogadores brasileiros importantes atuaram no país asiático, nomes como Leonardo, Dunga, Bebeto, Jorginho, César Sampaio, Careca, Túlio, Washington, Emerson Sheik, Robson Ponte, entre outros, além de técnicos também.

O torcedor brasileiro Mário Uemura, descendente de nipônicos e que mora no Japão há 40 anos, acompanhou de perto todo esse processo.

"Uma influência muito grande foi o Zico, que começou lá no Kashima, que era amador. Depois que virou profissional e a J-League, virou Kashima Antlers. O Zico tem muita influência aqui, ele é considerado um rei", diz. "Depois tem o Tokyo Verdy, que foi um time muito forte também, que tinha muitos brasileiros. O Bismarck jogou no Tokyo Verdy também e muitos brasileiros ajudaram a desenvolver a J-League como está atualmente. Eles gostam até hoje do futebol brasileiro, é uma influência muito grande." 

Outro torcedor brasileiro que também estava presente no amistoso de terça-feira, Hermes Suzuki, que vive no Japão há sete anos, falou sobre o impacto do Brasil no futebol japonês.

"E não é só o Zico. O Rui Ramos também. Você tem o Kazu. É impressionante essa história", salienta. "Eu acompanho a J- League, o meu avô é de Kyoto, então eu acompanho o Kyoto Sanga. Quem era líder, agora ele caiu um pouquinho, é o Papagaio, o Rafael Elias, ele estava como artilheiro, mas agora caiu. Mas é um brasileiro que está no topo. Mas eles adoram o Brasil, é impressionante. Então, assim como o Pelé foi nos Estados Unidos, o Zico é pai do futebol aqui. É impressionante”, diz.

Jogadores brasileiros

Atualmente, o Campeonato Japonês não conta com tantos jogadores de destaque internacional, houve diminuição de investimento nos clubes. Mesmo assim, segue atraindo muitos jogadores menos conhecidos e que não tem mercado na Europa, por exemplo. Nesta temporada, a J-League conta com 100 atletas estrangeiros, de 28 países diferentes, sendo que 52 são brasileiros, a imensa maioria. Os três primeiros colocados da lista de artilheiros são do Brasil: Léo Ceará, do Kashima Antlers, Rafael Elias, do Kyoto Sanga, e Rafael Ratão, do Cerezo Osaka.

O Japão vai disputar no ano que vem nos Estados Unidos, México e Canadá a oitava Copa do Mundo de sua história, todas depois que Zico começou a jogar no país. A primeira vez foi no Mundial de 1998, e depois o país se classificou para todas as edições. As melhores participações foram em 2002, 2010, 2018 e 2022, quando chegou às oitavas-de-final.

No passado, a seleção japonesa teve nomes fortes como Nakata, Endo, Nakamura e Honda, além de Kazu, que atuou no Santos e outros times do Brasil na década de 80. Hoje o Japão é comandado pelo técnico Hajime Moriyasu. Os principais jogadores estão em equipes europeias, como Minamino, do Monaco, Kubo, da Real Sociedad, e Ueda, do Feyenoord, além de Nagatomo, que jogou na Inter de Milão e está no FC Tokyo.

Hermes Suzuki contou um pouco também sobre como está o nível da seleção japonesa antes do Mundial de 2026.

"Eu vou ser sincero, estive na Copa recente no Catar. O Japão ganhou da Espanha, ganhou da Alemanha, estou com a camiseta lá do jogo. Então, eles não são zebra não! Eles estão para jogar. Mas o futebol daqui se profissionalizou, e não só o masculino. Tem uma liga do futebol feminino também aqui, e eles vão formando as bases, então tem as crianças”, afirma o torcedor. 

Depois de fazer história com a vitória inédita sobre o Brasil após 14 confrontos, o Japão sonha em superar novamente grandes potências do futebol na Copa de 2026, para impulsionar ainda mais o desenvolvimento do futebol no país.

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