Linha Direta

Vácuo de poder prejudica gestão de onda maciça de Covid-19 na Alemanha

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A Alemanha registra um aumento maciço de infecções pelo coronavírus. As taxas de contágio e de novos casos diários de Covid-19 observadas nos últimos dias são as maiores desde o começo da pandemia. As unidades de tratamento intensivo dos hospitais voltam a ficar cheias de pacientes com a forma grave da doença. Os estados alemães mais afetados já começam a reintroduzir medidas restritivas, enquanto o governo federal sofre críticas de alguns setores por não reagir à altura dos números alarmantes.

Nas regiões mais afetadas pela quarta onda da Covid-19 na Alemanha, os leitos de UTI estão praticamente esgotados.
Nas regiões mais afetadas pela quarta onda da Covid-19 na Alemanha, os leitos de UTI estão praticamente esgotados. AP - Robert Michael
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Marcio Damasceno, correspondente da RFI em Berlim

A Alemanha entra na sua quarta onda da Covid-19 quando muitos achavam que a pandemia era coisa do passado. Nesta terça-feira (9), o país superou pelo segundo dia consecutivo o recorde para a taxa de incidência acumulada nos últimos sete dias, com 213,7 casos para cada 100 mil habitantes. Na segunda-feira, a taxa chegou a 201, ultrapassando o recorde anterior registrado em dezembro do ano passado, no auge da pandemia.

Nesta terça-feira foram contabilizadas 21.832 novas infecções nas últimas 24 horas. Na  sexta passada, esse valor também bateu o recorde desde o começo da pandemia, chegando a 37.120 casos. Há uma semana, a cifra era de 10.813 infecções.

Em algumas regiões, a ocupação dos leitos de UTI se aproxima da capacidade máxima. As autoridades dizem estar a um passo de ter que transferir pacientes para outras clínicas. Alguns hospitais já adiam cirurgias para liberar leitos para pacientes de Covid-19.

Os especialistas atribuem essa nova alta de casos principalmente à resistência de parte da população alemã à vacinação. Não é à toa que muitos chamam essa nova onda de "pandemia dos não vacinados".

A Alemanha começou a vacinação num ritmo relativamente intenso. Mas o país está vendo sua campanha de imunização estagnar. Atualmente, só 67% da população completou o ciclo vacinal. Um índice abaixo de boa parte dos países da Europa Ocidental, como França, Portugal, Espanha e Reino Unido.

Um indício para a correlação entre contágio elevado e baixa vacinação é que os estados alemães com menor taxa de imunização estão entre os mais afetados atualmente pela quarta onda da epidemia. Turíngia e Saxônia têm o maior número de casos da doença e os menores índices de vacinação da Alemanha. Os especialistas dizem que isso não é coincidência.

Reação regional

Os governos dos estados mais afetados começaram a reagir, determinando novas medidas restritivas. O objetivo é aumentar a pressão sobre quem não se vacinou.

Em resposta à nova onda de infecções, as autoridades da Saxônia anunciaram a suspensão do acesso de não vacinados a restaurantes e eventos em recintos fechados. A medida entrou em vigor na segunda-feira (8), mas desde sábado começaram os protestos. Milhares de pessoas foram às ruas de Leipzig, a maior cidade da Saxônia, para se manifestar contra as novas restrições. Vinte e quatro pessoas foram detidas após confrontos com a polícia.

O estado da Baviera, no sul da Alemanha, também registra números elevados de infecções e já anunciou novas medidas. Na Baviera, quem não é vacinado ou recuperado da Covid-19 tem que apresentar um teste PCR para entrar em determinados espaços. Quer dizer: não basta mais o teste de antígeno, que é bem mais barato. E agora passam a ser obrigatórias no estado as máscaras FFP2, que são mais seguras. Eventos culturais e esportivos são vetados aos que não estão imunizados.

A administração de Berlim também planeja lançar restrições para não vacinados na cidade. A previsão é que não imunizados não possam mais entrar em locais como restaurantes, teatros e cinemas na capital alemã. Possivelmente, as novas regras devem vigorar a partir da próxima semana.

Transição de governo

A Alemanha atravessa um período de mudança de governo, depois das eleições de setembro. O novo Parlamento já tomou posse. Por outro lado, Angela Merkel continua apenas como chanceler interina até o novo chefe de governo assumir o cargo.

Alguns atribuem a falta de ação federal diante dos números alarmantes da quarta onda a esse vácuo de poder. Muitos sentem falta de uma maior coordenação com os governos regionais e pedem providências mais duras em nível nacional em relação aos não vacinados, como ocorre, por exemplo, na vizinha Áustria. O governo austríaco proibiu o acesso de pessoas não imunizadas a restaurantes, cabeleireiros e hotéis, entre outros estabelecimentos que recebem público. A medida entrou em vigor na segunda-feira. 

Os três partidos que negociam a coalizão para o novo governo alemão fecharam um pacote de combate à pandemia, prevendo medidas como testes diários obrigatórios em lares de idosos e a volta dos testes de Covid-19 gratuitos para todos. O projeto de lei, anunciado nesta segunda-feira, deve ser discutido ainda esta semana no Parlamento.

Entretanto, o projeto de lei já vem sendo duramente criticado por não prever restrições nacionais mais duras a não vacinados, como as que já vigoram em alguns estados alemães.

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