Entenda o que está por trás do tarifaço de Trump sobre aço e alumínio
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O aumento de 25% nas tarifas sobre importação de aço e alumínio anunciadas pelo governo americano entrarão em vigor em 12 de março, de acordo com um decreto assinado na segunda-feira (10) por Donald Trump. Especialistas ouvidos pela RFI analisaram impactos bem como o que pode estar por trás da medida, que tem reflexos negativos sobre a economia de vários países, inclusive dos Estados Unidos.
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Raquel Miura, correspondente da RFI em Brasília
Em meio ao discurso ultranacionalista de Donald Trump, falta entender qual a real intenção do presidente dos Estados Unidos, que tipo de negociação ele pretende desencadear em cada região do planeta ao elevar as taxas que pesam sobre a compra desses produtos e acabar com cotas e isenções. Isso porque encarecer materiais importantes para a indústria de seu próprio país não ajuda lado algum, pelo contrário. Quando assumiu o poder em 2018, Trump fez algo parecido e, naquela situação, o Brasil, segundo maior fornecedor de aço para o mercado americano, negociou a troca das taxações por cotas limites na exportação da liga, por exemplo.
A economista Cristina Helena de Mello, professora da PUC/SP e especialista em economia internacional, diz que Trump dá mostras de que busca enfraquecer alinhamentos que não têm os Estados Unidos como foco, a exemplo do Brics, bloco que reúne China, Índia, Brasil e África do Sul. “Talvez essa taxação americana seja endereçada, em grande medida, a provocar uma negociação em torno de um realinhamento comercial com os Estados Unidos e uma desistência da construção de uma moeda única dos Brics. O Brasil, por exemplo, importa mais da China hoje do que dos Estados Unidos e temos uma forte proximidade com o Brics, inclusive com a ideia de se adotar uma moeda do Brics”, analisa.
A professora de economia diz que a taxação da indústria siderúrgica não resolve a questão da competitividade da siderurgia americana. “Na verdade, piora o cenário e dificulta as intenções de Trump de fazer uma América forte novamente, porque o custo da matéria-prima é um dos elementos de competitividade, encarecendo os custos da indústria americana. E isso, claro, prejudica muito a indústria siderúrgica brasileira, que tem nos Estados Unidos um destino de parte importante de suas exportações”, afirmou Mello.
Reflexos globais
Os especialistas afirmam que concretizado o tarifaço de Trump, além de bagunça nas relações comerciais no mundo todo, haverá um reflexo não só econômico, mas político dentro dos Estados Unidos, o aumento dos preços, já que os insumos vão custar mais caro. O analista Rafael Prado, consultor de macroeconomia da GO Associados, ressalta que esse cenário levaria o Federal Reserve, o Banco Central dos Estados Unidos, a elevar os juros no país, o que seria um entrave ao crescimento econômico prometido por Trump na campanha, com reflexos globais.
“O protecionismo não é bom para nenhum dos lados envolvido. A China, por exemplo, já anunciou medidas retaliatórias. O Brasil também já disse que, caso seja afetado, vai responder com reciprocidade. A União Europeia comentou que essas medidas de taxação sobre o aço e o alumínio são contraproducentes. Então, o que pode acontecer é uma redefinição das relações de comércio internacional pela busca de oportunidades mais favoráveis e com tarifas mais baixas. Tudo isso pode levar a um isolamento dos Estados Unidos”, avalia Prado.
“Agora, em relação ao Brasil, avalio que a melhor opção é se manter afastado de qualquer disputa comercial. Então, em primeiro lugar, precisa haver diálogo e negociação entre as duas partes. Do mesmo modo que Canadá e México negociaram, o Brasil também tem que negociar, porque assim como para os Estados Unidos, o cenário para o Brasil é negativo. E isso é verdade num ambiente com ou sem retaliação”, opinou o analista.
No Brasil, a confirmação das medidas gerou apreensão e receio. Governo e empresários esperam detalhes do que vem por aí e analisam alternativas para as vendas externas e também possíveis retaliações. Em público, o vice-presidente Geraldo Alckmin, que interrompeu uma viagem ao interior para se reunir à noite com técnicos e autoridades da área, afirmou que o diálogo deve prevalecer.
“Nós acreditamos muito no diálogo. A parceria Brasil-Estados Unidos é equilibrada, é um ganha-ganha. Nós exportamos para eles, eles exportam para nós. Então vamos aguardar. A nossa disposição é sempre a de colaboração, parceria em benefício das nossas populações”, afirmou Alckmin.
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