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Opinião: Os avanços e os problemas da COP 26

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Desde domingo passado, 31 de outubro, até 12 de novembro, os representantes de quase duas centenas de países estarão reunidos em Glasgow, na Escócia, para debater e, quem sabe, tomar decisões relevantes sobre o drama da mudança climática que ameaça o planeta com uma catástrofe irremediável

União Europeia tem uma liderança de peso na questão: trata-se do presidente francês Emmanuel Macron, que vem se engajando mais e mais no tema.
União Europeia tem uma liderança de peso na questão: trata-se do presidente francês Emmanuel Macron, que vem se engajando mais e mais no tema. AP - Andy Buchanan
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Flávio Aguiar

Esta é a 26ª edição da Conferência da ONU sobre o tema, denominada de COP26. A meta é impedir que, nas próximas décadas, o aquecimento global passe de 1,5 grau Celsius sobre a temperatura média da era pré-industrial. Como nas ocasiões anteriores, o maior desafio será superar diferenças e competições para sair da retórica em direção a ações concretas que diminuam as emissões mundiais de gases nocivos, cujo grande vilão é o gás carbônico, CO2, para a atmosfera.

Há sinais promissores no horizonte. Depois dos anos de negacionismo por parte do governo Trump, os Estados Unidos, sob a presidência do democrata Joe Biden, estão de volta ao debate sobre como enfrentar os desafios climáticos. Por sua vez, em que pese suas dissensões políticas internas, a União Europeia tem uma liderança de peso na questão: trata-se do presidente francês Emmanuel Macron, que vem se engajando mais e mais no tema. A China dá sinais de querer um maior envolvimento na busca de soluções.

Mas as dificuldades permanecem enormes. A mesma China é a responsável por 27% das emissões mundiais de gás que  aquecem a atmosfera. O governo chinês promete não contribuir para a construção de novas termelétricas a carvão no plano internacional, mas internamente continua dependendo deste tipo de energia.

As nações que compõem o chamado G-20, que reúne as maiores economias do mundo, são responsáveis por 70% das emissões de gás. Delas depende, na maior parte, o sucesso de qualquer meta fixada na COP. Terão condições políticas de responder aos desafios? A ver.

Dificuldades econômicas e políticas

Há dificuldades econômicas no caminho. É comum fazer referência à necessidade dos países mais ricos ajudarem os mais pobres a se desenvolverem sem aumentar as emissões. Mas há outros problemas estruturais.

Por exemplo: os 34 países mais pobres do mundo gastam anualmente US$ 29,4 bilhões com o pagamento de suas dívidas externas para com países mais ricos e o sistema financeiro internacional, e apenas US$ 5,4 bilhões em investimentos para diminuir a tendência de aquecer a atmosfera. Se não houver uma reestruturação das dívidas desses países, dificilmente eles poderão responder ao desafio.

Por outro lado, a Conferência se dá numa conjuntura política desfavorável. A tendência do atual governo norte-americano é fazer pressão para aumentar o comprometimento russo e chinês com as metas da COP, no que conta com o apoio da União Europeia.

Ao mesmo tempo, a Rússia reclama continuamente que a OTAN, pressionada por países que pertenciam à órbita da antiga União Soviética, com os do Báltico, a Polônia e a Ucrânia, vem apertando o cerco em torno de suas fronteiras.

Quanto à China, a situação é mais grave. Além de uma disputa econômica, há uma clara e crescente tensão política e militar com os Estados Unidos e seus aliados, quanto ao controle dos mares que margeiam a costa chinesa. Significativamente, nem o presidente russo, Vladimir Putin, nem o chinês, Xi Jinping, estarão presentes à COP.

Brasil ontem e hoje

E o Brasil? Bem, o Brasil já foi uma referência positiva mundial em relação ao tema. Historicamente, a diplomacia brasileira desfrutou da respeitável fama de ser uma das mais profissionais e pragmáticas do mundo, e o Brasil, de buscar sempre soluções negociadas para conflitos.

Hoje em dia este prestígio está irremediavelmente debilitado, graças a uma postura ideológica beligerante e às atitudes intempestivas e inadequadas de seu presidente, sobretudo com relação às questões ambientais, de direitos humanos e no trato da pandemia.

Consta que os representantes brasileiros tentarão reforçar a tese de que o governo de Brasília protege a Amazônia, pressionando para que os países mais ricos ajudem a financiar esta proteção. O problema é que pelo mundo afora ninguém mais leva isto a sério. O melhor que pode acontecer é que a diplomacia brasileira evite outro vexame internacional para o país.

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