2ª Cúpula Africana do Clima busca consolidar 'uma só voz' do continente para a COP30 em Belém
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O continente mais vulnerável às mudanças climáticas buscou, esta semana, alinhar as posições dos seus 54 países sobre o combate ao aquecimento global. A 2ª Cúpula Africana para o Clima se encerra nesta quarta-feira (10) e reúne mais de 20 mil participantes e 40 chefes de Estado na capital etíope, Adis Abeba.

Durante três dias, governos e representantes da sociedade civil e do meio empresarial tentam chegar a consensos para terem mais força nas negociações internacionais sobre a crise climática, a dois meses da próxima Conferência da ONU sobre o tema, a COP30 em Belém, no Brasil.
“Esta cúpula alinha os esforços dos africanos e catalisa as ações concretas que devemos buscar. Não temos escolha: se quisermos ter impacto nas discussões internacionais, precisamos falar com uma só voz”, disse em entrevista à RFI a senegalesa Aissatou Diouf, porta-voz de políticas internacionais da organização ENDA Energie e uma das mais militantes ambientalistas mais conhecidas do continente.
Todos concordam que a África precisa de apoio financeiro e tecnológico para promover a economia de baixo carbono, mas as divergências sobre quais devem ser os caminhos a trilhar persistem.
Prioridades dispersas
"Não temos todos o mesmo nível de desenvolvimento, e há aspectos de natureza geopolítica, em que cada estado tenta se posicionar. Por exemplo, um país que descobriu petróleo e gás vai querer certamente explorá-los, apesar dos impactos das mudanças climáticas, que já sentimos”, frisou Diouf. "Precisaríamos que, no nível da União Africana, tivéssemos políticas continentais coordenadas."
José Luís, da Plataforma Juvenil para a Ação Climática de Moçambique, também se preocupa com a dispersão das prioridades para o continente. "Nós esperamos que essa Cimeira Africana seja um espaço onde a diplomacia africana possa realmente trazer alguns resultados específicos, porque todos nós sabemos quais os problemas que a África tem, como continente. Mas qual é a diplomacia que vamos ter?”, disse ele a Cristiana Soares, da redação em português da RFI. "Essa cúpula acontece em um momento estratégico.”
Financiamento insuficiente
O tema fundamental do financiamento climático, alavanca para o desenvolvimento regional, está no centro das discussões neste último dia do evento. Desde a primeira Cúpula Africana para o Clima, no Quênia, em 2023, a comunidade internacional não conseguiu chegar a uma nova arquitetura do sistema financeiro, capaz de entregar aos africanos os recursos necessários para enfrentarem as mudanças do clima e viabilizarem a transição energética.
O foco das negociações da última COP da ONU no Azerbaijão era o financiamento – mas a conferência terminou sem avanços. No atual contexto internacional desfavorável, não se espera que a Conferência de Belém consiga desbloquear as negociações sobre o tema.
As Nações Unidas estimam que a África precisaria de pelo menos US$ 1,3 trilhão por ano para cumprir os seus Objetivos de Desenvolvimento Sustentável até 2030. Os valores propostos hoje, entretanto, são cinco vezes menores. Para acelerar uma solução, os diálogos têm se direcionado no sentido de facilitar investimentos estratégicos no continente e menos em doações.
"Quero acreditar que nós, africanos, temos capacidade de resolver os nossos próprios problemas a breve trecho, mas sim, precisamos de algum apoio, até que consigamos nos preparar”, ressaltou José Luis.
Rumo à COP30
O presidente da COP30, embaixador André Corrêa do Lago, participou do primeiro dia da Cúpula Africana sobre o Clima, na segunda-feira, e salientou que "é absolutamente mínima” a contribuição do continente para o aquecimento global – causado, essencialmente, pelo processo de industrialização dos países ricos. Ele frisou que as três prioridades do evento em Belém serão fortalecer o multilateralismo climático, aproximar as negociações da vida real e acelerar a implementação do Acordo de Paris em todo o mundo.
"O comprometimento dos líderes africanos com essa agenda é extraordinário. Vai ser muito bom, e muito lógico, nós darmos à África um papel especial na COP30”, disse Corrêa do Lago.

No final da cúpula na Etiópia, os participantes deverão assinar a Declaração de Adis Abeba, na qual exigirão justiça climática e apresentarão as principais reivindicações que saírem dos três dias de evento.
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