França parte enfraquecida para formar 'minoria de bloqueio' ao acordo UE-Mercosul
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A França lidera um grupo de países europeus que se opõem aos termos do acordo anunciado nesta sexta-feira (6) em Montevidéu, no Uruguai, para o tratado de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia. Ongs e entidades agrícolas francesas previam que a conclusão das negociações seria anunciada e reagiram com decepção, prometendo novas manifestações.
A federação nacional dos sindicatos de jovens agricultores franceses (FNSEA-JA) declarou que a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, “traiu os agricultores europeus”. Essa entidade considera que foi "uma provocação" a dirigente alemã ter aceitado que os produtores dos dois blocos continuarão a ter regras de produção diferenciadas, no caso mais favoráveis aos agricultores e pecuaristas do Mercosul, por não precisarem respeitar o mesmo padrão de qualidade imposto aos produtores do bloco.
Uma representante da Coordenação Rural chegou a chorar ao ser entrevistada no canal BFMTV diante de duas más notícias em poucos dias. Com a queda do governo francês, na quarta-feira, os agricultores locais ficaram privados de uma verba de emergência de € 300 milhões que tinham conquistado nas negociações do orçamento para enfrentar a queda de produção em suas safras, em decorrência de eventos climáticos nos últimos meses. Com a votação do orçamento adiada para o ano que vem, pequenos produtores franceses poderão quebrar.
A Copa-Cogeca, uma federação de peso em Bruxelas, prevê que esse "acordo comercial agravará a pressão econômica já suportada por muitos agricultores e pecuaristas que lidam com os preços elevados dos insumos e condições meteorológicas difíceis", afirma um comunicado da entidade.
A Ong Greenpeace France denunciou um desastre "social, humano e ambiental".
Todos prometem manter os protestos no bloco europeu.
O que é "minoria de bloqueio"
França e Itália reafirmaram que o processo de ratificação do acordo enfrentará um muro de resistência, apesar de ser apresentado como benéfico para 700 milhões de consumidores nos dois blocos. Os governos de Polônia, Bélgica, Holanda e Áustria já demonstraram não estar satisfeitos com os termos do texto negociado pela presidente da Comissão.
A expectativa, agora, é de que Ursula von der Leyen retorne a Bruxelas para apresentar de forma clara de que maneira os agricultores europeus prejudicados pelas exportações sul-americanas, mais competitivas, serão recompensados financeiramente. O processo de avaliação do tratado poderá durar de sete a nove meses, segundo várias fontes. Nesse meio tempo, a pressão dos agricultores irá continuar.
Para ser ratificado, o texto concluído em Montevidéu precisa ser aprovado por 15 dos 27 países do bloco europeu. Por outro lado, para barrar o acordo, a França precisa formar uma “minoria qualificada” de pelo menos quatro países, que juntos reúnam 35% da população do bloco. Essa conta ainda está longe de ser alcançada para o governo francês, atualmente enfraquecido.
Muitos analistas compreendem a pressa da Comissão Europeia e de Ursula von der Leyen em ter uma carta na manga para enfrentar o retorno de Donald Trump à Casa Branca e o provável aumento das tarifas das exportações europeias para os Estados Unidos. Por isso, Alemanha e Espanha consideraram que "um passo histórico" foi dado. Mas até essa parceria comercial entrar em vigor em cada país europeu, pode demorar vários anos.
Após o anúncio do entendimento entre os líderes de Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai e a Comissão Europeia, emissoras de rádio e TV na França questionaram agricultores se eles iriam protestar diante de Ursula von der Leyen, que estará neste sábado (7) em Paris para a reinauguração da catedral de Notre-Dame. Alguns sindicatos agrícolas disseram que terão outras ocasiões para cobrar explicações da dirigente europeia.
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