Um pulo em Paris

Onda de calor: o que a França tem a ensinar ao Brasil?

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O Brasil enfrenta uma onda de calor sem precedentes, com sensação térmica superior a 60°C em algumas cidades. Esse fenômeno não se restringe à América do Sul: a cada verão, a Europa também registra temperaturas cada vez mais elevadas. A França, que poderá lidar com um calor de 50°C daqui a duas décadas, vem implementando alguns projetos para tentar aliviar o fenômeno.

França enfrentou várias ondas de calor nos últimos anos.
França enfrentou várias ondas de calor nos últimos anos. AFP - LUIS TATO
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A França acompanha com preocupação a onda de calor no Brasil. Jornais, rádios e TVs francesas repercutem diariamente as temperaturas extremas que várias regiões brasileiras têm enfrentado.

A rede BFMTV explica em uma reportagem veiculada nesta semana que as temperaturas recordes que atingem várias regiões brasileiras são anormais “até mesmo nos trópicos”. O jornal francês Le Parisien fez entrevistas com especialistas em calor do Brasil e destaca que, apenas em janeiro, na cidade do Rio, mais de 3 mil pessoas foram levadas a emergências de hospitais da capital por causa das temperaturas extremas.

As mídias francesas também têm atendido ao pedido de cientistas e especialistas em clima para mostrar imagens que destaquem o lado grave desses fenômenos, evitando mostrar apenas imagens de praias lotadas. Portanto, a cobertura da imprensa da França também trouxe imagens impressionantes do sofrimento dos trabalhadores brasileiros no sol, com termômetros marcando mais de 40°C e até mesmo os serviços de emergência prestando atendimento às pessoas.

Cada vez mais ondas de calor na Europa

As ondas de calor vêm começando mais precocemente na Europa, se repetem várias vezes a partir da primavera, com durações cada vez maiores e mais intensas. A França, particularmente, viveu uma onda de calor traumática em 2003, que durou 15 dias, e foi considerada a pior em 150 anos, com os termômetros chegando aos 44°C. Os efeitos desse calor extremo resultaram, nessa época, na morte de 15 mil pessoas, principalmente pessoas idosas.

Mas em junho de 2019, a França bateu outro recorde de temperatura: 46°C. Outros países europeus registram um calor ainda maior: Portugal registrou 47°C em julho de 2022, quando o país viveu que foi o ano mais quente já registrado lá. A Espanha teve 47,6°C em agosto de 2021. Nesse mesmo ano, a Itália registrou o recorde de temperatura na Europa: 48,8°C.

Além disso, no continente europeu, regiões e países que raramente viveram ondas de calor, como os países escandinavos, agora enfrentam esse fenômeno frequentemente. Em 2021, os termômetros chegaram a marcar 35°C na região do Artico, no extremo norte, onde a temperatura média no verão é de cerca de 16°C.

Como a França gerencia as ondas de calor

Nos últimos anos, as principais cidades francesas vêm investindo em várias alternativas para tentar aliviar os chamados “îlots de chaleur” (ilhas de calor), um termo técnico para designar os pontos mais que mais esquentam em uma cidade. A primeira das 19 soluções sugeridas pela Agência de Transição Ecológica da França é a construção de mais espaços verdes, novos parques e muitas árvores – inclusive nos próprios prédios. Várias cidades francesas vêm implementando projetos de vegetalização nos terraços e até nas fachadas das residências.

Outras alternativas empreendidas têm sido instalar mais fontes de água nas cidades, investir em espaços cobertos que criem sombra nas ruas e onde os pedestres possam se proteger da exposição solar direta. Vários distritos de Paris também investem na diminuição dos espaços de circulação de carros e em áreas exclusivas para pedestres arborizadas – medidas nem sempre populares entre motoristas.

Outras solução na moda nesses últimos anos na França e que reúne também opiniões contra é pintar os tetos de construções, prédios comerciais e públicas e residências de branco: os chamados “cool roof” (“tetos gelados”). Um projeto-piloto em Paris também testa a pintura do asfalto de algumas ruas de branco: uma medida que já é aplicada em algumas cidades americanas e australianas e que trazem bons resultados.

Rio Sena e a rede urbana de frio

O rio Sena é o responsável pelo maior sistema de resfriamento público da França. Cerca de 90 quilômetros de tubulações passam por debaixo de grandes monumentos e prédios públicos de Paris - como o museu do Louvre, a prefeitura da capita, a Assembleia de Deputados, a Orquestra Filarmônica - levando a água resfriada do rio parisiense.

Esse projeto revolucionário e pouco conhecido até mesmo pela população local é uma solução que as autoridades pretendem estender para toda Paris até 2040. O objetivo, no futuro, é beneficiar também escolas, hospitais, estações de metrô e se tornar a maior rede pública de resfriamento urbano do mundo.

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