Guiné Conacri: pelo menos 20 feridos em manifestações contra 3° mandato de Alpha Condé
Após três meses de pausa devido à pandemia de Covid-19, a Frente Nacional de Defesa da Constituição - FNDC - convocou para 20 de Julho uma manifestação para exigir a saída do Presidente Alpha Condé, candidato a um terceiro mandato de cinco anos em Outubro de 2020 e a anulação da nova constituição promulgada em Abril, que o permite.
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A chuva não impediu a participação massiva dos guineenses nas manifestações nesta segunda-feira em Conacri e arredores, respondendo ao apelo da Frente Nacional de Defesa da Constituição - FNDC - colectivo de partidos da oposição, sindicatos e membros da sociedade civil - e isto apesar da proibição de manifestações devido às medidas de restrição provocadas pela pandemia de Covid-19.
Dada esta proibição, o exército e as forças de defesa e segurança foram requisitadas e pelo menos 20 pessoas foram feridas, entre as quais cinco por balas, dois encontrando-se em estado crítico e várias dezenas de detenções, segundo a FNDC - números contestados pelo departamento de segurança do Estado, para quem nenhum civil foi ferido - durante os violentos confrontos opondo os manifestantes às forças da ordem, que utilizaram gás lacrimogéneo e armas de guerra, afirmam os organizadores.
O líder da FNDC Abdourahamane Sanoh, cuja residência foi cercada pelas forças de segurança, que o impediram de sair, saudou a coragem e determinação dos manifestantes, que desafiaram as forças da ordem e garante que os opositores à nova constituição e ao terceiro mandato presidencial de Alpha Condé, não recuarão na luta pela defesa da democracia e contra as violações de direitos humanos na Guiné Conacri.
Anunciadas novas manifestações nos próximos dias
Cellou Dalein Diallo, antigo primeiro-ministro e líder da União das Forças Democráticas da Guiné, partido que integra a FNDC e é a principal força de oposição ao regime, acusa o Presidente Alpha Condé de "alta traição" à constituição e afirma que não participou pessoalmente na manifestação, porque as forças da ordem cercaram a sua residência privada, tal como as de outros líderes da oposição, mas garante que as manifestações vão continuar até à saída de Alpha Condé.
Segundo Cellou Diallo "a constituição foi violada de forma recorrente, todas as leis orgânicas foram violadas...o texto que foi submetido ao Tribunal Constitucional, validado e assinado pelo ministro da justiça, publicado no Jornal Oficial e sujeito a referendo, não é o mesmo que foi publicado. Foi publicado outro texto", denuncia o opositor histórico.
Alpha Condé actualmente com 82 anos de idade e que ainda não declarou oficialmente se é ou não candidato à sua sucessão, foi o primeiro Presidente democráticamente eleito nesta antiga colónia francesa, após décadas de regimes autoritários.
Eleito em 2010 e reeleito em 2015, Alpha Condé pretende candidatar-se a um terceiro mandato no final de 2020 e para tal foi efectuado um referendo a 22 de Março de 2020, boicotado pela oposição e através do qual oficialmente mais de 90% dos 61% de votantes, se pronunciaram a favor da nova constituição que o permite.
Este referendo foi questionado pela França, Estados Unidos e União Europeia.
Desde Outubro de 2019 que centenas de milhares de guineenses manifestam contra o eventual terceiro mandato presidencial, respondendo aos apelos do FNDC.
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