MPLA ataca «Folha 8» por polémico «post» mencionando Agostinho Neto
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Ontem, o MPLA, no poder em Angola, repudiou um «post» publicado no passado dia 17 de Junho na conta Facebook do semanário «Folha 8» em que juntamente com a fotomontagem de um busto de Agostinho Neto a ser removido por uma máquina aparece o seguinte texto: «vários países estão a retirar dos espaços públicos as estátuas de assassinos, ditadores e defensores da escravatura. Em Angola está a demorar muito para que isso aconteça».
O texto interpretado por sectores de opinião como sendo uma associação de Agostinho Neto com figuras escravocratas, foi qualificado pelo MPLA como sendo «leviano e irresponsável».
Em comunicado ontem, o partido no poder considerou que esta publicação «atenta contra a História e memória colectiva do Povo Angolano e revela falta de Patriotismo» do jornal «Folha 8», o partido no poder recordando ainda que «António Agostinho Neto foi reconhecido e respeitado a nível nacional e internacional, «como destemido soldado da linha da frente no combate à segregação racial e da luta armada de libertação nacional».
Ao denunciar «as obstinadas tentativas de macular a honra e o bom nome de António Agostinho Neto, Herói Nacional e Pai da Independência de Angola, enquadram-se na campanha com fins inconfessos que o jornal «Folha 8» tem levado a cabo ao longo dos anos», o comunicado do MPLA indica ainda que se reserva ao direito de voltar a recorrer às instâncias de justiça e à Entidade Reguladora da Comunicação Social Angolana, «no sentido de fazerem cumprir, de facto e de júri, com o estabelecido nos termos da Constituição e da lei, quanto aos limites ao exercício da liberdade de imprensa e de opinião.»
Reagindo a esta controvérsia ao microfone da RFI, Jorge Valentim, antigo quadro da UNITA e actual membro do comité central do MPLA, considera que se trata de «uma tentativa de abusar os angolanos» e uma «prova de que desconhecem a Historia universal e a Historia de Angola.»
Ao recordar a figura de Agostinho Neto que «representava o pensamento nacionalista, o defensor acérrimo e corajoso do nacionalismo angolano», Jorge Valentim sublinha que «foi várias vezes preso pela PIDE». Durante a luta de libertação, Jorge Valentim recorda o momento em que o regime do Estado Novo decidiu desterrar Agostinho Neto para Cabo Verde. «Quando ele estava para ser desterrado, fomos ao aeroporto da Portela, gritamos e assobiamos. Ele acenou para nos, estava ao lado da sua esposa, acenou para nos levantando o punho e ficamos bastante contentes de ele ter correspondido. Passado um tempo estávamos envolvidos pela PIDE, mas todos estávamos solidários», recorda o membro do comité central do MPLA.
Jorge Valentim, membro do Comité central do MPLA
Por seu lado, em declarações à imprensa esta quarta-feira, William Tonet, director do semanário «Folha 8», dá conta da sua incompreensão perante as reacções de indignação expressadas a nível da opinião pública e em particular por parte do MPLA. «Este comunicado mostra que não leram o «post» porque não se tratou de uma notícia. Não saiu na edição impressa do jornal online, nem em papel, mas no Facebook do Folha 8», argumenta o jurista e jornalista.
Ao referir que «o texto se resume a duas linhas», em que «não se diz que Agostinho Neto era solidário com a escravatura», William Tonet considera «uma vergonha que quer analistas, quer a própria rádio pública falem de coisas que de facto não viram.»
Para o director da Folha 8 «Estamos a voltar ao antigamente, em que só há uma voz e que quem contrariar a voz do dono, ou é preso ou é assassinado, porque o Bureau politico (do MPLA) no seu comunicado, já diz o que o tribunal deve fazer».
William Tonet, director do semanário angolano Folha 8
Fundado em meados dos anos 90, o jornal privado «Folha 8» tem sido uma das vozes críticas na imprensa angolana perante o poder político. O seu director e fundador, William Tonet, foi múltiplas vezes processado por figuras ligadas ao antigo Presidente José Eduardo dos Santos.
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