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Angola: Continua a tensão entre angolanos e brasileiros da IURD

Em Angola, continua a tensão em torno da Igreja Universal do Reino de Deus, depois de templos terem sido ocupados por angolanos descontentes com a gestão brasileira e de a polícia ter colocado patrulhas junto aos locais para evitar desacatos. Na quinta-feira, a Procuradoria-Geral da República angolana anunciou que "está a trabalhar" no processo-crime que envolve pastores angolanos e brasileiros da IURD em Angola.

Igreja Universal do Reino de Deus, Luanda. 14 de Novembro de 2012.
Igreja Universal do Reino de Deus, Luanda. 14 de Novembro de 2012. AFP - ESTELLE MAUSSION
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Esta quinta-feira, a Procuradoria-Geral da República angolana anunciou que "está a trabalhar" num processo-crime que envolve pastores angolanos e brasileiros da Igreja Universal do Reino de Deus em Angola e avançou que os advogados da IURD apresentaram uma outra queixa-crime na sequência da tomada de templos na segunda-feira.

Os religiosos angolanos denunciam evasão de divisas, abuso de autoridade, racismo e imposição da prática de vasectomia. A gestão brasileira da IURD nega e diz que essas acusações servem apenas para justificar actos criminosos, visto que o processo se encontra na justiça.

Ivone Teixeira, directora de comunicação da igreja liderada pelo bispo brasileiro Honorilton Gonçalves, condena a ocupação de templos e assegura que estão a ser tomadas medidas para repor a legalidade.

Não é verdade, a expressão xenófoba não faz parte da igreja. Acho que este é, sem dúvidas, um assunto que os pastores angolanos procuraram para esconder interesses escusos. A igreja não escolhe pessoas pela cor nem pela raça, mas pela conduta e o seu carácter”, declarou Ivone Teixeira, num som recolhido por Francisco Paulo.

Oiça aqui a reportagem de Francisco Paulo:

Correspondência de Luanda do dia 26 de Junho de 2020

Liderados pelo bispo Valente Bizerra, os pastores angolanos decidiram romper, em Novembro do ano passado, com a representação brasileira em Angola encabeçada pelo bispo Honorilton Gonçalves, por alegadas práticas doutrinais contrárias à religião, como a exigência da prática de vasectomia, castração química, além da evasão de divisas para o exterior do país.

Na segunda-feira, um grupo de pastores disse ter assumido o controlo de templos da instituição em Luanda e nas províncias angolanas da Lunda-Norte, Huambo, Benguela, Malanje e Cafunfo.

Na terça-feira, bispos e pastores angolanos da IURD anunciaram uma ruptura com a liderança brasileira da instituição devido a "muitos crimes", entre eles, racismo e desvio de dinheiro. 

Depois, a polícia colocou vários agentes junto a templos da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) para "acautelar cenas de desacato", informou Nestor Goubel, porta-voz da polícia em Luanda.

Em comunicado publicado no Facebook, a Igreja Universal do Reino de Deus afirma que foi invadida em algumas localidades por "ex-pastores desvinculados da instituição por práticas e desvio de condutas morais e em alguns casos criminosas contrárias aos princípios cristãos". O documento classifica a atitude dos religiosos angolanos de "práticas criminosas".

Segundo a nota, os bispos e pastores rebelados foram "tomados por um sentimento de ódio" e realizaram "ataques xenófobos". "Agrediram e feriram pastores, esposas de pastores e funcionários, usando a violência com objectivo de tomar de assalto a igreja com propósitos escusos", afirma o comunicado.

A nota também apela a "comunidades competentes" para que resolvam o problema.

Segundo o “post”, a Igreja Universal do Reino Deus está oficialmente em Angola desde 1992, e conta actualmente com 512 pastores: 419 angolanos, 65 brasileiros, 24 moçambicanos e quatro são-tomenses.

Entretanto, a IURD em Angola comunicou, na sua página Facebook, que apesar da reabertura, esta quarta-feira, ao culto presencial, as suas igrejas vão continuar fechadas em todo o país, por não estar garantida a segurança de pastores e fiéis, tanto devido “aos recentes acontecimentos desencadeados por actos de invasão e rebelião por parte dos ex-pastores” quanto “devido à evolução da situação epidemiológica da covid-19”.

 

Crimes e muitas irregularidades

Na terça-feira, em entrevista exclusiva à RFI, o pastor angolano Silva Matias afirmou que a ruptura no seio da IURD aconteceu porque "muitos crimes e muitas irregularidades têm sido cometidos pela liderança brasileira". Entre as denúncias, Matias cita o racismo por parte dos membros da instituição no Brasil, entre eles, o bispo Edir Macedo, chefe da Igreja Universal.

"Em uma reunião fechada, uma conferência que ele fez connosco, ele disse que nós, pretos, temos essa aparência porque nossos ancestrais, nossas mães, quando concebiam, tinham muito contacto com macacos. Isso foi uma tremenda aberração e uma autêntica falta de respeito, vindo dessa pessoa que é líder fundador da igreja", afirmou.

Pastor da IURD, Silva Matias

O pastor angolano também acusa o bispo brasileiro Honorilton Gonçalves, ex-vice-presidente da TV Record de racismo. "Sabemos que ele, um homem branco, trata os negros com desdém", reitera.

Matias também refuta as declarações de Gonçalves, que afirmou que os angolanos que se rebelaram não são mais religiosos. "Nós não somos 'ex-pastores' porque a igreja foi tomada a nível nacional. De Cabinda a Cunene, as 18 províncias foram tomadas porque os pastores já não se vêem na gestão brasileira", declarou à RFI.

 

 

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