Dia de todos os protestos na Guiné-Bissau
Esta quinta-feira, várias correntes da sociedade guineense a nível político e sindical saíram às ruas de Bissau para manifestarem. Os partidos da oposição parlamentar (PRS e Madem) efectuaram uma marcha para reclamar os lugares na mesa do novo parlamento, acusando o PAIGC de os pretender preterir. Por seu lado, os partidos da nova maioria (PAIGC, APU-PDGBG, PND e UM), através duas suas estruturas femininas, também realizaram uma concentração para exigir a nomeação do Governo saído das eleições de 10 de Março, enquanto os sindicatos se mobilizavam para pedir melhorias de condições de vida e de trabalho.
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As três manifestações decorreram de forma pacífica ainda que vigiadas de perto por importantes dispositivos da polícia.
Com pouca adesão dos trabalhadores, as duas centrais sindicais, UNTG e CGSI, que têm organizado desde há algumas semanas movimentos de greve para reclamar aumentos salariais e a aplicação de textos relativos aos estatutos dos funcionários públicos, prometeram hoje voltar às ruas ou mesmo convocar uma greve geral de 15 dias, para expressar o repúdio dos funcionários públicos em relação aos políticos que já não merecem a sua confiança.
Paralelamente, os partidos PRS e Madem colocaram os seus simpatizantes nas ruas, em grande número, para tornar a defender o que têm reivindicado ao nível da Assembleia Nacional Popular. O PRS reclama o lugar de primeiro secretário e o Madem o posto de segundo vice-presidente na mesa parlamentar. Os dois partidos, que totalizam 48 dos 102 lugares no novo parlamento, acusam o PAIGC de pretender guardar para si os dois lugares, ainda que de forma arbitrária.
Durante a marcha destes dois partidos realizada a partir da avenida Combatentes da Liberdade da Pátria até ao largo da Câmara Municipal de Bissau, Jorge Malu, um dos vice-presidentes do PRS enfatizou o carácter pacífico desta iniciativa. "Estamos a reivindicar a nossa razão na base do civismo e do respeito pela democracia é isso que estamos a demonstrar hoje, estamos a dar uma lição de democracia. Fizemos uma manifestação pacífica, não pedimos a ninguém para abrir alas e não incitamos ninguém à violência. Nós não somos violentos, condenamos e pedimos-vos para condenarem a violência energicamente", declarou o dirigente político em referência às declarações proferidas pelo líder do PAIGC, Domingos Simões Pereira, que durante uma manifestação dos seus apoiantes no dia 25 de Maio pediu aos militares para "abrirem alas ao povo para resgatar os seus direitos".
Do outro lado do xadrez político, as mulheres de quatro partidos que constituem a maioria parlamentar, realizaram uma vigília na praça Che Guevara em sinal de protesto pelo facto de o Presidente guineense, José Mário Vaz, ainda não ter nomeado o novo chefe do governo. ao referir que iriam entregar cartas para marcar a sua posição junto das representações da ONU, União Africana, União Europeia, CEDEAO e CPLP, Joana Kopte, da Assembleia do Povo unido - Partido Democrático da Guiné-Bissau declarou que as mulheres guineenses pedem ao Presidente para nomear o governo para o país sair do impasse. "Não há escola, não há nada. As mulheres não conseguem vender e têm crianças em casa sem nada para comer", argumentou.
Quase três meses depois das legislativas de 10 de Março, continua por indigitar o novo Primeiro-Ministro devido a um novo bloqueio político resultante dos desacordos sobre a repartição dos cargos de direcção do parlamento entre os dois blocos nomeadamente constituídos pelo PAIGC e a APU-PDGB e, do outro lado, pela oposição encabeçada pelo Madem-G15 e o PRS. Perante este bloqueio, o Presidente da República que conclui o seu mandato no próximo dia 23 de Junho, reiterou ainda no passado fim-de-semana que só vai nomear o primeiro-ministro depois de ser concluído o processo de eleição para a mesa da Assembleia Nacional Popular.
Neste contexto, os novos parlamentares da Guiné-Bissau devem reunir-se a partir de 11 de Junho até ao 22 de Julho, com a eleição do segundo vice-presidente do parlamento na sua agenda. Mais pormenores com Mussa Baldé.
Mussa Baldé, correspondente da RFI em Bissau
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