Portugal/Cultura

“E se todos ficássemos sem cultura?”

Participantes de um grupo informal de profissionais da cultura e das artes promovem uma vigília (Vigília Cultura e Artes), junto à Assembleia da República, em Lisboa, 21 de Maio de 2020.
Participantes de um grupo informal de profissionais da cultura e das artes promovem uma vigília (Vigília Cultura e Artes), junto à Assembleia da República, em Lisboa, 21 de Maio de 2020. © Lusa

“E se todos ficássemos sem cultura?” é a pergunta que dá o mote a vigílias Cultura e Artes que saem à rua esta quinta-feira em 16 cidades portuguesas.

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Esta é uma luta travada por todos os profissionais da cultura e das artes que ficaram sem qualquer fonte de rendimento ou que, perante as medidas implementadas pelo Estado português não encontraram na mesma apoio suficiente, durante a pandemia.

O agente cultural de Leiria, Hugo Ferreira, participou esta manhã na vigília em Leiria e lembra que "cultura e educação não são gastos, mas investimentos".

O objectivo deste apelo é mostrar que os trabalhos das artes “continuam a existir”, apesar dos espaços culturais terem sido os primeiros a encerrar e com programação suspensa desde Março.

"Defendemos um sector da cultura que foi o primeiro a fechar, o primeiro a ver a sua actividade completamente interrompida, foi o primeiro a disponibilizar-se para fazer tudo o que estivesse ao seu alcance para auxiliar as pessoas e acompanhá-las durante o confinamento, foi o primeiro que não se soltou para a rua com exigências", descreve Hugo Ferreira.

"Neste momento é provavelmente um dos sectores que menos apoios tem tido, não é considerado essencial. Estamos a falar de um sector muito fragilizado em termos de segurança laboral, com muitos trabalhares independentes. A grande maioria destas pessoas está completamente desprotegida", prossegue.

Em Portugal nunca foi feito um real levantamento do número exacto de pessoas que trabalham no sector cultural. Leiria conta com "algumas centenas de pessoas, mas a cidade é micro, comparada com a dimensão do país. Estamos a falar de muitos muitos milhares", aponta o agente cultural.

As vigílias desta quinta-feira são organizadas por actores, coreógrafos, produtores ou ainda técnicos. Juntos para dar voz aos que, no sector, ficaram sem rendimentos devido à Covid-19.

"Quando falamos em cultura não podemos pensar apenas em cantores ou actores. Há centenas de invisíveis que trabalham para que os espectáculos aconteçam. Todos eles ficaram sem rendimento", lembra Hugo Ferreira.

A título de exemplo, o espectáculo realizado em Leiria e Vila Real que juntou os First Breath After Coma à Banda de Música de Mateus, em formato de orquestra, envolvia 130 pessoas. "Estamos a falar de pessoas que são absolutamente essenciais desde o catering, transporte, iluminação, som, produção, artistas...  Chegamos a um ponto em que os artistas que estão em palco não são a maioria das pessoas envolvidas num espectáculo, antes pelo contrário. Há mais pessoas a produzirem, que estão dependentes da cultura, do que aqueles que conhecemos, que vamos acompanhando nas redes sociais. E se esses estão a passar mal, vamos imaginar todos os outros. Este é todo um sector que pode estar prestes a eclodir", descreve. 

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