Linha Direta

Após descobrir ômicron, África do Sul tem queda de casos de Covid e reduz restrições

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O último relatório do Instituto Nacional de Doenças Transmissíveis, divulgado neste domingo (2), registrou 4.379 novos infectados pelo coronavírus na África do Sul, menos da metade dos 11.535 testes positivos divulgados no dia 2 de dezembro. O número de mortes por conta da doença também diminuiu. Foram 30 neste domingo. Um mês antes a doença havia provocado 44 mortes no país.

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Atualmente há 184.191 pessoas isoladas com COVID-19, em tratamento, sendo que 9.353 delas estão hospitalizadas.
Atualmente há 184.191 pessoas isoladas com COVID-19, em tratamento, sendo que 9.353 delas estão hospitalizadas. AP - Denis Farrell
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Vinícius Assis, correspondente da RFI na Cidade do Cabo.

Parece que ficou em 2021 a grande preocupação da África do Sul com a quarta onda de infecções por Covid-19. Pouco mais de um mês após ter anunciado ao mundo a existência da variante ômicron, o número de casos no país já atingiu seu auge sem ter causado muitas mortes, segundo autoridades do país.

Com esta justificativa, o governo suspendeu o toque de recolher, em vigor desde o ano passado. Agora ninguém mais é proibido de estar nas ruas depois da meia-noite, como vinha sendo exigido em todo o país. Com isso, 2022 começou com festas cheias em vários locais da Cidade do Cabo, que fica em Western Cape, a única das nove províncias que não tem registrado diminuição de hospitalizações de pacientes com Covid-19 e também uma das duas únicas províncias sul-africanas que não têm visto queda no número de novos casos. A outra é Eastern Cape.

Depois de ter sido identificada, em novembro, a variante ômicron rapidamente se tornou dominante no país, fazendo o registro de novos infectados disparar, chegando a uma média de mais de 23.000 casos por dia no meio de dezembro. A velocidade com que essa quarta onda, impulsionada pela variante ômicron, subiu, atingiu o ápice e depois diminuiu tem impressionado quem acompanha a pandemia de perto.

“Pico em quatro semanas e declínio abrupto em outras duas. Foi mais uma inundação do que uma onda”, minimizou Fareed Abdullah, do Conselho de Pesquisa Médica da África do Sul.

Para a Organização Cívica Nacional da África do Sul (Sanco, sigla em inglês), o pico da quarta onda pode ter sido superado, mas a pandemia ainda não. “A Covid-19 ainda está entre nós”, disse o porta-voz da organização, Thamsanqa Kenke, citando dezenas de mortos por conta da doença recentemente. “Estamos falando de chefes de família, falando de criadores de empregos neste país”, lembrou.

País ainda tem capacidade hospitalar ociosa

O cientista brasileiro Tulio de Oliveira, que mora aqui e lidera a equipe que identificou as variantes ômicron, em novembro, e beta, no fim de 2020, disse que a atitude da África do Sul é intrigante para o mundo, mas ele acredita que o governo pode estar agindo corretamente.

“A detecção precoce da ômicron, ciência de alto nível, baixo número de infecções e hospitalizações quando a variante surgiu e a confiança entre o governo e os cientistas estão permitindo que a África do Sul seja líder mundial em ciência e resposta à Covid", publicou o brasileiro em sua conta no Twitter. Ainda segundo o cientista, a nação que confirmou até agora o maior número de casos no continente africano ainda tem capacidade hospitalar ociosa e cientistas clínicos e epidemiológicos no país podem analisar em tempo real os dados para determinar o efeito da gravidade dos casos.

Assim que o mundo soube da descoberta da variante, países reagiram proibindo a entrada de viajantes vindos da África do Sul. O brasileiro chamou de estúpida esta reação internacional, destacando que o país está liderando o mundo em ciência e proteção de sua economia.

“A proibição severa, ineficiente e estúpida de viagens prejudicou muito nossa economia. O governo e as empresas precisam que a economia continue funcionando para cobrir as perdas da indústria do turismo, que contribui com 82 bilhões de Rands (mais de R$ 28 bilhões) anualmente”, escreveu o cientista.

Os cancelamentos de voos atrapalharam os planos do representante comercial Douglas Fernandes, gaúcho que se mudou para a África do Sul com a esposa em abril. Os dois pretendiam viajar para a Europa neste fim de ano, mas tiveram que mudar os planos. Vieram para a Cidade do Cabo, como outros que também não conseguiram sair do país. Mas isso tudo trouxe prejuízo para o casal.

Douglas Fernandes e a esposa Ligia Martina Mattes
Douglas Fernandes e a esposa Ligia Martina Mattes © Arquivo pessoal

“Você perde o direito de ir e vir, basicamente porque apesar de ter algumas alternativas para sair da África do Sul os preços estavam fora da realidade”, disse.

Testes são suficientes?

Esta queda de novos casos deve ser analisada com cautela, porque isso também pode significar menos testes sendo feitos. Os resultados positivos que estão no relatório deste domingo representaram 23,1% de 18.970 testes feitos em 24 horas. O percentual não é muito diferente do divulgado um mês antes (22,4%), só que no dia 2 de dezembro foram feitos 51.402 testes, mais que o dobro do que consta no último relatório.

Isso pode se justificar pelo período de festas, pela indisponibilidade de kits na rede pública ou o alto custo do exame, quando feito em clínicas particulares. Levando em conta que muitos infectados recentemente têm apresentado sintomas leves, como febre, dor de garganta, tosse seca e nariz entupido, nem todo mundo tem feito teste ao se sentir assim. E em um lugar onde, como dizem os locais, é possível estar exposto às quatro estações em um só dia, onde o vento é tão forte que árvores crescem tortas, apresentar estes sintomas é tratado como algo comum.

A brasileira Dalva Estela de Azevedo
A brasileira Dalva Estela de Azevedo © Arquivo pessoal

Foi assim que se sentiu quase um mês atrás Dalva Estela de Azevedo. A brasileira mora na África do Sul com o marido e a filha, e na época teve contato com alguém que testou positivo para Covid. Só que a família não conseguiu fazer testes para saber se também estava infectada. Ela disse à reportagem que não havia energia elétrica em hospitais públicos que procuraram para fazer o exame e em clínicas particulares atendentes chegaram a pedir receita médica para fazer os testes, o que dificultaria e encareceria muito a busca pelo diagnóstico.

“Eu acabei, infelizmente, não testando. Melhorei dos sintomas e essa situação me fez me sentir bem mal. Fiquei em casa, obviamente, porque não queria contaminar ninguém. Mas eu me senti extremamente mal pelo meu amigo, pelo fato de não saber se eu que passei (o vírus) para ele. Foi uma epopeia para tentar testar e acabei não testando. Então, eu não sei se eu realmente fiquei positiva ou não”, contou.

Para estimular o aumento de testes sendo feitos, nas últimas semanas alguns dos maiores laboratórios sul-africanos concordaram em reduzir os valores dos testes: O PCR (ainda exigido em muitos casos de viagens internacionais) não pode custar mais do que 500 Rands (aproximadamente R$174) nestas clínicas e o teste rápido não deve ultrapassar 150 Rands (o equivalente a pouco mais de R$ 50) onde o acordo foi feito.

Na semana passada, autoridades sul-africanas suspenderam a necessidade de quarentena para quem teve contato com infectados se não apresentarem sintomas. Atualmente há 184.191 pessoas isoladas com Covid-19, em tratamento, sendo que 9.353 delas estão hospitalizadas.

O uso de máscaras em público ainda é obrigatório. Aglomerações não podem reunir mais do que mil pessoas em locais fechados e duas mil em áreas abertas. Em áreas pequenas, o público não pode ultrapassar 50% da capacidade total.

O presidente Cyril Ramaphosa pediu a todos os sul-africanos com mais de 12 anos que se vacinem. Ele lembrou que a vacinação continua sendo a principal forma de se combater o coronavírus.

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