O brasileiro Daniel Dreifuss assina a produção do filme alemão "Nada de Novo no Front" (All Quiet on the Western Front"/Netflix), favorito na categoria de Melhor Filme Internacional do Oscar 2023. O filme brasileiro "Marte Um" estava na lista de pré-selecionados, mas não entrou na "short list". Mesmo assim, o Brasil estará presente em Los Angeles, na cerimônia de entrega prevista em 12 de março, com o longa-metragem produzido por Dreifuss.
Cleide Klock, correspondente da RFI em em Los Angeles
Na pré-lista do Bafta – prêmio da Academia Britânica de Cinema e Televisão – divulgada no último dia 6, "Nada de Novo no Front" foi a grande surpresa. O filme escolhido pela Alemanha para representar o país no Oscar também liderou a pré-seleção dos britânicos, com 15 nomeações no total, incluindo melhor filme, filme internacional, ator, ator coadjuvante e direção, para Edward Berger.
Em entrevista à RFI, Dreifuss disse que nunca esperava um acolhimento tão positivo quanto o filme recebeu, depois de ouvir, por muito tempo, que o longa não funcionaria. "Ninguém vai querer ver este filme porque é de época, triste, duro", me diziam. Agora, com as indicações aos prêmios, o produtor de 44 anos afirma estar "feliz" com a visibilidade alcançada pela história.
"Recebi esse projeto há dez anos, era pensado como um filme em inglês. Ele chegou na minha mão com um pé na ação e um pé no personagem, drama e ação. Mas naquela época não deu certo. Depois, eu voltei ao "All Quiet", que era uma história que eu nunca tinha abandonado", conta Daniel Dreifuss.
Ao revisitar o projeto, em vez de chamar grandes nomes e fazer uma produção hollywoodiana, Dreifuss usou uma tática que viu que já havia dado certo, e que tinha garantido a ele uma indicação ao Oscar em 2013, com o filme "No", estrelado por Gael Garcia Bernal. O filme que representou o Chile, há 10 anos, foi a primeira produção assinada por ele, que na época lutou para que a história do referendo que derrotou Augusto Pinochet também fosse feita na língua original onde a trama é contada.
"É uma marca que eu sempre busquei. Estava difícil levantar o filme aqui, até que eu falei: vamos para a Alemanha, vamos fazer esse filme em alemão, vamos voltar ao texto original", recorda. "Eu estava tendo o mesmo conflito que tive anos antes com o 'No', que era: como essas pessoas, em um momento tão crucial para a Alemanha, vão estar no meio da trincheira falando inglês?, questionou. "Eu não consegui justificar isso para mim mesmo, então fomos fazer na Alemanha e acho que foi a escolha certa", conta Dreifuss.
“Nada de Novo no Front” é uma adaptação do clássico homônimo do escritor alemão Erich Maria Remarque, lançado em 1929. A primeira versão para os cinemas, de 1930, teve quatro indicações e conquistou duas estatuetas do Oscar: Melhor Filme e Melhor Direção para Lewis Milestone. Na época, o filme foi feito em inglês, assim como a segunda adaptação, de 1979.
A trama retrata a realidade dos jovens que são empurrados para as guerras, atraídos pelo marketing governamental, e sem preparo algum para o que vão encontrar na frente de combate. Mostra os horrores e como as vidas não valem nada para os senhores que assinam papéis em suas cadeiras confortáveis, longe do sangue que escorre nas trincheiras. O longa dá destaque à noite anterior ao acordo de paz que encerrou a Primeira Guerra Mundial, em novembro de 1918.
O brasileiro diz que a maioria dos projetos que realiza, começam com um roteiro para o qual ele vai buscar um diretor, mas não exclusivamente. "Eu me considero um produtor criativo, então eu concebo os projetos", afirma. No caso de "Nada de Novo no Front", ele recebeu o roteiro e concebeu a versão que queria – "mais visceral, mais realista e autêntica, não de ação, com o personagem se sobrepondo à ação" –, que não fosse um espetáculo e, sim, um filme claramente antibélico, em que a guerra fosse a vilã da história. "E, que tivesse sim, um diálogo direto com o mundo que vivemos", diz Dreifuss.
Dreifuss nasceu na Escócia, cresceu entre Belo Horizonte e o Rio de Janeiro e mora há 20 anos em Los Angeles. Ele é filho de um dos cientistas políticos mais conceituados do Brasil, René Dreifuss, autor de obra imprescindível para a compreensão do golpe militar, o livro "1964: a conquista do Estado".
O produtor tem o enredo do filme e as incoerências das guerras muito próximos de sua história familiar. O avô lutou na Primeira Guerra pela Alemanha; já na Segunda Guerra, foi enviado a um campo de concentração. Apenas quatro pessoas de sua família sobreviveram ao conflito e migraram para o Uruguai, onde nasceu o pai.
Além de "Nada de Novo no Front", e "No", Daniel assinou a produção de "Sérgio" (2020), estrelado por Wagner Moura e Ana de Armas. O longa relata como foram os últimos dias do diplomata brasileiro Sérgio Vieira de Mello, Alto Comissário das Nações Unidas para Direitos Humanos, que morreu em Bagdá, em um ataque terrorista na sede da ONU, em 2003. Já a próxima série assinada por Dreifuss, e ainda sem data de estreia, foi filmada no Marrocos.
"Eu não sou um produtor arraigado a um lugar. Eu vou onde as histórias estão e para mim as histórias são universais", finaliza o brasileiro.
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