“Estou muito feliz, brother!”, amigos contam últimas horas de Márcio Freire, surfista brasileiro que morreu em Portugal
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Amigos de Márcio Freire, o surfista baiano que morreu na quinta-feira (5), na Praia do Norte, em Nazaré, Portugal, contam como foram suas últimas horas. Ele estava feliz por ter surfado nas ondas gigantes. Márcio fazia a sua segunda temporada em Nazaré. A tragédia chocou a comunidade do surfe nacional e internacional.

Luciana Quaresma, correspondente da RFI em Portugal
Amigo de Márcio, Thiago Jacaré, outro surfista brasileiro de ondas grandes, que estava no mar nesta quinta-feira, na Praia do Norte, chegou a trocar mensagens de áudio com Freire, duas horas antes do acidente e compartilhou com a RFI a alegria do amigo por ter conseguido surfar ótimas ondas na remada, naquele dia.
“Estou muito feliz, brother! Foi show de bola! Estou voltando lá para pegar minha prancha. Tudo certo! Como foi a sessão de vocês?", disse Freire.
Thiago e Márcio tinham uma relação de amizade grande e chegaram a surfar juntos na Praia do Norte no dia anterior, quarta-feira (4). No dia seguinte, no entanto, se desencontraram. Thiago explica o que aconteceu na última onda do amigo.
“Ele foi fazer o tow-in, pegou uma onda e não conseguiu completar a onda até o final”, diz. “No finalzinho, a onda o engoliu e ele tomou várias ondas na cabeça. O pessoal não conseguia encontrá-lo, pois ele ficou muito tempo debaixo d’água e quando o encontraram, praticamente, ele já estava morto”, lamenta.
“A unidade de resgate no mar foi muito competente, os Bombeiros também, pois o Município da Nazaré trabalha com uma organização operacional de praia muito profissional que dá respaldo na questão da segurança, mas, infelizmente, ele não conseguiu ser reanimado”, explica Thiago. “Todos aqui em Nazaré estão muito tristes, muito abalados com o que aconteceu. O Marcinho era um cara muito carismático, adorado por todos e a sua perda comoveu o mundo inteiro do big surfe e do surfe. Uma perda muito grande, principalmente para a gente que tinha um elo muito legal com ele”, completa o surfista.

A última onda
O videomaker Bred Oliveira, que está filmando pela primeira vez em Nazaré, conseguiu capturar a última onda surfada por Márcio Freire, na Praia do Norte. “O mar não estava grande, mas as ondas estavam fortes. Eu estava filmando despretenciosamente sem saber quem eram os surfistas. Pouco tempo depois ouvimos uma sirene de ambulância sem entender nada, vimos jet skis na areia, várias sirenes na Praia do Norte e foi então que percebemos que algo de ruim tinha acontecido, mas, neste momento, não sabíamos quem era. Minutos depois soubemos que era um brasileiro e que era o Marcinho, o Márcio Freire”, conta.
O paranaense conhecido como Alemão de Maresias, um dos pilotos de segurança aquática mais reconhecidos do mundo, experiente surfista e piloto de tow-in, que conhece as ondas de Nazaré como poucos, tenta explicar o que pode ter acontecido com Freire.
“Eu acredito que a onda deve ter pego ele muito forte e o jogado muito fundo e talvez o colete não tenha tido a flutuação suficiente. Isso fez com que ele permanecesse mais tempo embaixo d’água. Isso faz parte do cenário das ondas gigantes em Nazaré. Mesmo nas ondas grandes, às vezes a maneira como a onda te pega, ela te joga muito fundo e você demora mais para voltar. Sem o auxílio de uma flutuação adequada isso pode comprometer o retorno e te deixar em uma situação bem difícil”, explicou.
“Não e à toa que é conhecida assim, não só pelo tamanho, pela dimensão que ela se forma, mas também pela potência que ela quebra. Eu acho que na situação do Marcinho, a onda deve ter pego ele de mal jeito jogado ele muito fundo, pois a onda foi entre o pico 1 e o pico 2, que é uma área mais profunda e deve ter levado ele lá pra baixo. Em situações como esta é muito difícil a gente lidar”, diz o surfista.
“Eu já passei por situações assim de ficar muito tempo embaixo d’água e pode ter sido que isso tenha feito com que ele permanecesse mais tempo em baixo d’agua e tomado umas duas ou três ondas”, complementou.
Tem sempre gente correndo perigo
Carlos Muriongo, um dos produtores de filmes mais antigos na Nazaré, conhece bem o mar da Praia do Norte e explica que apesar de toda a experiência de Márcio e o esquema de segurança em Nazaré, o resgate é sempre muito difícil e os surfistas estão sempre se arriscando.
“Não estava aquele mar gigantesco. Ele entrou na remada depois o mar cresceu e ele foi para o tow-in e ninguém sabe o que aconteceu. Ele se afogou mesmo com toda assistência que tem a Nazaré, com toda a logística de segurança, com todo mundo presente. Às vezes é difícil prestar um bom socorro, porque Nazaré é mesmo difícil. Não é para todo mundo surfar. Cada onda, em vídeo e foto ou ao vivo, pode ter certeza que tem gente correndo perigo”, afirma.
“É uma onda muito perigosa e uma onda difícil de fazer resgate e temos que sempre parabenizar a galera que resgata, salvamento, os salva-vidas, a Polícia Marítima que dá apoio. Márcio Freire era um cara super big rider, profissional, experiente mas chegou o dia dele. Que as ondas e o céu estejam com ele”, acrescenta.
Na última publicação feita por Márcio Freire nas redes sociais, há seis dias, o surfista estava acompanhado pelos pais, em Portugal.
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