Rendez-vous cultural

Artes Marciais através da história e do cinema é tema de exposição em Paris

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Com uma imagem em reprodução gigante de Bruce Lee na fachada, o Museu do Quai Branly, de Paris, apresenta a exposição "O Combate Derradeiro – Artes Marciais na Ásia". A visita, lúdica e didática ao mesmo tempo, é permeada de história e filmes 

Fachada do Museu do Quai Branly, às margens do rio Sena, traz imagem de Bruce Lee, destaque da exposição "Combate Derradeiro" sobre as artes marciais asiáticas (20/10/21).
Fachada do Museu do Quai Branly, às margens do rio Sena, traz imagem de Bruce Lee, destaque da exposição "Combate Derradeiro" sobre as artes marciais asiáticas (20/10/21). © Patricia Moribe/RFI
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Por Patricia Moribe

“A arte marcial é como um patrimônio cultural imaterial, transmitida de mestre a discípulo, através dos séculos”, explica Stéphane du Mesnildot, especialista em cinema asiático e um dos curadores da exposição.

O cinema é o inusitado fio condutor da mostra, em meio a peças históricas e obras contemporâneas. “O corpo é a ferramenta, o suporte das artes marciais; o cinema permitiu preservar as impressões desses corpos, as práticas, e ao mesmo tempo, desenvolver uma arte visual própria”, relata o curador.

Deuses e demônios do cinema indiano

A viagem no tempo começa pela Índia, onde o tema do combate é central na mitologia, antes da expansão do hinduísmo e do budismo. Os textos sagrados Veda, compostos na Índia a partir do século 15 a.C, descrevem uma guerra entre deuses e demônios.

Les arts martiaux d'Inde au Musée du Quai Branly, à Paris>
Les arts martiaux d'Inde au Musée du Quai Branly, à Paris> © musée du quai Branly - Jacques Chirac, foto Léo Delafontaine

“O cinema indiano de artes marciais é épico, popular, com canções, lutas, criaturas fantásticas e veneração de artistas”, diz du Mesnildot, colocando o gênero dentro do cinema cunhado de “Bollywood”, com muita música e cores.

De Hong Kong para o mundo

O termo kung fu se popularizou tardiamente através do cinema para designar uma grande variedade de artes marciais. As escolas marciais chinesas preparavam monges guerreiros, com tradições inspiradas por animais e terapias corporais datadas de milênios, tendo como fundamento a relação do corpo com as forças da natureza. A ética do combate associa força física e mental, apoiando-se na meditação budista ou na busca da longevidade taoísta.

Mas foi em Hong Kong que o gênero ganhou força e se consagrou como uma forma de arte. Os irmãos Shaw dominaram a indústria cinematográfica da ilha dos anos 1960 a 1980. Inspirado no modelo hollywoodiano, eles constroem um gigantesco estúdio, com espaço para até sete produções simultâneas. Surge então todo um culto em torno de artistas e sagas.

Cartaz da exposição "Combate Derradeiro"traz a foto de Bruce Lee>
Cartaz da exposição "Combate Derradeiro"traz a foto de Bruce Lee> © musée du quai Branly - Jacques Chirac

 

Mas uma produtora rival, a Golden Harvest, tem um trunfo implacável - Bruce Lee – que vai colocar o termo “kung fu” no mapa. Nascido em São Francisco (EUA) em 1940, Bruce Lee cresceu em Hong Kong, onde foi ator infantil e depois estudou artes marciais com Ip Man, outro ícone das artes marciais.

Bruce Lee criou seu próprio estilo, o jeet kune do, e virou lenda através dos gestos estilizados, velocidade e sons felinos. “O culto a Bruce Lee ainda é muito forte, principalmente entre jovens - ele é a revolta contra a injustiça, sua imagem pode ser reconhecida ainda hoje em todo o mundo”, explica o curador da exposição.

A morte de Lee, aos 32 anos, em Hong Hong, é envolta em mistérios. Ele teria passado mal após tomar um medicamento para dor de cabeça, que provocou um edema cerebral.

Estética e cerimonial

Do Japão vem toda uma outra estética, em torno de um personagem mítico: o samurai. Um dos principais exemplos é “Os Sete Samurais” (1954), de Akira Kurosawa, premiado no Festival de Veneza.

O cerimonial faz parte das artes marciais no Japão - exposição "Combate Derradeiro", Museu do Quai Branly, Paris>
O cerimonial faz parte das artes marciais no Japão - exposição "Combate Derradeiro", Museu do Quai Branly, Paris> © musée du quai Branly - Jacques Chirac, foto Léo Delafontaine

“O cinema japonês é construído em torno de códigos estéticos, cerimonial rígido, duelo entre classes e interpretações fascinantes”, explica du Mesnildot. “O manejo do sabre obedece a um ritual muito preciso e a morte chega em uma fração de segundo”, acrescenta.

O curador lembra ainda que o cinema japonês também teve intérpretes femininas marcantes, como Meko Kaiji ou Junko Fuji . “São mulheres independentes e que lutam no contexto de clãs. Podemos vê-las também como figura de emancipação feminina”.

A exibição traz ao longo do percurso intervenções artísticas contemporâneas, mangás (quadrinhos), instalações e pinturas - terminando com uma grande vitrine de robôs, inspirados no mito do samurai.

Vitrines com robôs inspirados em samurais fazem parte da exposição "Combate Derradeiro", no Museu do Quai Branly, em Paris.
Vitrines com robôs inspirados em samurais fazem parte da exposição "Combate Derradeiro", no Museu do Quai Branly, em Paris. © musée du quai Branly - Jacques Chirac, foto Léo Delafontaine

"O Combate Derradeiro – Artes Marciais na Ásia" fica em cartaz no Museu do Quai Branly, em Paris, até 16 de janeiro de 2022.

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