Rendez-vous cultural

Exposição sobre Amazônia em Paris foge de clichês e destaca produção artística contemporânea

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O museu do Quai Branly, em Paris, abre a exposição "Amazônia: Criações e Futuros Indígenas”, nesta terça-feira (30), com o objetivo de abordar uma nova perspectiva sobre a região amazônica. Fruto de três anos de planejamento, a mostra busca desconstruir a visão tradicionalista e de exotismo da floresta, apresentando-a como um mundo vibrante, contemporâneo e plural, de criação. 

Fachada do museu do Quai Branly, em Paris, exibe chamada para mostra "Amazônia", em Paris, em 29 de setembro de 2025.
Fachada do museu do Quai Branly, em Paris, exibe chamada para mostra "Amazônia", em Paris, em 29 de setembro de 2025. © Patrícia Moribe / RFI
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Patrícia Moribe, da RFI em Paris

A curadoria da exposição é assinada pelo artista, designer e militante dos direitos dos indígenas brasileiros Denilson Baniwa, do povo Baniwa, da região do Alto Rio Negro, e pelo antropólogo Leandro Varison, diretor-adjunto do Departamento de Pesquisa e Ensino do museu parisiense.

Denilson Baniwa explica que o desejo curatorial foi fugir de uma Amazônia apresentada como "uma representação exótica ou de um espaço inabitável, ou clichê". A estratégia foi dar voz a artistas da Amazônia brasileira, peruana e colombiana, para mostrar uma Amazônia "mais plural e diversa", manifestando-se "a partir de si própria", e não mais a partir de um "ponto de vista ocidental europeu".

Obras de Paulo Desana, na mostra "Amazônia", no Museu do Quai Branly, em Paris, em 29 de setembro de 2025.
Obras de Paulo Desana, na mostra "Amazônia", no Museu do Quai Branly, em Paris, em 29 de setembro de 2025. © Patrícia Moribe / RFI

Baniwa ressalta que, apesar da diversidade dos povos – alguns isolados, outros na cidade, ou na fronteira entre o urbano e a floresta – eles compartilham reivindicações fundamentais, como "dignidade e respeito" e "o desejo de serem escutadas".

Sem linhas cronológicas ou delimitações geográficas convencionais, o visitante é convidado a passear entre espaços temáticos - abordando tradições, culturas, línguas e gestos artísticos -, nos quais objetos das coleções do museu dialogam com peças contemporâneas. 

Mostra "Amazônia", no Museu do Quai Branly, em Paris, em 29 de setembro de 2025.
Mostra "Amazônia", no Museu do Quai Branly, em Paris, em 29 de setembro de 2025. © Patrícia Moribe / RFI

De objetos de observação a protagonistas

A escolha do termo "criações" no título é central para a proposta da exposição. Para Varison, era fundamental mostrar que a região não é "apenas uma terra de tradição", mas um espaço onde os povos estão ativamente "criando mundos, relações e biodiversidade". Ele destaca a colaboração com coletivos e artistas indígenas, como o Instituto Cultural Maluá, do povo Inacarajá, que demonstra como esse patrimônio "continua sendo produzido e sendo transmitido para as próximas gerações".

Leandro Varison, um dos curadores de "Amazônia", entre fotografias feitas por Iano Mac Yawalapiti, no Xingu, exibidas no Museu do Quai Branly, em Paris, em 29 de setembro de 2025.
Leandro Varison, um dos curadores de "Amazônia", entre fotografias feitas por Iano Mac Yawalapiti, no Xingu, exibidas no Museu do Quai Branly, em Paris, em 29 de setembro de 2025. © Patrícia Moribe / RFI

O antropólogo enfatiza ainda a importância de promover as coleções nacionais. "O Brasil valoriza muito pouco as coleções indígenas", lamenta. Ele destaca a parceria crucial com o museu de Arqueologia e de Etnologia da USP para a concepção da exposição. Ele cita ainda instituições que merecem maior apreço, como o Museu Goeldi, em Belém, o Museu dos Povos Indígenas (antigo Museu do Índio), em Brasília, e o Museu Nacional, no Rio de Janeiro.

Valorizar coleções nacionais

Leandro Varison instiga o público brasileiro a priorizar esses espaços culturais, afirmando que os museus e coleções nacionais "valem a pena ser visitados", com uma mensagem dirigida especialmente a um público que "às vezes está mais interessado em conhecer o museu do Louvre do que conhecer a sua própria cultura".

Denilson Baniwa, artista e co-curador da mostra "Amazônia", no Museu do Quai Branly, em Paris, em 29 de setembro de 2025.
Denilson Baniwa, artista e co-curador da mostra "Amazônia", no Museu do Quai Branly, em Paris, em 29 de setembro de 2025. © Patrícia Moribe / RFI

No contexto brasileiro, Denilson Baniwa reforça a necessidade de o país entender que a Amazônia "faz parte do Brasil, não como um lugar isolado ou num lugar que precisa ser protegido de fora para dentro". Ele conclui que é necessário "aproximar o sudeste do norte, o nordeste do norte, para pensar o nosso Estado brasileiro e a sociedade brasileira, porque uma interdepende da outra".

“Amazônia, criações e futuros indígenas” faz parte da Temporada Cruzada França Brasil 2025 e fica em cartaz até 18 de janeiro de 2026, no museu do Quai Branly, acompanhada por uma vasta programação de encontros, espetáculos e concertos.

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