Exposição sobre Amazônia em Paris foge de clichês e destaca produção artística contemporânea
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O museu do Quai Branly, em Paris, abre a exposição "Amazônia: Criações e Futuros Indígenas”, nesta terça-feira (30), com o objetivo de abordar uma nova perspectiva sobre a região amazônica. Fruto de três anos de planejamento, a mostra busca desconstruir a visão tradicionalista e de exotismo da floresta, apresentando-a como um mundo vibrante, contemporâneo e plural, de criação.

Patrícia Moribe, da RFI em Paris
A curadoria da exposição é assinada pelo artista, designer e militante dos direitos dos indígenas brasileiros Denilson Baniwa, do povo Baniwa, da região do Alto Rio Negro, e pelo antropólogo Leandro Varison, diretor-adjunto do Departamento de Pesquisa e Ensino do museu parisiense.
Denilson Baniwa explica que o desejo curatorial foi fugir de uma Amazônia apresentada como "uma representação exótica ou de um espaço inabitável, ou clichê". A estratégia foi dar voz a artistas da Amazônia brasileira, peruana e colombiana, para mostrar uma Amazônia "mais plural e diversa", manifestando-se "a partir de si própria", e não mais a partir de um "ponto de vista ocidental europeu".

Baniwa ressalta que, apesar da diversidade dos povos – alguns isolados, outros na cidade, ou na fronteira entre o urbano e a floresta – eles compartilham reivindicações fundamentais, como "dignidade e respeito" e "o desejo de serem escutadas".
Sem linhas cronológicas ou delimitações geográficas convencionais, o visitante é convidado a passear entre espaços temáticos - abordando tradições, culturas, línguas e gestos artísticos -, nos quais objetos das coleções do museu dialogam com peças contemporâneas.

De objetos de observação a protagonistas
A escolha do termo "criações" no título é central para a proposta da exposição. Para Varison, era fundamental mostrar que a região não é "apenas uma terra de tradição", mas um espaço onde os povos estão ativamente "criando mundos, relações e biodiversidade". Ele destaca a colaboração com coletivos e artistas indígenas, como o Instituto Cultural Maluá, do povo Inacarajá, que demonstra como esse patrimônio "continua sendo produzido e sendo transmitido para as próximas gerações".

O antropólogo enfatiza ainda a importância de promover as coleções nacionais. "O Brasil valoriza muito pouco as coleções indígenas", lamenta. Ele destaca a parceria crucial com o museu de Arqueologia e de Etnologia da USP para a concepção da exposição. Ele cita ainda instituições que merecem maior apreço, como o Museu Goeldi, em Belém, o Museu dos Povos Indígenas (antigo Museu do Índio), em Brasília, e o Museu Nacional, no Rio de Janeiro.
Valorizar coleções nacionais
Leandro Varison instiga o público brasileiro a priorizar esses espaços culturais, afirmando que os museus e coleções nacionais "valem a pena ser visitados", com uma mensagem dirigida especialmente a um público que "às vezes está mais interessado em conhecer o museu do Louvre do que conhecer a sua própria cultura".

No contexto brasileiro, Denilson Baniwa reforça a necessidade de o país entender que a Amazônia "faz parte do Brasil, não como um lugar isolado ou num lugar que precisa ser protegido de fora para dentro". Ele conclui que é necessário "aproximar o sudeste do norte, o nordeste do norte, para pensar o nosso Estado brasileiro e a sociedade brasileira, porque uma interdepende da outra".
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