Rendez-vous cultural

Brasil ganha dois prêmios no Festival de Cinema Latino-Americano de Biarritz

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A 34ª edição do Festival de Cinema Latino-Americano de Biarritz termina nesta sexta-feira (26) com a reprise dos filmes vencedores deste ano. A cerimônia de premiação aconteceu na noite de quinta-feira (25), no sudoeste da França. O Brasil recebeu um prêmio especial do júri para o longa-metragem de ficção "A Melhor Mãe do Mundo" e o prêmio Perspectiva Queer, na categoria curta-metragem, para "Presépio". 

Presépio, curta-metragem do diretor carioca Felipe Bibian, recebeu o Prêmio Perspectiva Queer no Festival de Cinema Latino-Americano de Biarritz.
Presépio, curta-metragem do diretor carioca Felipe Bibian, recebeu o Prêmio Perspectiva Queer no Festival de Cinema Latino-Americano de Biarritz. © divulgação
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Maria Paula Carvalho, enviada especial da RFI a Biarritz  

A cerimônia de encerramento, que acontece esta noite, contará com a exibição do longa-metragem "La Ola", do diretor Sebastián Lelio — um musical que retrata a onda de protestos no Chile em 2018.

Durante uma semana, foram exibidos 71 filmes, de 26 países, distribuídos em três categorias: longa-metragem, documentário e curta-metragem.

"A Melhor Mãe do Mundo", da diretora paulista Anna Muylaert, recebeu o prêmio “Coup de cœur" do júri, uma distinção especial concedida ao longa-metragem que mais emocionou os jurados.

Este é o 20° prêmio do filme, lançado no Brasil em agosto deste ano, estrelado por Shirley Cruz e Seu Jorge. O longa conta a trajetória de uma catadora de lixo que foge com os filhos pequenos pelas ruas de São Paulo para escapar de um marido abusivo.   

Na categoria curta-metragem, "Presépio", do diretor Felipe Bibian, recebeu o Prêmio Perspectiva Queer. "Fico muito feliz, é o reconhecimento da trajetória do curta até aqui e valoriza as discussões que o filme traz, como a democracia e os conflitos geracionais", disse o cineasta em entrevista à RFI. "É um filme muito brasileiro, mas que conseguiu se comunicar com o público estrangeiro", acrescentou. 

"Presépio", que vai estrear no Brasil no Festival do Rio, em outubro, conta a história de uma família carioca reunida na noite de Natal. "Ao longo da noite, a gente descobre, pelas descrições rápidas do amigo oculto, um pouco da intimidade desses personagens, dessa família", diz o diretor. "E a noite se transforma quando a criança da família recebe um brinquedo aparentemente banal, uma arminha de plástico de atirar água, o que transforma aquele quintal da família num coliseu", acrescenta. "Cada um tendo um lugar nessa zona de conflito, uma opinião diferente, baseada nas suas trajetórias até ali", descreve Bibian.

Um dos personagens foi um resistente da ditadura militar, o que, segundo o diretor, "toca ele profundamente em alguns lugares que para outros parecem uma banalidade, uma arminha de plástico, mas isso começa a escalar a discussão".

Felipe Bibian diz que decidiu abordar o tema do armamento como um alerta. "Hoje em dia, com esses governos autoritários ressurgindo com tanta força em diferentes países do mundo, cada um da sua maneira, é importante pensarmos sobre isso", avalia. "É um tipo de cinema que eu admiro, que eu busco fazer: tratar de questões íntimas e familiares e, com isso, consegui abordar o político e o universal", finaliza.

Outros filmes brasileiros em Biarritz

A diretora brasileira Flavia Castro levou para as telas suas memórias de infância. Em 1973, ainda criança e logo após o golpe militar de Augusto Pinochet no Chile, ela viveu exilada na embaixada da Argentina, enquanto centenas de ativistas de esquerda latino-americanos aguardavam vistos para deixar o país.

O longa-metragem “As Vitrines” fez sua estreia mundial em Biarritz, onde a RFI conversou com a cineasta.

"Eu acho que é uma forma de compartilhar uma história muito pouco conhecida, que é a das crianças no exílio, das crianças que acompanharam os seus pais", diz. "Tem a ver com a minha história, porque eu de fato fiquei três meses na embaixada da Argentina no Chile, logo depois do golpe. Mas eu acho que, antes de mais nada, é um filme que se inscreve no presente", continua. "É mais uma pecinha para a gente seguir contando essa história coletiva", completa.

A trama é apresentada pelo olhar de duas crianças: Pedro e Ana, os protagonistas infantis. A diretora explica a importância de contar essa história, ocorrida há mais de 50 anos. "Eu acho que é fundamental num país como o Brasil, em que a gente não processou os responsáveis por isso", diz Flavia Castro. "Eu acho que é muito importante a gente seguir fazendo esse trabalho de memória. E o cinema tem feito isso de uma forma maravilhosa nos últimos anos no Brasil", conclui.

Na categoria documentário, o Brasil esteve representado por "Copan", uma coprodução com a França, que mostra o dia a dia no edifício que é um símbolo da cidade de São Paulo e da arquitetura moderna brasileira.

"O Copan, com seus 5.000 moradores, funciona como um recorte de Brasil muito complexo, principalmente por suas questões políticas", explica a diretora Carine Wallauer. "O filme serve como uma possibilidade para que a gente discuta a sociedade como um todo", diz.

Ela conta como foi a negociação para as filmagens na casa dos moradores. "Eu também fui moradora do Copan por sete anos. Então, eu já tinha relações estabelecidas com funcionários e com moradores do prédio, por conta da convivência", afirma. "Então foi um processo bastante natural e por isso o documentário tem um tom tão íntimo e tão próximo", relata.

A diretora Carine Wallauer debate com o público no Festival de Cinema Latino-Americano de Biarritz. Em Biarritz, em 21 de setembro de 2025.
A diretora Carine Wallauer debate com o público no Festival de Cinema Latino-Americano de Biarritz. Em Biarritz, em 21 de setembro de 2025. © RFI Maria Paula Carvalho

O curta-metragem "Samba Infinito", de Leonardo Martinelli, levou a Biarritz a emoção do Carnaval carioca, com uma participação especial de Gilberto Gil no elenco.

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