Reportagem

Dia dos Namorados: estudos desbancam Paris como "cidade mais romântica do mundo"

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Hoje, dia 14 de fevereiro, é o Dia dos Namorados em muitos países. É uma homenagem a São Valentim, suposto mártir católico do século 3. A tradição de se festejar o amor romântico se espalhou pelo mundo nos séculos seguintes. Paris sempre teve a fama de ser uma cidade ideal para o amor, com sua paisagem de monumentos, pontes e muitas atrações. Mas esse lugar privilegiado no pódio parece ameaçado. Pesquisas variadas apontam para outros destinos românticos, como Londres, Roma, ou Lisboa.

Clientes em uma loja enfeitada para o Dia dos Namorados, na Oxford Street, em Londres (13/02/24).
Clientes em uma loja enfeitada para o Dia dos Namorados, na Oxford Street, em Londres (13/02/24). REUTERS - ISABEL INFANTES
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Os apaixonados mergulham na tradição e comemoram. Muitos optam pelo romantismo de uma viagem, de uma cidade em especial. O comércio se esmera, com muitos corações vermelhos e cintilantes nas vitrines e sites. 

No ano passado, uma pesquisa científica realizada pela Universidade de Wrocław, na Polônia, e publicada na Scientific Reports estudou fatores culturais, sociais e ambientais que pudessem influenciar as experiências e expressões do amor. O estudo não oferece um ranking, mas o jornal britânico The Daily Mail tirou conclusões a partir dos resultados. Por exemplo, a Hungria foi o país onde os casais se diziam mais felizes. Em seguida, Malásia e Portugal.

Mas Londres? É o que aponta um levantamento do site de compras Ubuy, que se baseou na atratividade de algumas cidades em relação aos apelos de restaurantes finos, hotéis 5 estrelas e passeios românticos. Ubuy usou os dados do site TripAdvisor para fazer um ranking das capitais europeias.

Londres saiu na frente, com 1505 prontos, traduzidos em 1361 restaurante, 138 hotéis de 5 estrelas e seis tours românticos. Paris chega logo em seguida, com 1440 pontos, referentes a 1275 restaurantes refinados, 105 hotéis multiestrelados e 60 roteiros românticos.

Londres oferece mais que apenas chuva

“Dizem que chove o tempo todo em Londres e não é isso. Londres tem dias cinzas. Chove, mas não todos os dias e bem menos que em muitos lugares”, explica a brasileira Tina Wells, que trabalha desde 2016 como guia em Londres.

“Obviamente que Londres mudou, progrediu. Mas não na questão de comportamento das pessoas, o que mudou foi o olhar do mundo para Londres”, explica Wells.

“As pessoas esnobavam Londres, hoje ainda esnobam e preferem Paris, Estados Unidos e Itália”, continua. “Mas com o advento das redes sociais, as pessoas postam no Instagram as coisas que elas fazem quando vêm a Londres e as pessoas que moram aqui e os guias também que postam. As pessoas começaram a enxergar a Londres e aí começaram a vir e gostar”.

Tina Wells diz que há passeios para todos os gostos, mas para curtir um clima romântico, ela sugere um chá da tarde tradicional da Fortnum and Mason, um passeio pelo palácio de Kensington, na London Eye (roda gigante), com direito a uma taça de champanhe e caminhar pela beira do rio Tâmisa ao cair da noite. Para jantar, ela recomenta do Clos Maggiore, em Covent Garden e outros restaurantes com ‘rooftops’.

“Se o tempo estiver bom, fazer um piquenique num parque Valentine's Day em Londres não deixa nada a desejar para nenhum outro lugar do mundo”, conclui Tina.

Encantos de Paris

Mas Paris, apesar das pesquisas desbancando a “cidade luz”, continua sendo Paris. A guia brasileira Edis Lima também dá dicas para se passar um dia bem romântico na capital francesa. “Eu sugeriria um passeio a pé por um dos bairros históricos de Paris que é Saint-Germain-des-Prés, um dos bairros muito charmosos de Paris, explorando ali o carré Rive Gauche, que é o quadrilátero dos antiquários e galerias de arte, passeando nessas galerias, entrando, se inspirando, compartilhando”, diz a guia.

Depois, ela aconselha atravessar a ponte das Artes, que separa Saint Germain do Louvre, passar pelo interior do pátio do museu e pela pirâmide antes de um drinque. Para a noite, ela sugere um jantar com vista para a Torre Eiffel, como os badalados L'Oiseau Bleu, The Peninsula e Girafe.  

No Brasil, o Dia dos Namorados é comemorado no dia 12 de junho, véspera do dia de Santo Antônio, o santo casamenteiro, celebrado em 13 de junho em Portugal. No Brasil, a data foi inventada pelo publicitário João Doria, pai do ex-prefeito João Doria Jr., de São Paulo, por motivos comerciais.

Origens libertinas e pagãs

Reza a tradição católica que a data seria festejada no dia de São Valentim, um padre católico que desobedeceu as ordens de um imperador no século 3 e continuou celebrando casamentos.

Supostamente executado em 14 de fevereiro de 270 D.C., a mística da Igreja "vendeu" com sucesso a história do mártir valente protetor dos apaixonados, mas, segundo alguns especialistas, essa teria sido apenas mais uma maneira da poderosa instituição religiosa da Idade Média se apropriar de uma festa eminentemente pagã e de fundo libertário e libertino, que celebrava a fecundidade - a Lupercalia romana.

Como a maioria das tradições religiosas pagãs, explica Jean-Claude Kaufmann, sociólogo e pesquisador do CNRS francês, "os homens andavam pela cidade chicoteando as mulheres no estômago com tiras de couro para torná-las férteis". Como essas celebrações geralmente terminavam em bacanais [festivais religiosos celebrados na Antiguidade, regados a vinho], os cristãos logo teriam tentado acabar com estas festas apócrifas, incorporando-as a seu próprio calendário.

No século V, o Papa Gelásio I decidiu combater a Lupercalia introduzindo um festival da purificação da Virgem Maria em 2 de fevereiro, que se tornou a Candelária, e depois um festival de amor espiritual, celebrado em 14 de fevereiro. Nesse caso, o Dia dos Namorados, quando São Valentim foi auspiciosamente resgatado pela tradição canônica. 

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