Relação da União Europeia com Brasil deve piorar com França à frente do bloco, diz Demétrio Magnoli
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Com a França de Emmannuel Macron à frente da presidência do Conselho da União Europeia o impacto para as relações do bloco com o Brasil só tende a ser negativo, avalia o sociólogo Demétrio Magnoli, conselheiro do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI). A política ambiental do governo brasileiro, alvo de críticas constantes do chefe de Estado francês, é o ponto sensível que dificulta qualquer avanço nos laços entre Brasília e Bruxelas.
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Desde o dia 1° de janeiro a França preside, por um prazo de seis meses, o Conselho da União Europeia, o que permite ao país comandar a agenda de discussões e negociações do bloco. Em dezembro, ao expor as prioridades dos franceses à frente da UE, o presidente Emmanuel Macron não sinalizou interesse algum de incluir o Brasil nem o Mercosul na pauta de assuntos relevantes a serem tratados.
"Pode-se esperar uma piora nas relações, que já não são boas desde o início do governo Bolsonaro e pioraram desde que o presidente fez ataques a Macron, que foram respondidos. Particularmente à partir da crise ambiental, das queimadas da Amazônia e do Pantanal, que marcaram o cenário brasileiro no ano passado. Tudo isso fez com que a União Europeia de um modo geral, e não somente a França, tivesse congelado o acordo entre o Mercosul e a UE", ressalta Magnoli, lembrando o acordo que chegou a ser celebrado pelos dois blocos após 20 anos de discussões.
No entanto, o documento, que deve ser ratificado por todos os parlamentos nacionais, é fonte de polêmicas e está longe de ser concluído e sair do papel. "A França exerceu um papel importante para engavetar o acordo UE-Mercosul", afirma o conselheiro do CEBRI.
"A política do governo [brasileiro] continua sendo anti-ambiental, muito complacente em relação ao crime ambiental. Isso tem efeito grande nas relações com a União Europeia, e em particular com a França. Até as eleições no Brasil e a instalação do novo governo, que deve acontecer só no ano que vem, as relações serão frígidas, gélidas", diz.
Outro aspecto que complica as relações já distanciadas entre Brasília e os europeus, particularmente os franceses, é a condução das políticas de combate à pandemia do Covid-19. A França tem adotado medidas cada vez mais intensas para superar as resistências em relação às vacinas, em oposição às posturas expressadas pelo chefe de Estado brasileiro.
"Embora não impliquem em nada nas relações com o Brasil, tendem a esfriar ainda mais aquilo que já está muito frio. A presidência francesa só deve piorar uma situação que já é ruim", argumenta Magnoli. O único aspecto positivo, segundo o sociólogo, é que a posição de Macron expressa a indignação internacional em relação às políticas do atual presidente brasileiro.
Luta contra o desmatamento
Durante sua presidência da União Europeia, a França vai atuar para criar um mecanismo legal e regras para impedir trocas comerciais do bloco com países que oferecerem produtos oriundos de áreas de desmatamento.
A iniciativa, que atinge diretamente o Brasil em razão do contexto ambiental ligado principalmente com a Amazônia, deve avançar pois Paris tem apoio da maioria dos parceiros do bloco europeu neste tema, segundo Magnoli. E a ofensiva francesa vai além das fronteiras europeias.
"A posição do governo francês também tem impacto na discussão interna do setor do agronegócio do Brasil. A questão ambiental divide o agronegócio brasileiro. Há um setor do agronegócio moderno, que entende as realidades e as restrições ambientais postas no mercado internacional e teme ser vítima das ações do governo Bolsonaro e da sua leniência em relação ao crime ambiental", analisa.
"Ações como a do governo francês acabam tendo impacto nas discussões internas no Brasil e ajudam a erodir o apoio de setores empresariais, particularmente do agronegócio em relação ao governo Bolsonaro", acrescenta.
Bolsonaro e a campanha presidencial na França
Diante da importância do Brasil e da relevância das questões ambientais e de saúde pública, Demétrio Magnoli não exclui que o governo Bolsonaro possa, mesmo de maneira indireta, estar presente na campanha presidencial na França, que elegerá em abril um novo chefe de Estado.
"Mesmo perifericamente, em função do lugar simbólico do governo Bolsonaro e da posição importante que o Brasil ocupa na discussão ambiental, em função disso Macron sabe que pode usar o seu conflito de visões de mundo e de políticas públicas com Bolsonaro para esclarecer melhor suas posições. No confronto com Bolsonaro, Macron deixa mais claro e se distingue de seus adversários da extrema direita. Macron fará uso, mesmo perifericamente disso", prevê Magnoli.
Por outro lado, o sociólogo não vê um interesse dos dois candidatos da extrema direita, Marine Le Pen (Reunião Nacional) e Éric Zemmour (Reconquista), de mostrar qualquer simpatia ou proximidade com o presidente brasileiro.
"Bolsonaro terá tendência, porque é inato dele, a expressar apoio ou simpatia a algum dos candidatos da extrema direita, especialmente se um deles for ao segundo turno para disputar a presidência com Macron. Neste caso, ele poderá provocar um constrangimento extra para esse candidato", opina.
Para ver a entrevista na íntegra clique no link
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