Festival de Biarritz recebe 'O Último Azul', filme de Gabriel Mascaro premiado em Berlim
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Em cartaz no Brasil desde 28 de agosto, onde já foi visto por mais de 140 mil pessoas, O Último Azul, longa-metragem do diretor pernambucano Gabriel Mascaro, teve pré-estreia francesa no Festival de Cinema Latino-Americano de Biarritz, antes de entrar em exibição no país, em fevereiro do ano que vem. A RFI conversou com o cineasta no evento sobre o sucesso dessa produção, que ganhou o prêmio do júri no Festival de Berlim e foi apresentada, também, em sessões especiais em Toulouse e no Festival Brésil en Mouvement, em Paris.
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Maria Paula Carvalho, enviada especial da RFI a Biarritz
Gabriel Mascaro conta que o longa-metragem já foi vendido para 67 países e está passando em mais de 80 festivais internacionais pelo mundo. O filme conta a história de Tereza, de 77 anos, personagem interpretada por Denise Weinberg, que viveu toda a sua vida em uma pequena cidade industrializada na Amazônia, até o dia em que recebe uma ordem oficial do governo para se mudar para uma colônia para idosos. Porém, ela se recusa a seguir a política de exílio forçado, como explica o diretor.
“É quase uma distopia. A gente criou uma alegoria de situações e tem até uma espécie de carrocinha de cachorro que leva os idosos embora para a colônia”, diz. “O filme tenta especular esse Brasil que tira os idosos da sociedade para que os jovens possam produzir sem se preocupar com os mais velhos. E, na verdade, termina falando sobre um sentimento de liberdade”, continua.
Protagonismo na terceira idade
O enredo também faz um alerta de que a vida não termina na terceira idade, quando muitos falam do fim. Ao partir em uma aventura sem rumo, a personagem Tereza acaba se redescobrindo. “Existem pouquíssimos filmes no mundo que falam sobre protagonistas idosos”, destaca Mascaro.
“Em geral, são associados a personagens lidando com a morte em estado terminal ou, às vezes, sobre nostalgia e sobre os gloriosos tempos que passaram e que não voltam mais”, acrescenta. “Esse é um filme sobre o presente. Ele olha para essa mulher que deseja e que pulsa, que transpira vontade de viver”, completa.
A Amazônia em foco
Além disso, o filme mostra para o grande público do cinema a força da floresta Amazônica, com as suas lendas, seu misticismo, e com a sua economia própria: uma vida que acontece de barco, em cima de passarelas, e que Mascaro fez questão de retratar.
“Eu queria fazer um filme sobre esse lugar, esse rio que você pode tanto se perder como se achar”, observa o diretor. “É um lugar quase mítico e um palco muito especial para acontecer essa fantasia, para olhar para a Amazônia de maneira diferente”, explica. “O filme começa em um frigorífico de carne de jacaré. Então, ele vai mostrando, de maneira muito singular, um Brasil que a gente não está acostumado a ver”, afirma Mascaro.
Ao longo da trama, o espectador é apresentado à sabedoria do "Caracol Azul", uma referência às medicinas da floresta. “Em um determinado momento, o personagem do Rodrigo Santoro pinga a baba do caracol no olho. Isso abre caminhos e torna possível ver o futuro”, ele explica. “É inspirado na fauna e na flora psicotrópica da Amazônia. Mas a gente preferiu criar o nosso próprio elemento, não quisemos usar nada que pudesse ser sagrado para algum povo indígena. A gente criou a nossa própria alegoria como uma inspiração do que já acontece”, diz o diretor.
O convite para a participação de Rodrigo Santoro aconteceu de forma natural. Gabriel Mascaro conta que o ator assistiu a seu filme Boi Neon (2015) e que o ator sinalizou o desejo de atuar em uma de suas produções. “Quando eu escrevi esse personagem, eu claramente pensei nele. E foi um carinho muito grande ver o Rodrigo Santoro aceitar esse projeto e o mergulho que ele deu no personagem. Foi muito bonito”, avalia.
Sucesso do cinema brasileiro no exterior
Gabriel Mascaro diz que não esperava um sucesso tão grande logo no lançamento de “O Último Azul”. O diretor também comentou o interesse renovado pelos cineastas brasileiros no exterior. “A gente passou por um ano muito especial, com o filme Ainda Estou Aqui, do Walter Salles, que percorreu o mundo e que trouxe o primeiro Oscar para o Brasil”, destaca. “Quando a gente achou que era um episódio isolado, vem O Último Azul no Festival de Berlim e ganha o Urso de Prata, o grande prêmio do júri”, continua. “E quando a gente achou que talvez pudesse ser mais um acidente de percurso, vem O Agente Secreto e confirma a força do cinema brasileiro no Festival de Cannes. Então, eu tenho muito orgulho de poder fazer parte dessa história”, acrescenta.
Mascaro é conterrâneo de Kleber Mendonça Filho, de quem expõe sua admiração. “A gente mora no mesmo bairro no Recife. Nossos filhos estudam na mesma escola e eu cruzo com o Kleber toda semana em situações atípicas do cinema, no dia a dia mesmo”, relata. “E é muito bonito poder ver em Pernambuco um cineasta como ele, capaz de levar o cinema da gente tão longe e abrir caminhos para a nova geração”, elogia.
Depois de Biarritz, Gabriel Mascaro segue para a Alemanha, onde o seu longa-metragem entrará em cartaz. “É muito bonito ver esse momento do filme acontecendo nas cidades e eu poder ajudar a divulgar”, comemora.
“O Último Azul” já está em cartaz no Brasil desde o dia 28 de agosto. “É um filme feito com muito carinho, com muita paixão pela vida e por essa personagem, essa mulher idosa que nos inspira a liberdade”, conclui o cineasta.
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