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Fotógrafo Miguel Chikaoka desenvolve em oficinas o poder transformador da luz

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Miguel Chikaoka é uma referência da fotografia brasileira, com mais de 40 anos de carreira, baseado em Belém do Pará desde 1980. Com obras expostas pelo mundo, ele também vem desenvolvendo há décadas uma educação inovadora no campo da fotografia, deixando de lado aparelhos sofisticados e privilegiando o contato com a luz e as consequências físicas e sensoriais. Ele esteve recentemente no Canadá e na França, onde ministrou oficinas.

Miguel Chikaoka, fotógrafo e educador brasileiro, baseado em Belém do Pará.
Miguel Chikaoka, fotógrafo e educador brasileiro, baseado em Belém do Pará. © Nathália Almeida
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Patrícia Moribe, de Paris

Formado em engenharia pela respeitada Universidade de Campinas (Unicamp), Chikaoka foi convidado a continuar um doutorado em Nancy, no nordeste da França, na década de 1970. Mas as dúvidas em relação à engenharia como profissão começaram cedo. Em Nancy, ele descobriu a fotografia em fotoclubes, e seguiu o faro da curiosidade em livros, revistas e exposições. Ele destaca ainda nessa fase a importância de ter lido o método Paulo Freire, que o inspirou para o resto da vida. Chikaoka nunca concluiu os estudos em Nancy, deixou a engenheria para trás, e abraçou a fotografia.

O fotógrafo autodidata decidiu também desbravar o Brasil e foi parar em Belém. Fotografava todos os eventos possíveis e logo se embrenhou em grupos de educador e artistas. Ele cita, por exemplo, o Grupo Ajir. Chicakoka participava ativamente, fotografando peças e bastidores, expondo suas fotos em varais improvisados. Até que foi convidado a ministrar uma oficina.

“Sou uma pessoa que não tem uma base, digamos, teórica. Não fiz, não sou formado na área de educação. É muito mais empírico e muito mais referencial do aprendizado que eu fui tendo”, explica. “Ao longo da minha vida como um todo, venho experimentando. E como as respostas que me vêm são respostas muito potentes, eu fico animado com isso, sabe?”

Oficina ministrada por Miguel Chikaoka em Oizumi, província de Gunma, no Japão, em 2008.
Oficina ministrada por Miguel Chikaoka em Oizumi, província de Gunma, no Japão, em 2008. © Miguel Chikaoka

Descoberta da luz

Chikaoka explica que o eixo principal de seu trabalho como educador é o contato com a luz física, fazer com que as pessoas percebam o quanto esse lugar é forte, de muitas possibilidades de conexão com o mundo.Você vai entender como a imagem acontece, como você capturou uma imagem. Mas o que vem antes disso? É a luz. Então vamos entender a luz. Eu tive, claro, essa formação com base científica, pela física, pela ótica, a sua dimensão em termos de velocidade, de frequência, de comprimento, de onda e tal. E isso ficou guardado.”

O educador resolveu então incorporar esses conceitos em suas oficinas, de maneira lúdica, com vendas, relatos, imaginação e aparatos artesanais. O público das oficinas de Miguel Chikaoka é o mais diverso possível e não é preciso ter nenhuma experiência prévia com fotografia. Em Paris, o workshop foi uma iniciativa da associação Iandé.

“Eu me adequo à realidade que se apresenta naquele momento. Então, é como se eu tivesse, num curto espaço de tempo, fazendo esse exercício de acolhimento, de provocar um momento, de fazer escutas e mais escutas e dar continuidade ao fluxo nesses encontros.”

Em Paris, Miguel Chikaoka orienta uso de câmera obscura artesanal.
Em Paris, Miguel Chikaoka orienta uso de câmera obscura artesanal. © Nathália Almeida

Chikaoka também colaborou no projeto com o povo Ashaninka, de Pedro Kuperman, apresentado no festival de Arles em 2019. 

Ultimamente Miguel Chikaoka faz poucas fotos em termos artísticos. Ele está mais interessado em compartilhar esse encanto que tem pela luz e seus efeitos, mas pretende dedicar mais tempo a estruturar esse corpo de ideias, já citado em inúmeros artigos e teses acadêmicas. Além disso, Chikaoka também é figura atuante na discussão da política educacional em nível local, estadual e nacional.

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