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Artista brasileiro usa insultos recebidos na infância para produzir estandarte de celebração queer

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Desde a pandemia, obrigado a se recolher, o fotografo brasileiro Shinji Nagabe, baseado em Madri, resolveu mexer em seu arquivo de fotos e buscar outras expressões. Inspirado em uma técnica tradicional de costura japonesa e imerso em sua infância e raízes nipo-brasileiras, além da vivência na Europa (França e agora, Espanha), ele vem criando a série Dioramas, da qual ele apresentou uma parte em paralelo aos Encontros de Arles, na primeira semana de julho.

Detalhe de obra de Shinji Nagabe, exposta de 1 a 7 de julho de 2024, em Arles.
Detalhe de obra de Shinji Nagabe, exposta de 1 a 7 de julho de 2024, em Arles. © Patrícia Moribe
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Patrícia Moribe, enviada especial a Arles

Batizada de “Embajada” (Embaixada), a exposição coletiva reuniu sete artistas baseados na Espanha. “Partimos da ideia de encontrar um espaço aqui em Arles para mostrar o que estamos produzindo na Espanha”, conta Nagabe. “O objetivo é vir para Arles todos os anos, com artistas diferentes e sempre com uma visão bem alternativa e bem contemporânea sobre a fotografia”, explica.

Mistura de influências

Em um grande estandarte carnavalesco, colorido e brilhante, o rostinho do pequeno Shinji aparece entre palavras como “Les bloco des BICHA” e “MARICÓN”. Ele conta que eram xingamentos que ele costumava ouvir desde criança.

“É agora uma grande celebração da minha própria essência, do orgulho de ser uma pessoa que sempre tive muita dificuldade em aceitar”, explica. “Então hoje eu venho com esse estandarte de celebração queer”.

O artista brasileiro Shinji Nagabe trouxe peças da série "Dioramas" para uma exposição coletiva em Arles, reunindo artistas baseados em Madri.
O artista brasileiro Shinji Nagabe trouxe peças da série "Dioramas" para uma exposição coletiva em Arles, reunindo artistas baseados em Madri. © Patrícia Moribe

“Eu comecei essa série de dioramas durante a pandemia. Eu não sabia muito direito o que eu estava fazendo, porque antes eu trabalhava com fotografia, pegava objetos e fazia máscaras, coisas e tirava foto. O resultado final era uma fotografia. Já que eu não podia sair, comecei meio que buscar os meus arquivos, e imprimi em tecido”, conta. “E aí comecei a fazer esse trabalho de costura de camadas, porque para mim é uma ideia de personalidade, que é feita através de camadas. E veio essa ideia de um 3D, também usando uma técnica japonesa chamada oshiê”, conta, falando de uma gueixa de tecido em relevo que havia na sala de sua mãe. 

“Aí eu vi que era esse o caminho. O processo de costura me relaxava a cabeça durante a pandemia”, lembra Nagabe. “Eu gosto dessa coisa seriada de pontos, um atrás do outro. Por exemplo, a palavra ‘bicha’ tem uma pérola a cada quatro pontos. É tudo meio seriado e isso me remete também à minha adolescência, quando trabalhei numa fábrica no Japão, onde tudo era repetitivo”, relata. 

Peça de Shinji Nagabe, em exposição em Arles.
Peça de Shinji Nagabe, em exposição em Arles. © Patrícia Moribe

Em 2019, Shinji Nagabe foi finalista do prêmio Descoberta Louis Roederer, em Arles, com "Republica das Bananas". Seu trabalho já foi publicado e exposto no Brasil e Europa.  

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