Saúde em dia

Dor na mandíbula ou náusea: os sintomas atípicos de um ataque cardíaco nas mulheres

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Os sintomas do infarto nas mulheres são diferentes dos apresentados pelos homens e podem ser minimizados pelas pacientes, que colocam a própria saúde em risco, alerta a cardiologista Patrícia Tavares, membro da Sociedade Brasileira de Cardiologia e coordenadora do setor da rede hospitalar Mater Dei, em Belo Horizonte (MG).

As mulheres têm sintomas completamente diferentes dos homens quando sofrem um infarto.
As mulheres têm sintomas completamente diferentes dos homens quando sofrem um infarto. © Getty Images/iStockphoto - simon2579
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Taíssa Stivanin, da RFI em Paris

"Uma mulher nem sempre infarta com uma dor torácica clássica. Muitas vezes, apresentará uma dor na mandíbula, um desconforto no braço ou uma náusea intensa", explica a cardiologista brasileira. Outros sinais devem alertar as pacientes, como fadiga, palpitações, falta de ar, tonturas ou dores abdominais.

Em várias fases da vida, o coração da mulher enfrenta “desafios” que exigem cuidados específicos. Na menopausa, por exemplo, a diminuição dos hormônios sexuais femininos, como a progesterona e o estrogênio, é considerada um fator de risco que deve ser antecipado nas estratégias de prevenção.

“O estrogênio tem uma associação importante com a proteção do sistema cardiovascular. Sem a produção adequada desse hormônio, há mais chance de acúmulo de gordura no sangue, o que aumenta o risco cardiovascular", aponta Patrícia Tavares. "Há também sintomas vasomotores que pioram nossa condição geral de qualidade de vida. Sentimos desânimo, fraqueza, cansaço muscular, e a qualidade do sono, que é imprescindível para a recuperação do sistema cardiovascular, piora”, detalha.

Manter a proteção do sistema cardiovascular após o fim da vida reprodutiva da mulher é essencial. Quando a menopausa é precoce, ou seja, abaixo dos 40 anos, o risco é ainda maior. “Todas as mulheres devem ter um cardiologista ‘para chamar de seu’, e, nesse período da vida, não deve ser diferente”, acrescenta Patrícia Tavares.

A terapia de reposição hormonal deve ser avaliada individualmente, lembra, em função dos riscos que eventualmente estarão associados ao uso da medicação. “Quando bem indicada, ela não só melhora os sintomas, mas protege o sistema cardiovascular nos primeiros dez anos após o diagnóstico da menopausa. Então, ter profissionais capacitados para a estratificação do risco é fundamental.”

A médica Patrícia Tavares, membro da Sociedade Brasileira de Cardiologia e coordenadora do setor na rede hospitalar Mater Dei
A médica Patrícia Tavares, membro da Sociedade Brasileira de Cardiologia e coordenadora do setor na rede hospitalar Mater Dei © Divulgação

A menopausa não é o único período “crítico” para a saúde da mulher. “A mulher que passa por uma gestação colocou seu coração sob estresse. A gestação é um momento que também precisa de um ‘olhar cardiológico’ apurado", explica a médica. "O momento da pós-menopausa também é peculiar. A jornada completa da mulher tem que ser vista por inteiro: desde a primeira menstruação até o término da vida fértil e o início do climatério, quando começam as mudanças hormonais.”

As eventuais complicações na gravidez, como as síndromes hipertensivas (que geram aumento de pressão), também tornam as mulheres mais propensas ao desenvolvimento de uma doença cardiovascular no futuro.

As especificidades associadas ao sistema cardiovascular feminino exigem adaptação no atendimento. A cardiologia da mulher, explica Patrícia Tavares, já se tornou uma subespecialidade da medicina, e o DCM (Departamento de Cardiologia da Mulher), da Sociedade Brasileira de Cardiologia, vem implementando ações de treinamento especializado para as equipes de saúde.

Há ainda outros fatores que não são necessariamente peculiares à saúde feminina, mas que devem ser levados em conta na avaliação cardíaca. Entre eles estão os antecedentes médicos de AVC (Acidente Vascular Cerebral), cirurgias cardíacas anteriores ou certos tipos de câncer, que exigem um acompanhamento mais frequente. “Na medicina, temos que entender a individualidade de cada um. A situação deve ser pesada, ponto por ponto. Não existe uma receita de bolo geral”, acrescenta a cardiologista.

A higiene de vida é outro elemento comum associado à saúde cardiovascular em ambos os sexos e inclui alimentação saudável, a prática de uma atividade física regular e técnicas de relaxamento para diminuir o estresse cotidiano e a sobrecarga mental. Conselhos que, por mais repetitivos e óbvios que sejam, continuam sendo indispensáveis.

Machismo no atendimento

O machismo é outro elemento que pode prejudicar o atendimento à mulher vítima de um infarto, ressalta a cardiologista brasileira. “Temos estatísticas que mostram que, muitas vezes, a mulher é vista como se estivesse fazendo ‘drama’, e a náusea ou outro sintoma atípico é tratada como se não fosse um sintoma cardiovascular, mas um pico de estresse. Isso é muito grave. Temos que ampliar nosso olhar e investigar mais as mulheres, que têm mais chances de terem eventos cardiovasculares, principalmente após a menopausa.”

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