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UE volta a discutir Ucrânia e recebe acordo de cessar-fogo de Putin com ceticismo

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Líderes europeus se reúnem, pela segunda vez neste mês para discutir a guerra na Ucrânia e a defesa do bloco. Desta vez, porém, o Conselho Europeu, que começa nesta quinta-feira (20), acontece logo depois do presidente russo, Vladimir Putin, ter aceitado um cessar-fogo temporário às infraestruturas da Ucrânia, em uma conversa por telefone com o americano Donald Trump. Como foi a reação na União Europeia e quais serão os próximos passos?

Bandeiras da União Europeia são hasteadas do lado de fora da sede da Comissão Europeia. Bruxelas, março de 2025
Bandeiras da União Europeia são hasteadas do lado de fora da sede da Comissão Europeia. Bruxelas, março de 2025 © Yves Herman / Reuters
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Letícia Fonseca-Sourander, correspondente da RFI em Bruxelas

A conversa entre o presidente americano, Donald Trump, e o russo Vladimir Putin durou uma hora e meia, mas não foi suficiente para convencer Bruxelas. Os dirigentes europeus demonstram ceticismo a este “discurso de paz” temporário do líder russo. Para eles, Putin na realidade não busca um fim pacífico para o conflito, que já dura três anos.

A desconfiança aumentou ainda mais com a onda de ataques lançada pela Rússia em toda a Ucrânia horas depois da Casa Branca anunciar o acordo de uma trégua parcial com Putin.

A Alemanha descreveu como “inaceitável” a insistência do Kremlin de que uma condição fundamental para a paz seria a suspensão total do apoio militar e da inteligência ocidental às forças armadas da Ucrânia. Segundo especialistas, a estratégia russa é de "dividir para melhor reinar".

“É claro que a Rússia não quer fazer nenhum tipo de concessão. Putin quer ver os EUA e a Europa divididos, mas nós não vamos dar isso a ele”, afirmou a chefe da diplomacia europeia, Kaja Kallas, às vésperas do encontro em Bruxelas.

Durante os dois dias de reunião, Kallas pretende convencer os países do bloco, além do Reino Unido e da Noruega, a mobilizarem até € 40 bilhões para novo apoio militar à Kiev. O plano representa o dobro da ajuda que a União Europeia prestou à defesa ucraniana no ano passado e prevê que os países contribuam de forma voluntária, sem a imposição da regra de unanimidade, que é a obrigação de um consenso por todos os Estados-membros do bloco.

"Livro Branco" da defesa europeia

Acaba de ser publicada a estratégia de defesa para a União Europeia, intitulada “Livro Branco sobre a Defesa Europeia – Prontidão 2030”, que define as prioridades em matéria de investimentos para rearmar a Europa e como este processo será financiado. A ideia é comprar mais armas de empresas da UE ou de países terceiros com quem o bloco tem acordos de defesa.

Os fabricantes de armamentos do Reino Unido, EUA e Turquia serão excluídos dos futuros contratos, a menos que assinem um acordo de parceria e defesa com a União Europeia. “Temos que comprar mais na Europa porque isso significa fortalecer a base tecnológica e industrial de defesa europeia”, disse a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.

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Em Bruxelas, os líderes europeus devem aprofundar o debate sobre o “Livro Branco”, com base na proposta da Comissão Europeia de mobilizar até € 800 bilhões para financiar a defesa do continente nos próximos quatro anos. No início do mês, quando Von der Leyen apresentou o plano, os dirigentes do bloco deram o seu apoio político, mas apesar das discussões nesta quinta e sexta-feira, a decisão final só deverá ser aprovada em junho.

A Europa tem pressa em se rearmar

No mês passado, o serviço de inteligência dinamarquês alertou que a Rússia poderia começar uma guerra em larga escala com a Europa em cinco anos, se Moscou considerar que a Otan está militarmente enfraquecida ou politicamente dividida. Em seguida, a Comissão Europeia declarou que a Europa precisaria estar pronta para dissuadir potenciais invasores até 2030.

Recentemente, ao citar vários relatórios de inteligência, o comissário europeu de Defesa, Andrius Kubilius, reforçou a mensagem de que a Rússia poderia estar pronta para lançar um ataque militar contra um país da União Europeia ou Otan antes de 2030. Neste caso, seria acionado o artigo nº 5, a cláusula de proteção mútua da aliança militar que diz que se uma nação da organização for atacada, todas as outras devem reagir.

Poucas horas antes do Conselho Europeu, a chefe da diplomacia europeia, Kaja Kallas afirmou: “não temos uma guerra fria, mas uma guerra quente em solo europeu, e a ameaça é tão real quanto pode ser”.

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