Israel determina evacuação completa e imediata da Cidade de Gaza
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A escalada do conflito entre Israel e o Hamas reacende preocupações globais, com o novo ataque ocorrido em Jerusalém na segunda-feira (8) e uma ordem do Exército de Israel de evacuação imediata da Cidade de Gaza, sinalizando uma possível ocupação total do território palestino.

Henry Galsky, correspondente da RFI em Israel
Na manhã de hoje, o Exército de Israel emitiu a primeira grande ordem de retirada a todos os palestinos que vivem na Cidade de Gaza. Até agora, as ordens de retirada eram dadas a moradores de prédios específicos.
Dos cerca de 900 mil palestinos que vivem na cidade, apenas cerca de 10% saíram até agora e se dirigiram às chamadas zonas humanitárias criadas por Israel no sul do território.
A decisão tem um contexto: o plano do governo israelense de ocupar integralmente a Cidade de Gaza, uma estratégia decidida pelo gabinete de segurança, apesar dos avisos do próprio chefe do Estado-Maior, Eyal Zamir, de que essa ocupação pode levar à morte dos reféns israelenses.
Os próprios familiares dos reféns e a maioria da sociedade israelense se opõem à continuação da guerra. Segundo a pesquisa mais recente divulgada pelo Instituto de Democracia de Israel (IDI), 64% da população apoiam o fim da guerra.
Ataque em Jerusalém
Num território pequeno, como o que inclui Israel e os territórios palestinos da Cisjordânia e da Faixa de Gaza, muitas vezes as distâncias são mínimas. Os dois autores do ataque em Jerusalém que causaram a morte de seis israelenses vieram de dois vilarejos próximos: Mutana Amro, de 20 anos, de Al-Qubeiba, e Mahmoud Tahah, 21, de Qatanna.
Os dois vilarejos palestinos ficam a menos de dois quilômetros de distância da chamada "Linha Verde", a fronteira que separa os territórios israelense e palestino.
Nenhum deles tinha vínculo com organizações terroristas, nem antecedentes criminais.
Os dois terroristas entraram armados num ônibus lotado da linha 62 e abriram fogo no Cruzamento de Ramot, um local de grande movimento, durante o período da manhã. Ambos foram mortos por um soldado israelense e um civil armado que estavam no local.
Consequências a partir do ataque
O Exército de Israel estabeleceu novos postos de controle próximos a Ramallah, a principal cidade palestina da Cisjordânia e onde fica a sede da própria Autoridade Palestina (AP), o governo palestino reconhecido pela comunidade internacional. O objetivo é aumentar as verificações locais, segundo o exército.
As forças israelenses também passaram a operar com mais intensidade na Samaria, como o governo de Israel chama o norte do território palestino. Essas forças revistam casas, efetuam prisões e buscam armas e dinheiro que possam estar relacionados a atividades terroristas.
"Continuaremos com um esforço operacional e de inteligência contínuo, perseguiremos os focos do terror em todos os lugares e frustraremos a infraestrutura terrorista e seus organizadores. Devemos aprender, investigar e tirar lições", disse na Cisjordânia o chefe do Estado-Maior do exército, Eyal Zamir.
O ministro da Defesa, Israel Katz, declarou que haverá "consequências graves e de longo alcance".
O Shin Bet, o serviço de segurança interno de Israel, prendeu um motorista de Jerusalém Oriental sob suspeita de ter auxiliado os autores do ataque.
Todas as entradas e saídas de Jerusalém chegaram a ficar fechadas por mais de três horas.
Apenas durante o mês de agosto, as forças de segurança de Israel conseguiram impedir que 88 ataques terroristas fossem executados no país. Desde o início do ano, foram mais de mil.
Novo plano dos Estados Unidos
De acordo com o Canal 12 israelense, Trump entregou nos últimos dias ao Hamas uma proposta para um acordo abrangente com mudanças significativas em relação às propostas anteriores. Segundo as informações, todos os 48 reféns israelenses deverão ser libertados no primeiro dia do acordo. Em troca, haverá também a libertação de milhares de prisioneiros palestinos, inclusive centenas que cumprem penas por terem matado cidadãos israelenses.
Como parte do plano, Israel deverá interromper a Operação Carruagens de Gideão para capturar a Cidade de Gaza, e as negociações terão início imediato sob a liderança pessoal do presidente norte-americano. Enquanto as negociações não forem concluídas, os combates também não serão retomados.
Em resposta, o Hamas divulgou um comunicado oficial:
"Recebemos, por meio de mediadores, diversas propostas dos norte-americanos para chegar a um acordo de cessar-fogo. O Hamas acolhe com satisfação qualquer medida que contribua para os esforços de deter o ataque ao nosso povo e enfatiza que está imediatamente pronto para se sentar à mesa de negociações."
Embora Trump tenha dito que Israel já concordou com o plano, ainda não há uma posição oficial. No entanto, uma fonte israelense próxima ao primeiro-ministro Benjamin Netanyahu citada pela imprensa local disse que "Israel considera seriamente a proposta, mas acredita que o Hamas provavelmente irá recusá-la".
Hamas pode vir a recusar o plano
Fontes do Hamas citadas pelo jornal saudita Asharq al Awsat disseram que a proposta dos Estados Unidos inclui "muitas armadilhas que precisam ser desmanteladas", acrescentando que o grupo palestino tem como objetivo um acordo que ponha fim à guerra - algo que supostamente não é mencionado de forma explícita no plano atual norte-americano.
Ainda segundo as fontes do Hamas, seria difícil libertar vários dos reféns israelenses ou devolver os corpos dos mortos já no primeiro dia do acordo, uma vez que muitos deles foram assassinados em locais onde o Exército de Israel opera neste momento. O Hamas também argumenta que enterrou vários dos reféns mortos em pontos onde atuam as forças israelenses.
Outro aspecto problemático para o Hamas é que a proposta de Trump não faz menção à retirada de Israel de áreas consideradas fundamentais pelo grupo, como o Corredor Filadélfia - que divide a Faixa de Gaza e o Egito - e a Passagem de Rafah, o terminal de fronteira.
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