Linha Direta

Reino Unido recebe Trump com governo trabalhista acuado por escândalo Epstein e extrema direita

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Donald Trump desembarca nesta terça-feira (16) na Inglaterra para sua segunda visita de Estado ao país, a convite do rei Charles III. A recepção acontece em meio à turbulência no governo trabalhista e à polêmica em torno da cadeira de embaixador em Washington, que segue vaga.

Foto ilustrativa do encontro do presidente norte-americano Donald Trump com o primeiro-ministro britânico Keir Starmer em Washington, D.C.
Foto ilustrativa do encontro do presidente norte-americano Donald Trump com o primeiro-ministro britânico Keir Starmer em Washington, D.C. REUTERS - Kevin Lamarque
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Yula Rocha, correspondente da RFI em Londres

A viagem é delicada não só para o primeiro-ministro britânico Keir Starmer, mas também para o presidente norte-americano. A sombra do caso Jeffrey Epstein o acompanha: dias antes da visita, o embaixador britânico em Washington, Peter Mandelson, foi afastado após revelações de sua proximidade com o pedófilo confesso, amigo de Trump.

Starmer enfrenta pressão dentro do próprio partido, da oposição e da opinião pública sobre a escolha de Mandelson, sobre o que sabia dessa ligação e por que demorou a afastá-lo, apesar das manchetes.

A crise já levanta dúvidas sobre a sobrevivência política do premiê britânico até maio do ano que vem, quando estão previstas eleições parlamentares parciais que podem favorecer a direita.

Extrema direita mobiliza multidão em Londres

A maior manifestação nacionalista da história do país acendeu o alerta entre trabalhistas e até conservadores. No sábado, 150 mil pessoas marcharam em Londres convocadas pelo ativista de extrema direita Tommy Robinson, conhecido por sua retórica anti-imigração e islamofóbica. Recém-saído da prisão por difamação, ele já respondeu por fraude e falsificação de passaporte.

Robinson é entusiasta de Trump e do movimento MAGA (“Make America Great Again”) e trouxe o ex-estrategista Steve Bannon para a marcha e conta com o apoio do bilionário Elon Musk, que chegou a pedir a dissolução do Parlamento britânico e a saída de Starmer.

O ambiente ficou ainda mais inflamado após a morte do jovem ativista norte-americano Charles Kirk, aliado de Trump, que defendia a “liberdade de expressão” como bandeira contra as instituições democráticas.

Pompa em Windsor e reforço na segurança

A segurança é outro ponto sensível. Após a tentativa de assassinato de Trump nos EUA e a morte do ativista em Utah, autoridades britânicas organizaram a maior operação desde a coroação de Charles III, incluindo fechamento do espaço aéreo e bloqueios terrestres.

Trump chega ao lado da primeira-dama Melania para uma honraria sem precedentes: duas visitas de Estado, algo inédito para um presidente norte-americano. Fascinado pela monarquia — sua mãe nasceu na Escócia —, Trump valoriza a pompa e a oportunidade de aparecer ao lado do rei.

A programação inclui recepção em Windsor, com o príncipe William e a princesa Catherine, salvas de canhão, passeio de carruagem e banquete para 160 convidados. Apesar das divergências entre Trump e o rei sobre clima e Europa, o monarca deve cumprir seu papel diplomático.

Reunião com Starmer

Na quinta-feira, Trump se reúne com Keir Starmer em Chequers, a residência de campo do premiê. Na agenda, negociações comerciais pós-tarifaço e o anúncio de investimentos privados em energia nuclear. Gaza e Ucrânia também devem ser abordadas, mas não se espera avanço rumo à paz.

A viagem termina com uma coletiva de imprensa, vista como novo teste para ambos os líderes diante do escândalo Epstein, da vaga em Washington e do fortalecimento da extrema direita inspirada no trumpismo, que se posiciona contra as instituições democráticas britânicas, e a própria liderança de Keir Starmer.

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