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Protestos contra Israel provocam mudanças e reforço de segurança em prova ciclística na Espanha

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A Volta da Espanha, uma das maiores competições de ciclismo do mundo, vive uma edição marcada por tensões políticas e mudanças logísticas. Em 2025, o tradicional evento — que começou em Turim e já passou por França, Andorra e agora percorre diversas cidades espanholas — precisou adaptar seus circuitos e reforçar a segurança diante de uma onda de protestos contra a participação da equipe israelense Israel – Premier Tech e em solidariedade ao povo palestino.

Os ciclistas passam por manifestantes com bandeiras da Palestina durante a etapa 13 da "Vuelta a Espana", em Cabezon de la Sal a L'angliru, Cantábria, Espanha em 5 de setembro de 2025.
Os ciclistas passam por manifestantes com bandeiras da Palestina durante a etapa 13 da "Vuelta a Espana", em Cabezon de la Sal a L'angliru, Cantábria, Espanha em 5 de setembro de 2025. REUTERS - PANKRA NIETO
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Ana Beatriz Farias, correspondente da RFI na Espanha

La Vuelta a España 2025 – ou, simplesmente, La Vuelta – começou no dia 23 de agosto, em Turim, na Itália. Desde então, vem passando por diversas cidades e a previsão é de que termine no próximo domingo (14), em Madri. 

Durante os dias de prova, houve numerosos protestos em apoio à Palestina. Uma das principais razões é a presença da equipe Israel – Premier Tech, cujo dono, Sylvan Adams, é descrito pela imprensa espanhola como sionista, multimilionário e amigo do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu. 

Segundo o jornal espanhol El País, Adams utiliza o time de ciclistas do qual é proprietário para praticar “sportwashing” – termo em inglês utilizado para descrever o uso do esporte como forma de melhorar a imagem e reputação de um indivíduo, empresa ou instituição, por exemplo. Nesse caso, a imagem a ser “melhorada” seria a de Israel, em meio a ataques constantes contra o povo palestino. 

Diante desse cenário, as manifestações pedem tanto a defesa da Palestina, em termos gerais, quanto a retirada da equipe Israel – Premier Tech da competição.

Mudanças de plano

Já foram registrados diversos tipos de protestos ao longo dos dias de La Vuelta. Um exemplo ocorreu em Bilbao, no último dia 3. Com bandeiras da Palestina em mãos, manifestantes gritavam palavras de ordem como “Israel genocida”. A intensidade da mobilização levou a direção da prova a antecipar a linha de chegada em três quilômetros e a cancelar a definição de um vencedor naquela etapa.

As cenas se repetiram em diferentes fases da competição. Em El Bierzo, na região de Castela e Leão, o asfalto de um trecho foi pintado com desenhos de corpos e nomes de crianças mortas em Gaza.

Já na Galícia, na última terça-feira (9), os manifestantes derrubaram uma árvore para bloquear a estrada por onde passariam os ciclistas. A Guarda Civil conseguiu desobstruir o caminho a tempo, mas, ainda assim, a organização decidiu adiantar a linha de chegada em oito quilômetros.

Além dessas adaptações, a prova também passou a contar com reforço policial. Para as etapas finais, o governo anunciou que haverá a atuação de 1.100 policiais nacionais e 400 guardas civis, além do efetivo que tradicionalmente acompanha a competição.

Na mesma ocasião em que comunicou o aumento de efetivo, o governo espanhol destacou que “o direito à manifestação é um direito fundamental que não pode ser limitado sem as justificativas previstas em lei”.

Pacote de medidas pró-Palestina

Toda essa repercussão em torno da volta ciclística acontece em um momento em que o governo espanhol tem se posicionado de maneira firme em defesa da Palestina. 

No início desta semana, o primeiro-ministro Pedro Sánchez anunciou nove medidas “para deter o genocídio em Gaza, perseguir seus executores e apoiar a população palestina”. 

“O governo da Espanha acredita que uma coisa é proteger seu país e outra muito diferente é bombardear hospitais e matar de fome crianças inocentes”, afirmou  Sánchez . 

Enquanto falava em 63 mil mortos, 159 mil feridos e 250 mil pessoas em risco de desnutrição aguda, o primeiro-ministro espanhol disse que isso não configura defesa própria. “Não é sequer atacar. É exterminar um povo indefeso. É violar todas as leis do direito humanitário”, declarou.

As nove medidas anunciadas pelo governo da Espanha em site oficial:

-  Aprovação urgente de um Real Decreto-Lei que consolide juridicamente o embargo de armas a Israel, aplicado desde outubro de 2023, que estabeleça a proibição legal e permanente de comprar e vender armamento, munição e equipamentos militares para Israel;

-  Proibição do trânsito por portos espanhóis de todas as embarcações que transportem combustíveis destinados às forças armadas israelenses;

-  Negação de entrada no espaço aéreo espanhol a todas as aeronaves estatais que transportem material de defesa destinado a Israel;

-  Proibição de acesso ao território espanhol a todas as pessoas que participem diretamente do genocídio, da violação de direitos humanos e de crimes de guerra em Gaza;

-  Proibição de importação de produtos provenientes dos assentamentos ilegais em Gaza e na Cisjordânia, com o objetivo de combater essas ocupações, frear o deslocamento forçado da população civil palestina e manter viva a solução de dois Estados;

-  Limitação dos serviços consulares prestados a cidadãos espanhóis residentes nos assentamentos ilegais israelenses à assistência mínima legalmente obrigatória;

-  Reforço do apoio espanhol à Autoridade Palestina, aumentando os efetivos espanhóis na Missão de Assistência de Fronteira que a União Europeia mantém em Rafah e estabelecimento de novos projetos de colaboração com a Autoridade Palestina nos âmbitos da agricultura, da segurança alimentar e da assistência médica;

-  Ampliação da contribuição espanhola à Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Médio Oriente (UNRWA) em mais 10 milhões de euros, destinados ao auxílio da população de Gaza;

-  Aumento da verba de ajuda humanitária e cooperação para Gaza, atingindo 150 milhões de euros em 2026.

 

 

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