Linha Direta

Reino Unido propõe identidade digital para trabalho e reacende debate sobre imigração

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Para o primeiro-ministro Keir Starmer, a identidade digital, chamada de Brit Card, representa uma oportunidade para acessar serviços públicos e centralizar dados em um único sistema. O governo atual afirma que o Brit Card só será exigido para trabalhar legalmente no país. O documento será destinado apenas a britânicos e residentes legais.

O primeiro-ministro britânico Keir Starmer em Londres, no dia 15 de setembro
O primeiro-ministro britânico Keir Starmer em Londres, no dia 15 de setembro via REUTERS - Alberto Pezzali
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Yula Rocha, correspondente da RFI no Reino Unido

A controvérsia surgiu pela forma como a proposta foi apresentada. A exigência do documento para comprovar o direito ao trabalho reacendeu o debate sobre imigração, em meio à ascensão da extrema direita, liderada pelo partido populista Reform UK, de Nigel Farage.

A legenda tem apenas cinco cadeiras no Parlamento, mas lidera as pesquisas de opinião e tem a imigração como principal pauta de campanha.

O Reino Unido não exige um documento para comprovar identidade, e essa obrigatoriedade só existiu durante as duas guerras mundiais. O ex-premiê trabalhista Tony Blair tentou reintroduzir a medida nos anos 2000, sem sucesso.

Mais de meio milhão de migrantes cruzaram o Canal da Mancha da França para a Inglaterra desde que Starmer assumiu o poder, no ano passado. Apesar do número expressivo, os pedidos de asilo representam menos de 5% do total de imigrantes.

A maioria vive legalmente no país para estudar ou trabalhar, mas imagens de pessoas em botes infláveis e a hospedagem de migrantes em hotéis têm dominado o debate público.

Oposição à medida

O Reform UK considera que a proposta não terá impacto no controle migratório e a classificou como "anti-britânica". ONGs como a Liberty expressam preocupação com privacidade e liberdade civil, e alertam para o risco de o Reino Unido se tornar um Estado de vigilância constante.

Há também receio quanto à segurança dos dados, diante do aumento de ciberataques que podem expor informações de toda a população adulta.

A identidade digital funcionaria como um aplicativo no celular, com nome, foto, data de nascimento, nacionalidade e status migratório, elementos usados para comprovar o direito de viver e trabalhar no país. Estudantes e aposentados não precisariam do documento.

Brit Card seria utilizado para diversas finalidades, como candidatar-se a empregos ou acessar serviços públicos. A proposta não é inédita: todos os países da União Europeia têm algum tipo de identidade — física ou digital — há décadas. 

A medida ainda está longe de ser implementada e parlamentares e cidadãos podem opinar, inclusive por meio de petições. Após três meses de consulta pública, será incluída na pauta do Parlamento. Se aprovada, a implementação está prevista para 2029, no fim do atual mandato.

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